
C.I.C.: Central de Inteligência Cearense
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C.I.C.: Central de Inteligência Cearense
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2025
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Em C.I.C.: Central de Inteligência Cearense, Wanderley é um homem comum. Mas esconde um segredo: quando solicitado, se torna o Agente Karkará, oficial secreto brasileiro que combate os criminosos mais perigosos do mundo representando um serviço sigiloso direto do estado do Ceará. Ação/Comédia.
Crítica
A dupla Halder Gomes e Edmilson Filho já é praticamente uma instituição do cinema brasileiro – e do nordestino, e mais ainda, daquele feito no Ceará! Diretor e protagonista são tão unidos quanto Martin Scorsese e Robert De Niro, Federico Fellini e Marcello Mastroianni, Tim Burton e Johnny Depp já foram… com a diferença que seguem trabalhando juntos. E estão à frente desse C.I.C.: Central de Inteligência Cearense, nada menos do que o quinto longa dos dois. Porém, se Cine Holliúdy (2012) foi um sucesso inesperado – e só por isso ganhou uma continuação, Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral (2018) – esse de agora é o primeiro a se apresentar mais como franquia do que qualquer coisa. Pois veja o título: não adianta nada sobre a trama, apontando apenas para a instituição a qual o personagem principal pertence. É um Missão: Impossível verde e amarelo, uma CIA com sotaque arretado, um agente secreto a serviço não da majestade, mas do presidente. O que importa, portanto, é menos a história em si, mas a introdução de uma figura que tem tudo para ganhar outras aventuras similares num futuro não muito distante. A depender, é claro, apenas da aceitação do público.
Karcará (Filho, atuando com gosto em terreno que domina como poucos hoje em dia) é um espião prestes a entrar em férias. Está em sua última missão – a sequência de abertura surpreende tanto pela engenhosidade, como pelo humor escancarado que ostenta – antes do descanso, e conta os minutos pela folga. Assim como é de praxe no gênero, essa ambição lhe será frustrada. De início, portanto, Gomes deixa claro não estar disposto a reinventar a roda. A intenção dos realizadores é percorrer os mesmos caminhos há muito trilhados por seus colegas hollywoodianos, porém deixando impressas as suas pegadas pelo trajeto. Não se trata de propor originalidade, mas em como o mesmo que tanto encanta plateias mundo afora também pode ser recriado por aqui, sem demérito ou diminuição de entretenimento. Os que insistirem nas diferenças assim o fazem por meios óbvios – apontando as distâncias entre um orçamento e outro, por exemplo, como se custo de produção pudesse ser medido apenas pela quantidade de explosões em cena – ao mesmo tempo em que se mantém cego frente aos acertos inegáveis que essa iniciativa local consigo carrega, aliando criatividade com ousadia.
Um cientista foi morto, um acordo entre Brasil, Paraguai e Argentina está em crise e informações valiosas estão em risco. Com bastante movimentação geográfica – só que ao invés de transitar por países europeus e os Estados Unidos, a perseguição da vez é ocupada por passeios pela tríplice fronteira em Foz do Iguaçu – e os mesmos tipos característicos já esperados – agentes amigos, como o do Paraguai, ou suspeitos, como a da Argentina – Gomes e Filho se divertem ao mesmo tempo em que convidam o espectador para segui-los, indo de sequências de ação em cenários de complicada engenharia – uma partida de futebol, que tal? – a lutas repletas de reviravoltas (o entrevero no inferninho paraguaio) à embates com inimigos de cara assustadora, mas habilidades contidas (André Segatti, fazendo as vezes dos piores vilões de James Bond). E se por um lado falta um clímax com o qual a audiência de fato se importe – algo a ser alcançado, uma dificuldade a ser vencida, um feito a ser conquistado – a intenção em fazer desse projeto apenas um piloto para algo maior se mostra eficiente o bastante para manter o todo em pé, mesmo que resulte em um conjunto passageiro e fugaz. É quase um grande trailer, como se dissesse: “gostaram? Esperem só para ver o que mais a gente pode fazer nessa linha”.
Esbanjando uma sintonia tão azeitada como a que existe entre as duas mentes criadoras por trás dessa iniciativa – Filho, além de estrelar, é também autor da ideia original, posteriormente roteirizada por Márcio Wilson (da série Cine Holliúdy, 2019-2022, e do anterior Bem-Vinda a Quixeramobim, 2022) – esse C.I.C.: Central de Inteligência Cearense talvez peque por entrar em campo já se imaginando com o jogo ganho. Isso se percebe no humor perseguido, que se por um lado deixa de investir tanto no regional – o dialeto próprio, por vezes quase incompreensível no resto do país, dessa vez restringe-se a uma que outra expressão de efeito, permitindo acesso e consumo mais amplo – por outro usa e abusa do se poderia chamar de “efeito quinta série” (algo que é assumido até mesmo em cena, como uma piada auto referencial). Tem flatulência, tem idas ao banheiro, tem vilã com nome Koorola (Tóia Ferraz, de Olhar Indiscreto, 2023) – e se escrito o sentido parece se perder, basta separar a primeira sílaba do resto para perceber no que resulta tal combinação – e mais referências que devem fazer a festa dos menos preocupados, ao mesmo tempo que provocará escândalos entre os moralistas de plantão. Halder Gomes, certamente, não está preocupado com isso. E pode apostar: um C.I.C. 2 deverá chegar o quanto antes.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4.5 |
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