Crítica


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Sinopse

A partir do fato histórico da vinda da família Real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, propõe uma arqueologia às avessas ao questionar o mito da Cidade Maravilhosa. Todos os olhares através da irreverência do carioca.

Crítica

Em 2007, o prefeito do Rio de Janeiro decretou que os projetos culturais que fossem patrocinados pelo município naquele ano teriam que, obrigatoriamente, tratar de um tema apenas: a vinda da Família Real Portuguesa ao Brasil, fato que completava 200 anos. Pode parecer (e é) uma ideia estapafúrdia. Onde já se viu monopolizar a temática da produção cultural de uma cidade inteira durante um ano e com uma ideia tão anacrônica? Por sorte, nossos artistas brasileiros têm não apenas inteligência e talento para o ofício, mas também certa malemolência. Assim se explica a realização de Cidade Invisível, que coloca o tema proposto em perspectiva, o tangenciando e dando-lhe um verniz diferente.

Quem melhor para falar da Cidade Maravilhosa do que os seus habitantes? Com essa ideia em mente, o diretor Terêncio Porto e sua equipe foram ao Rio de Janeiro e buscaram figuras que pudessem construir um mosaico interessante e diverso de personagens. Temos desde as pessoas mais humildes aos membros da alta sociedade; dos trabalhadores mais esforçados às figuras que prezam pelo “gingado” carioca; dos locais de beleza natural ímpar aos pontos mais poluídos; dos casarões em pedaços aos oásis do futuro; do morador nascido e criado ao português que fez casa no Rio. Todos eles ganham voz no documentário.

São 12 pessoas de vivências, atitudes e áreas diversas. Porto é hábil em manter a narrativa rápida e pular de personagem em personagem com agilidade. O filme nunca cansa dessa forma, com o espectador conhecendo uma figura nova a cada momento. Por ter conseguido uma gama complexa de figuras, Cidade Invisível também não fica repetitivo. Os personagens que surgem sempre trazem algo inédito, evitando que a produção ande em círculos – um risco quando o tema é fechado. A ideia de desconstruir a imagem da Cidade Maravilhosa, ou ao menos colocá-la em perspectiva, é realizada de forma competente, embora a narrativa não saia do padrão. Temos as usuais “cabeças falantes”, que se não são novidade, ao menos dão conta do recado.

Algo interessante de se notar nos relatos é a franqueza dos depoentes a respeito dos problemas do Rio de Janeiro, mas também o carinho que todos dispensam à cidade. Existe falta de segurança, desigualdade social, poluição e tantos outros revezes das grandes metrópoles. Mas muito disso é perdoado pelas belezas naturais ou apenas pela satisfação de fazer parte daquela cidade. Os habitantes nunca fecham os olhos para os problemas, mas também não estão preparados para deixar aquele local para trás. Cidade Invisível certamente não foi realizado para ser um cartão postal, longe disso, mas por trazer muito coração em seus depoimentos, mostra um lado verdadeiro que só os cariocas poderiam dividir com o resto das pessoas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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