Crítica


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Sinopse

Uma dupla inusitada, formada por um jovem e um homem mais velho, investigam acontecimentos estranhos que acometem a terra mágica em que ambos vivem.

Crítica

Antes de qualquer impressão indevida, é necessário advertir que a animação Contos de Terramar, apesar de ser uma produção do icônico Studio Ghibli, não tem a assinatura do mestre Hayao Miyazaki em sua realização. O autor japonês de tantos clássicos, interessado por muitos anos na adaptação da antologia de histórias publicadas pela escritora norte-americana Ursula K. Le Guin, estava ocupado com a realização de O Castelo Animado (2004) quando a própria autora lhe ofereceu os direitos de seus livros. Contra a recomendação de Miyazaki, o filme acabou nas mãos de seu filho, o então pouco experiente Gorô Miyazaki, que, com muito a provar e uma grande expectativa a suprir, acabou por conquistar uma recepção mista entre tantas frentes para seu trabalho de estreia.

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O longa-metragem acompanha as aventuras de Arren, um príncipe jovem e problemático que, tomado por forças inexplicáveis, assassina seu próprio pai na sequência de abertura do filme. Com a espada mágica do pai, ele foge e é resgatado no campo por um feiticeiro que se torna seu mentor na busca por uma maneira de restaurar o equilíbrio no reino em que vivem.

Sem o humor e a leveza característicos dos melhores filmes do Ghibli, adornado com uma insistente mensagem sobre o equilíbrio necessário do planeta e outras virtudes aqui banalizadas, Contos de Terramar exagera em cerimônia e tempo de duração para narrar uma alegoria sobre a arrogância humana, e, enquanto critica veladamente ameaças ambientais como o aquecimento global e a poluição, se perde num tom monocórdico e frio, essencialmente formal. Assim, elementos que fizeram de Princesa Mononoke (1997) uma obra-prima instantânea – incluindo a violência surpreendente para um filme que se supõe de apelo infantil – não atingem aqui qualquer profundidade emocional.

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Contos de Terramar inicia com um ritmo intenso. São apresentados dragões, feiticeiros, guerreiros e outros arquétipos fantasiosos do universo mítico que a animação retrata. Os elementos da narrativa são centrados principalmente no terceiro livro da tetralogia de Ursula K. Le Guin, porém a adaptação vai além e retrata muitas outras passagens, cenários e personagens dos demais livros da série, infelizmente acumulando pontas soltas. Eis o principal problema do filme, que chega a empolgar em algumas sequências de aventura e misticismo, porém nunca parece concluir aspectos centrais de sua história – algo que desagradou inclusive a autora, confessamente decepcionada com o resultado final da produção.

Animado tradicionalmente a muitas mãos, o filme apresenta uma paleta de cores aquareladas interessante e agradável aos olhos, mas sem muita profundidade e movimentos dignos das demais animações da família Ghibli. Gorô Miyazaki também falha na composição de seus protagonistas, que à exceção do vilão feiticeiro Cob, parecem todos fadados a tipos genéricos e pouco expressivos. Tais problemas seriam mais tarde superados pelo realizador em Da Colina Kokuriko (2011), seu melancólico e mais recente trabalho.

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Numa concepção narrativa que supera acidentalmente a visão maniqueísta do bem contra o mal, Contos de Terramar se encerra como uma fábula sobre a superação do lado sombrio de cada um, assim como da aceitação da mortalidade e das limitações humanas em uma época na qual onipotência e eternidade são vendidas ilusoriamente pela tecnologia pós-moderna. Ainda que trate de uma mensagem intrigante e madura, a maneira com que ela é transmitida carece de maior profundidade e permanência.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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CríticoNota
Conrado Heoli
5
Chico Fireman
6
MÉDIA
5.5

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