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Sinopse

Diagnosticado com AIDS em 1986, numa das épocas mais alarmantes da doença, o eletricista Ron Woodroof se recusa a aceitar o prognóstico terminal e procura tratamentos alternativos, passando a contrabandeá-los do México.

Crítica

Em um de seus trabalhos mais recentes, Matthew McConaughey emprestou mais corpo que conteúdo para um stripper coincidentemente chamado Dallas, no filme Magic Mike (2012). Um ano depois e com 22 quilos a menos, o ator reitera todas suas qualidades dramáticas muitas vezes subestimadas ao retratar uma vítima real da AIDS nos anos 1980 em Clube de Compras Dallas. Com prováveis dois terços de sua massa corporal normal, McConaughey se torna o dobro do ator que jamais foi nesta que é a melhor interpretação de sua carreira.

Ao lado de Jared Leto, que perdeu 18 quilos para o papel do simpático transgênero Rayon, McConaughey leva em seus franzinos ombros o irregular filme do canadense Jean-Marc Vallée, mais conhecido e melhor sucedido em C.R.A.Z.Y.: Loucos de Amor (2005). Mais do que um filme sobre a perda de peso de atores ou suas insanidades em busca de prêmios e bons papéis, Clube de Compras Dallas reconstrói a dramática trajetória de Ron Woodroof, texano homofóbico e cocainômano que transformou sua vida – e a de inúmeras outras pessoas – quando diagnosticado com HIV.

Acompanhamos Woodroof a partir de 1985, quando personalidades como o ator Rock Hudson morriam de doenças relacionadas à AIDS e o governo norte-americano liberava o uso do antiviral AZT em caráter experimental. Sem qualquer conhecimento da doença, mas já muito ciente de seus sintomas, Woodroof travou uma batalha contra a FDA, órgão governamental dos Estados Unidos para o controle de drogas e alimentos, ao importar e revender medicamentos proibidos para pessoas na mesma situação que ele.

Como em Filadélfia (1993), Clube de Compras Dallas retrata uma história extraordinária em meio a tantas relacionadas aos dilemas do HIV e sua relação com a homossexualidade e a homofobia. O bom roteiro de Craig Borten e Melisa Wallack não é dedicado a engrandecer a figura de Woodroof, mas sim seus feitos em prol da evolução farmacêutica para os tratamentos com coquetéis a pacientes soropositivos. Todas as facetas autodestrutivas e narcisistas do personagem são muito bem apresentadas no filme e por McConaughey, porém suas escolhas o guiam por caminhos mais amenos e até redentores, seja nas recompensas pelo serviço que prestava ou na relação que desenvolveu com Rayon e com a médica Eve – interpretada pela monocórdica Jennifer Garner.

Histórias reais de cidadãos comuns que transformam não apenas suas pequenas realidades, mas a de todo um grupo de pessoas, são recorrentes no cinema estadunidense e já renderam premiados filmes como o supracitado Filadélfia, Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (2000), Patch Adams: O Amor é Contagioso (1998), Um Sonho Possível (2009), entre tantos outros. Outro ponto de ligação entre esses filmes, além de suas mensagens edificantes, está nos complexos personagens que retratam e em seus interpretes, recorrentemente maiores que as próprias obras. Clube de Compras de Dallas é mais um título neste subgênero, ainda que seja um exemplar bem realizado e até memorável.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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