Confinado

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Sinopse

Em Confinado, Eddie, um jovem ladrão, decide roubar um SUV de luxo, certo de que encontrou a vítima ideal. No entanto, ele acaba caindo em uma emboscada perigosa. O automóvel pertence a William, um justiceiro autodenominado que aplica sua própria versão da justiça. Dentro desse carro, que se revela uma cela móvel. Crime/Violência.

Crítica

Em um cenário no qual cada vez mais a máxima que afirma que “nada se cria e tudo se copia” parece ser lei, poucas vezes o seu uso foi tão apropriado quanto no que se vê em Confinado, longa esse desprovido de originalidade ou de um mínimo de espírito criativo. A ponto de tornar difícil até mesmo compreender o que levariam nomes como Bill Skarsgard e, principalmente, Anthony Hopkins, a se envolverem com tamanha perda de tempo. E nem é tanto por se tratar de um evidente remake, mas pela absoluta ausência de motivação ou mesmo foco nessa nova abordagem, contentando-se em se apresentar como algo não mais do que genérico. Tanto os talentos agora envolvidos, como as obras anteriores baseadas na mesma premissa, mereciam mais.

A proposta deveria ter sido viabilizar um debate sobre ética, entre certo e errado, entre os limites do agir social e as necessidades dos desesperados. De um lado está Eddie (Skarsgard, que começa bem, mas acaba refém de uma estrutura que pouco tem a lhe oferecer), um malandro de ocasião que até se esforça em levar uma vida honesta, mas não tem tido muita sorte nesse intento. A van que usa para um serviço de entregas estragou, e não tem o dinheiro suficiente para mandar para o conserto. O valor do aluguel já foi comprometido, e nem buscar a filha no colégio ele tem conseguido. Diante desse cenário no qual tudo tem dado errado, um roubo rápido parece ser a sua única saída. Ele analisa cada oportunidade que lhe surge no caminho, até se deparar com um carro de luxo com a porta aberta. Entrar e limpar o interior do veículo parece ser um jogo rápido. Mas uma vez lá dentro, como sair?

20250522 confinado filme papo de cinema

O que não imaginava é que teria caído numa armadilha preparada por William (Hopkins, que ao menos parece ter se divertido), um médico bem sucedido e com pouco a perder nos dias que lhe restam. Diagnosticado com um câncer agressivo, decide se vingar do mundo, para isso partindo contra aqueles que representam o mal que por anos dentro dele se acumulou. Os bandidos que os assaltaram, resultando na morte da filha. As tantas vezes que seu carro foi invadido, arrombado, depredado. A polícia ineficiente, o sistema que nada pode lhe dar como retorno. Portanto, decide agir por conta própria. E agora tem em Eddie a representação de toda essa insatisfação. Ele afirma estar atrás de justiça, mas essa pouco tem a ver com o que acontece entre os dois.

Eddie está errado. Mas William também. Os dois agem além do razoável. Ao espectador, resta apenas a ingrata tarefa de, na incapacidade de escolher um lado ou outro, se resignar com a frustração. O discurso levado adiante pelo diretor David Yarovesky – do interessante Brightburn: Filho das Trevas (2019) – não encontra base, perdendo-se entre excessos sádicos de um e uma tortura (tanto física quanto psicológica) enfrentada pelo outro. Em um mundo cada vez mais desigual, uma demonstração de barbárie como essa não encontra lugar como escapismo barato, e menos ainda como reflexo sócio-econômico. O brasileiro A Jaula (2022) se saiu melhor ao transpor o argentino 4×4 (2019) para o contexto local. Já essa versão norte-americana merece nada mais do que um rápido esquecimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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