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Sinopse

Sinais começam a anunciar que em breve a Terra receberá a visita de seres extraterrestres. Pai de família, Roy é uma das pessoas que recebem tais avisos, tornando-se obcecado pela ideia de contatar esses seres desconhecidos.

Crítica

Aviões desaparecidos na Segunda Guerra Mundial ressurgem intactos no deserto mexicano, como se o tempo não os tivesse influenciado. De maneira tão insólita quanto, um navio da marinha está inexplicavelmente encalhado nas areias ermas e escaldantes da Mongólia. Os fenômenos são analisados por equipes do governo norte-americano e também pelo exército. O cientista francês Claude Lacombe (François Truffaut) está à frente das investigações dessas ocorrências extraordinárias. Paralelo a isso, numa pequena cidade no interior dos Estados Unidos, o garoto Barry (Cary Guffey) é acordado pelos brinquedos que passam a funcionar sozinhos, posteriormente seguindo luzes estranhas que cortam o breu da madrugada. Contatos Imediatos do Terceiro Grau não leva mais que vinte minutos para estabelecer-se plenamente como uma narrativa alimentada e extasiada pelo mistério, algo que seu diretor Steven Spielberg constrói com muita inteligência, nos enredando e garantindo nossa curiosidade.

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Os eventos estranhos prosseguem, agora atingindo outras pessoas, como Roy Neary (Richard Dreyfuss), que mantém contato visual com um objeto voador não identificado, chegando a testemunhar uma perseguição policial às aeronaves de origem ignorada. Spielberg, em muito auxiliado pela trilha sonora de John Williams, dá conta de criar essa atmosfera de apreensão constante e crescente, mas, sobretudo, de mesclar fascínio e medo no que se refere à possível existência de seres extraterrestres. Neary se torna obcecado pelo desconhecido, inclusive tomando atitudes aparentemente despropositadas, como reproduzir na cozinha de casa, sob os protestos da esposa, a imagem de uma montanha que não sai de sua cabeça desde o encontro com os OVNI. Lacombe, por sua vez, tem ambição científica, quer avançar no diálogo com os alienígenas. Em Contatos Imediatos do Terceiro Grau as pessoas passam a gravitar inevitavelmente em torno desse interesse pelo que vem do espaço.

Durante quase todo filme, os extraterrestres são sugeridos somente por seus veículos, ou seja, as naves espaciais, detalhadas na medida em que a trama avança. Não vemos rostos ou ao menos silhuetas que mostrem como são essas criaturas que visitam a Terra sabe-se lá com que propósito. A estratégia de Spielberg – semelhante à utilizada em Tubarão (1975) - é muito eficiente, justo porque com ela nos aproxima da sensação de ignorância experimentada pelos personagens e, ao mesmo tempo, potencializa a força da cena em que finalmente nos deparamos com os extraterrestres. A sequência da comunicação tonal é o ápice desse deslumbramento pelo enigma que Spielberg faz questão de ressaltar. O clima de aventura, determinante em alguns filmes do diretor, está presente, principalmente por meio da trajetória arriscada de Neary e Gillian (Melinda Dillon), mãe do menino abduzido que acompanha o eletricista rumo ao monte recorrente no pensamento de tantos.

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Embora haja um plano do governo norte-americano para encobrir o iminente contato efetivo com os extraterrestres, Spielberg não se atém demasiado em qualquer viés crítico que diga respeito a esse comportamento. Contatos Imediatos do Terceiro Grau é calcado nas sensações e emoções das figuras encabeçadas por Neary e sua curiosidade que não encontra barreiras. Ele só quer saber, não se contentando com as respostas automáticas de quem tampouco está certo de como encarar a novidade. Há algo de infantil (no bom sentido) na persistência desse homem que rema até mesmo contra a desconfiança da família para atingir a verdade, característica vista em outros protagonistas de Spielberg. É como se o diretor afirmasse ser necessário conservar algo da inconsequência própria dos tempos de criança para seguir adiante na investigação e, quiçá, chegar à compreensão dos mistérios que cercam não apenas a existência, mas também aquilo que nem sonhamos existir concretamente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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