Crítica


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Sinopse

Um vírus se espalha rapidamente a partir dos Estados Unidos ao ponto de configurar uma pandemia. Toda a comunidade médica está em busca de uma cura para essa doença com alta taxa de letalidade.

Crítica

O que primeiro chama atenção é o elenco impressionante! Só entre os protagonistas temos quatro vencedores do Oscar – Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Marion Cottilard e Kate Winslet – e mais quatro indicados – Jude Law, Laurence Fishburne, John Hawkes e Elliot Gould! Depois vem quem está no comando, Steven Soderbergh, ele próprio vencedor do prêmio máximo do cinema mundial por Traffic (2000) e responsável por campeões de bilheteria como a trilogia Onze Homens e um Segredo (2001, 2004 e 2007). Pois é no espírito destes seus filmes mais populares em que se baseia o novo Contágio. Porém o tom adotado aqui é mais sério e tenso. Estamos diante de uma epidemia global, dinâmica e mortal. E o que vemos é o máximo de realismo e didatismo. Pela boa aceitação que o filme teve nos Estados Unidos, onde estreou em primeiro lugar nas bilheterias, pode-se imaginar que estas foram escolhas acertadas.

Contágio começa com a personagem de Gwyneth Paltrow voltando aos Estados Unidos após uma reunião de trabalho em Hong Kong. O primeiro som que ouvimos, antes de qualquer imagem aparecer na tela, é o de uma tosse. Sim, ela está infectada, e o que imaginava ser apenas uma gripe tira sua vida no dia seguinte. Desesperado, o marido – vivido por Matt Damon – logo vê o filho menor do casal ter o mesmo fim. Essa é somente a ponta do iceberg, que irá motivar representantes do governo, cientistas, estudiosos, pesquisadores e até um blogueiro (Jude Law), que coloca na internet todas as suas preocupações sobre essa nova doença e o que realmente estaria sendo feito para evitá-la.

Há muitos pontos de vista interessantes em Contágio, e é fácil nos atermos a um deles e, por isso, acabarmos nos perdendo na condução dos demais. Com tanto em cena ao mesmo tempo, é preciso muita atenção para não se confundir com pormenores que insistem em dominar a maioria dos diálogos – que, para a grande maioria dos espectadores, não farão muito sentido. Mesmo assim é possível sentir o clima geral dos acontecimentos, pois tudo constantemente nos remete a um dos sentidos mais básicos: o medo da morte. E diante de um fim quase inevitável, o olhar de Soderberg é bastante pessimista, principalmente em relação à espécie humana. O que vemos são animais em pleno combate pela sobrevivência, em situações de descontrole em que as primeiras coisas a serem esquecidas são a ética, o respeito ao próximo, a moral e os bons costumes. Verdadeiros animais em um jogo em que a lei da selva é que fala mais alto.

Outro debate curioso é o que se desenvolve sobre o personagem de Law. Misto de jornalista e desocupado, é o ponto dissonante nesta história. Ao mesmo tempo em que todos parecem preocupados com a busca por uma solução, ele está mais interessado em apontar culpados e fazer denúncias vazias e, na maioria das vezes, improváveis. Em certo ponto uma das vítimas cai agonizando em pleno corredor de ônibus, e os demais passageiros, ao invés de ajudá-la, sacam seus celulares para fotografá-la. Se num primeiro instante essa cena espanta, em seguida motiva uma reflexão: o que faríamos na mesma situação? E esta parece ser uma das principais preocupações do diretor, que questiona o verdadeiro papel da mídia em grandes eventos, com seu poder mobilizador e o fato de ser cada vez mais irresponsável com o que divulga.

Muito bem conduzido e com um elenco completamente entregue, Contágio consegue superar a mera curiosidade provocada pelos elementos que reúne e se torna uma soma maior que suas partes. É um thriller envolvente, e ainda que não apresente grandes novidades ou resoluções revolucionárias, ao menos entretém com competência, ao mesmo tempo em que provoca e estimula o questionamento. É para as massas, mas não chega a ser dispensável, pois seu alerta é real e imediato. E se o que vemos na ficção tem os dois pés calcados na realidade, o melhor é estarmos atentos ao que diz para evitarmos um futuro semelhante.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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