Chefes de Estado

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Sinopse

Em Chefes de Estado, o primeiro-ministro do Reino Unido, Sam Clarke, e o presidente dos EUA, Will Derringer, têm uma rivalidade pública que coloca em risco o “relacionamento especial” de seus países. Mas quando eles se tornam alvos de um adversário estrangeiro poderoso e implacável, eles são forçados, a contragosto, a contar um com o outro. Ação/Thriller.

Crítica

Há espécie de cartilha não escrita sendo seguida pelas grandes produções lançadas diretamente no streaming. Quando se reúnem astros internacionais, locações vistosas e campanhas promocionais milionárias – daquelas que fazem inveja à estreias do circuito tradicional – parece haver exigência tácita de que tudo agrade a todos. Para quem imaginava que o vod seguiria os passos da primeira fase da HBO, quando a ousadia criativa ditava as regras, o que se vê hoje é novo tipo de blockbuster doméstico. Chefes de Estado, dirigido por Ilya Naishuller, surge nesse cenário híbrido: uma aposta que se veste de comédia, brinca com a política internacional, esbanja ação e, ao fim, parece confortável em sua indefinição.

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Na trama, Idris Elba e John Cena interpretam figuras centrais da geopolítica mundial: Sam Clarke, primeiro-ministro britânico, e Will Derringer, presidente dos Estados Unidos. Após escaparem por pouco de atentado arquitetado por um oligarca russo – pois é claro que precisaria ser russo – os dois acabam isolados em região remota do leste europeu e precisam atravessar o território em busca de segurança. A missão, por si só improvável, se complica ainda mais pela rivalidade latente entre os líderes, que não escondem a antipatia mútua. O embate de egos e culturas torna-se obstáculo.

Apesar do absurdo embutido na premissa, é possível encontrar empatia no percurso da dupla. Idris Elba, versátil e premiado, foge com naturalidade do estereótipo do galã de ação. John Cena, por sua vez, mantém-se fiel à persona que mistura força física e humor desajeitado, o que funciona bem entre os que já compraram seu estilo. Quando os dois dividem a cena, há ritmo: os confrontos físicos, os diálogos recheados de provocações e os choques culturais entre Reino Unido e EUA criam momentos que realmente divertem. Se o longa optasse por concentrar sua energia nesses embates, talvez entregasse algo mais coeso e memorável.

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Mas há interesses a serem satisfeitos, e a sensação é de que Chefes de Estado é pressionado por duas frentes, como sanduíche mal montado, cujos recheios se perdem entre fatias que não se complementam. A primeira dessas pressões é o gigantismo: transformar a jornada de dois líderes globais em algo ainda mais espetacular, com olhos do mundo voltados para a missão – soa forçado. Há, inclusive, participação quase institucional da OTAN que, em vários momentos, parece mais peça promocional do que elemento narrativo. A tentativa de equilibrar tom político e humor despretensioso se desfaz diante dessa megalomania.

A segunda camada da compressão vem com o desejo de valorizar elenco coadjuvante que, embora competente, está deslocado. Priyanka Chopra, Sarah Niles (a Dra. Sharon Fieldstone, terapeuta de Ted Lasso), Paddy Considine, Carla Gugino e Jack Quaid surgem como engrenagens suplementares em estrutura já abarrotada. E, como era de se esperar, os que mais se destacam são justamente os que orbitam diretamente os protagonistas: Priyanka e Quaid funcionam melhor por atuarem como extensões das melhores sequências entre Elba e Cena. O destaque inesperado, aliás, vai para Quaid, que, após série de personagens repetitivos, entrega aqui sua contribuição mais eficaz no cinema até agora, mostrando-se alívio cômico funcional e preciso.

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Chefes de Estado tropeça na indecisão. Não sabe se quer ser sátira política, buddy movie ou espetáculo de ação, e termina como um pouco de tudo e muito de nada. Naishuller, responsável pelo mais enxuto e eficiente Anônimo (2021), parece não encontrar o mesmo pulso firme aqui, tentando abraçar diversas frentes e escorregando justamente por não saber onde fincar os pés. E, como sugerido lá no início, talvez seja esse o retrato mais claro do atual modelo de superproduções pensadas para as plataformas: grandiosas, globais e, no fundo, um tanto perdidas no que desejam ser.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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