Crítica


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Sinopse

Um sujeito tem uma habilidade excepcional: ele dá vida a personagens literários. Acidentalmente, materializa um dos personagens mais perversos da literatura. A reversão do processo tem de acontecer logo, antes que seja tarde.

Crítica

Ao término de uma projeção de Coração de Tinta, é quase inevitável que o espectador não fique se indagando o que tornou o livro da escritora alemã Cornélia Funke tão popular, a ponto de ter sido traduzido para 37 idiomas diferentes! Sim, porque o filme está longe de ser tão envolvente e interessante assim. É uma história curiosa, no máximo, que parte de uma premissa inteligente, mas nada mais do que isso! E o trabalho apresentado pelo diretor inglês Iain Softley (Backbeat: Os 5 Rapazes de Liverpool, 1994) está longe de ter a magia e o encanto necessários para merecer o posto deixado vago pela ausência de um novo Harry Potter neste período de férias.

Idealizado para ser o primeiro de uma trilogia – são três livros, afinal – Coração de Tinta deverá ter um destino similar ao de outros filmes do gênero recentes, como A Bússola de OuroEragon (2006) ou mesmo As Crônicas de Nárnia (2005), que terminaram por frustrar as expectativas mais ambiciosas, interrompendo os trabalhos antes destas séries serem inteiramente transpostas para a tela grande. Isso, no entanto, ainda é difícil de afirmar, uma vez que o filme não estreou nos Estados Unidos – apesar de ter sido lançado no Brasil, na Alemanha e na Inglaterra em dezembro de 2008, no resto do mundo o lançamento só será em 2009, sendo que na América do Norte o filme entrará em cartaz apenas no final de janeiro! E sem os resultados das bilheterias no maior mercado cinematográfico do planeta, é incerto o futuro do projeto. Mas se levarmos em conta a opinião da crítica, o mais aconselhado é deixar tais pretensões de lado.

Aliás, qualquer longa estrelado por Brendan Fraser não deve ser levado muito a sério. O astro de Viagem ao Centro da Terra (2008) e da trilogia A Múmia não é um dos atores mais completos do mercado – muito pelo contrário – e sua presença costuma ser indicação de problemas no percurso. Mas como a própria autora afirmou que criou seu protagonista pensando no ator, como deixá-lo de fora? Assim lá o temos, mais uma vez, com aquela cara de panaca tão característica, mais uma vez interpretando (ou ao menos tentando) um pobre coitado em situações extraordinárias e fora do seu controle. Desta vez ele é um pai de família com um talento muito especial: tudo o que lê em voz alta é capaz de se virar realidade! Mas para cada personagem da fantasia que é trazido para o nosso universo, um ser humano é lavado para o dos livros! Esta moeda de duas caras lhe custou a esposa, ao mesmo tempo que trouxe para o mundo real o vilão Capricórnio (Andy Serkis, o Gollum de O Senhor dos Anéis), saído das páginas do livro Coração de Tinta. Assim, ele terá que contar com a ajuda do autor desta aventura (Jim Broadbent, visto há pouco em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal2008), de uma tia-avó excêntrica (Helen Mirren, de A Rainha, 2006), de um outro ser mágico (Paul Bettany, de O Código Da Vinci2006) e da filha pequena.

É curioso notar, diante de um elenco tão estrelado (há ainda uma pequena participação da bela Jennifer Connely, atual sra. Bettany, e igualmente vencedora do Oscar, assim como Broadbent e Mirren), como nomes de tamanho destaque foram se envolver em algo tão mediano. É claro que as ambições deviam ser altas, mas o próprio tema “universo fantástico” parece já estar dando sinas de cansaço, e a não ser que se dirija a um público bastante específico, como o adolescente (vide o recente, e bem sucedido, Crepúsculo), é quase certo que não irá funcionar. A fantasia é incrível e disposta a vários caminhos, mas se estes não forem minimamente convincentes e tratados com seriedade e respeito será difícil envolver qualquer tipo de público nesta jornada. E Coração de Tinta é um bom exemplo disso. O potencial apresentado é imenso, e poderia ter sido várias coisas diferentes, mas com personagens sem um rumo fortemente direcionado, funções definidas, efeitos especiais melhor aproveitados e dotado de uma trama que definitivamente não emociona, a única conclusão possível que se chega é a da lamentação.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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