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Policiais militares, familiares e, principalmente, presos falam sobre o cotidiano da cadeia, descrevendo graves problemas como a superlotação. Conta a história do Presídio Central de Porto Alegre e do surgimento da organização criminosa que abalou as estruturas da sociedade gaúcha.

Crítica

Central  é um dos mais terríveis, incômodos e urgentes exemplares do cinema nacional recente – e estas são apenas três de suas diversas qualidades. Realizado brilhantemente por Tatiana Sages e Renato Dornelles, baseado em livro escrito pelo segundo, intitulado Falange Gaúcha, o documentário oferece um panorama contundente da precariedade do sistema carcerário brasileiro, mais especificamente daquele que já foi apontado como o pior presídio da América Latina.

Localizado no coração de Porto Alegre, o Presídio Central foi desenvolvido para abrigar 1.824 apenados, porém atualmente mantém mais de 4.500. Para suportar tal superlotação, destruíram-se as celas e hoje o espaço é dividido em galerias, nas quais se ocupa cada centímetro quadrado disponível entre salas diminutas, beliches improvisados e corredores. Essas galerias, compostas por presidiários acusados de crimes similares, abrigam facções que fomentam o comércio interno de drogas, celulares e armas, e ainda chefiam o funcionamento do tráfico e da prostituição na área externa ao presídio.

As estatísticas apresentadas por Central são impressionantes e reiteram a definição de um de seus depoentes, que aponta o local como uma ilha de exclusão. A infraestrutura do complexo, além de diminuta para sua população, é suja e decadente, com esgoto a céu aberto e infestação de insetos. Das mortes que ocorrem no local, 89% são causadas por problemas de saúde – adquiridos ali, na maioria das vezes – e as demais são fruto de suicídio e homicídio. Com a necessidade mínima de nove equipes médicas em plena operação, hoje o Presídio Central conta apenas com duas destas, numa dinâmica que ainda é carente de água e alimentos. Seus apenados são 67% jovens de até 25 anos, 68% analfabetos e 33% negros, mesmo que no Rio Grande do Sul estes representem apenas 13% da população. Há uma unanimidade, no entanto: todos eles são pobres.

Para compor esta narrativa de desumanidade e verdade, Sages e Dornelles caminham pelo território tradicional das entrevistas com personagens interessantes, porém as entrecortam por sequências inéditas realizadas no interior do presídio. Na dinâmica de Domésticas (2012) e de Pacific (2009), nos quais o objeto da obra é o responsável pelo registro da mesma, os próprios detentos filmam seu cotidiano encarcerado nessas masmorras contemporâneas. Entre abusos de drogas, festas, violência de todos os tipos e condições extremas, eles evidenciam e relatam o que ocorre a cada dia no presídio administrado pela polícia militar que é conivente e omissa com essa realidade.

As ideias de que a corrupção favorece o preso e que o meio funciona como universidade do crime estão exemplificadas em Central, ainda que sua abordagem seja evidentemente parcial – mas há alguma justificativa plausível para nos atestar o contrário? O governo já decidiu desativar o presídio, porém a demolição foi suspensa, já que a transferência dos detentos não seria possível. Enquanto nada acontece para alterar esse microcosmo social do horror e medo, denúncias como a deste documentário são pertinentes e corajosas. Mais do que isso: são indispensáveis.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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Conrado Heoli
8
Bianca Zasso
8
MÉDIA
8

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