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Sinopse

Bad Blake é um famoso cantor e compositor de música country. Mas como beberrão inveterado e fumante contumaz, sua vida se resume aos pequenos shows baratos que realiza em cidades do interior para um público que ainda o reconhece. Apesar de seu agente insistir para que ele reate com seu antigo pupilo - e atual astro - Tommy Sweet, Blake não abre mão de suas convicções e recusa o "favor". Quando conhece Jean Craddock, jornalista novata por quem se apaixona, decide mergulhar de cabeça na relação, assumindo os riscos que esse amor pode trazer.

Crítica

Turnês lotadas, rios de dinheiro, mulheres bonitas a sua volta. Tudo isso está longe de ser a realidade do decadente músico de country Bad Blake (Jeff Bridges). Famoso no passado, mas amargando hoje o peso da velhice e do esquecimento, Blake segue fazendo shows minúsculos em espeluncas no interior dos Estados Unidos e enxugando toda a bebida que vê pela frente. Uma chance de mudança se abre quando ele conhece a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), com quem logo começa um romance. Com uma situação não resolvida com seu antigo parceiro e pupilo Tommy Sweet (Colin Farrell) – esse sim, bem sucedido e endinheirado, Blake terá de baixar sua crista e escrever novas canções para o rapaz, recebendo assim algum dinheiro para seguir na estrada. Em poucas palavras, isso é Coração Louco, longa-metragem dirigido pelo estreante Scott Cooper, vencedor de 2 Oscars em 2010 – Melhor Ator, para Bridges, e Melhor Canção Original, The Weary Kind, para T Bone Burnett e Ryan Bingham.

Jeff Bridges sempre teve uma queda pela música e sua performance como Bad Blake é excepcional em vários níveis. Ele consegue passar amargura e tédio ao chegar em mais uma espelunca para tocar suas músicas, transmite charme com as mulheres, mesmo que esse charme seja um tanto antiquado, é competente ao comunicar ao espectador em poucos gestos o seu desagrado em ter de sucumbir às ofertas de Tommy Sweet. E, finalmente, dá um show no palco com canções ótimas como Hold On YouSomebody Else e I Don’t Know. O roteiro, assinado pelo próprio diretor, baseado no livro de Thomas Cobb, ajuda na composição do personagem, que lá pelas tantas começa a mancar, em um paralelo com seu próprio momento de instabilidade na vida.

Apesar de todos os holofotes estarem voltados para Bridges e Maggie Gyllenhaal (também competente e indicada ao Oscar naquele ano), Colin Farrell quase rouba a cena. O ator aparece pouco, mas acerta em cheio o seu personagem. No momento em que ele aparece e conversa com Bad Blake, é possível saber tudo sobre ele em apenas dois segundos. A forma de não olhar para seu interlocutor, a humildade, o respeito com Blake, a vaidade. Tudo está ali, na tela, através da excelente performance do ator. Tanto Bridges quanto Farrell não são destaques apenas pela construção acertada dos personagens, mas por soltarem a voz de forma competente. Ambos cantam canções no filme, escritas por T. Bone Burnet e Ryan Bingham. The Weary Kind, a música tema do longa-metragem vencedora do Oscar, é belíssima.

Contando ainda com uma pequena participação do veterano Robert DuvallCoração Louco tem qualidades que fazem dele um pequeno grande filme. Filmado apenas em 24 dias, e com orçamento diminuto, o filme conquista pelas performances acertadas, pela força dos personagens e pela ótima música. É bem verdade que o primeiro ato do filme, mais musical, acaba sendo mais divertido que o segundo, mais reflexivo. Essa divisão, no entanto, não é sentida jamais pelo espectador, que se envolve de tamanha forma com a trajetória de Bad Blake que mantém o interesse tanto na parte musical quanto na dramática.

Não fosse o terceiro ato do filme, que resolve rápido demais alguns dos problemas apresentados até então na trama, Coração Louco seria mais intenso. Um pequeno senão em um belo filme, que termina de forma apropriada, agridoce, assim como todo o resto da trama. Mostrando a competência do diretor estreante Scott Cooper, Coração Louco é uma produção que deve ser vista e sentida. “Quanto mais dura é a vida, mais doce é a canção”, um tagline perfeito para um filme que quase chega à perfeição.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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