Coração de Lutador: The Smashing Machine

Crítica


7

Leitores


2 votos 6

Onde Assistir

Sinopse

Coração de Lutador: The Smashing Machine conta a história real de Mark Kerr, um dos pioneiros do MMA, que aqui é retratada em uma jornada intensa marcada por vitórias, dores e batalhas internas. Ele enfrenta os altos e baixos da fama enquanto lida com dependência e questões emocionais. Esporte/Drama.

Crítica

Aos 53 anos, Dwayne “The Rock” Johnson pode dizer que já viveu muitas vidas. Jogou futebol americano, foi ícone do WWE, tornou-se sinônimo de blockbuster e ainda ostenta um dos físicos mais conhecidos do planeta. O que mais poderia desejar? A resposta, o próprio astro conhece bem: prestígio como intérprete dentro da indústria que tanto idolatra. Com Coração de Lutador: The Smashing Machine, ele inicia jornada em busca justamente disso – o reconhecimento artístico que ainda lhe escapa. E, para tanto, conta com diretor talentoso, uma história genuinamente comovente e, acima de tudo, com o coração aberto.

20251008 coracao de lutador the smashing machine papo de cinema 750 1

Aqui, o herói de ação deixa que sua musculatura abrigue a fragilidade de Mark Kerr, um dos pioneiros do MMA, quando o esporte ainda era território fragmentado, brutal e pouco regulamentado. Kerr dominou o circuito entre 1996 e 2000, transformando adversários em meros figurantes diante de sua força quase mitológica – o que lhe rendeu o apelido Smashing Machine, título também do documentário lançado em 2002 que revisita sua trajetória. Mas o que o diferenciava de outras lendas? A resposta está na contradição: por trás do colosso invencível existia um homem dócil, quase infantil, que sucumbiu à dor física e emocional, tornando-se dependente de analgésicos potentes. Um gigante que, à medida que destruía seus oponentes, se despedaçava por dentro.

Johnson está em boas mãos. Nas lentes de Benny Safdie, o ator encontra a direção ideal para transitar entre o ídolo e o ser humano. Ao lado do irmão Josh, Safdie dirigiu Bom Comportamento (2017) e o notável Joias Brutas (2019), que quase levou, vejam só, Adam Sandler ao Oscar em 2020. Sua marca é evidente: câmera trêmula, closes invasivos e olhar quase documental sobre emoções em colapso. E desta vez, mais do que nunca, essa estética serve perfeitamente à exposição de Kerr, um sujeito visto por dentro, em ruína, mas ainda disposto a lutar. Dwayne Johnson, por sua vez, entrega o que raramente mostrou em sua carreira: vulnerabilidade. Há sinceridade em cada gesto e em cada olhar que tenta esconder o medo sob a força bruta.

Esse tipo de cinema, que Safdie domina, é o terreno certo para narrativa que poderia facilmente descambar para o sensacionalismo. A direção investigativa, às vezes propositalmente intrusiva, mantém a tensão em equilíbrio e impede que o drama ultrapasse o limite do melodrama. A luta de Kerr contra o vício é resolvida com ritmo contido, quase silencioso, sem catarses fáceis. O foco está em conviver com os gatilhos – um tema que ecoa fortemente na cultura pop contemporânea. Nesse contexto, os personagens ao redor de Kerr ganham peso: Dawn Staples (Emily Blunt), a namorada que se vê dilacerada ao testemunhar a autodestruição do parceiro, e Mark Coleman (Ryan Bader), o melhor amigo e colega de ringue, que assume o papel mais difícil de todos: o de permanecer ao lado quando a queda parece inevitável. Ambos funcionam como espelhos das diferentes formas de amor e lealdade.

20251008 coracao de lutador the smashing machine papo de cinema 750 3

Há, sim, alguns ruídos no percurso. Coração de Lutador: The Smashing Machine flerta com o patriotismo de maneira um tanto deslocada, algo que soa artificial em esporte tão internacionalizado quanto o MMA. Além disso, o desfecho recorre a soluções um pouco forçadas, talvez por não confiar inteiramente na entrega de Johnson para sustentar o encerramento com a intensidade necessária. Ainda assim, a experiência vale – e muito. Ver Dwayne “The Rock” Johnson em drama de mais de duas horas, abrindo-se emocionalmente como nunca, é testemunhar um ator disposto a sair da zona de conforto – e se o Oscar não vier agora, ele pelo menos encontrou o caminho para merecê-lo, assimilando que a coragem também é saber se deixar derrubar. 

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
avatar

Últimos artigos deVictor Hugo Furtado (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *