Crítica
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Sinopse
Três brasileiros expatriados. Três vivências longe da terra natal. Uma senhora e seu filho moram em Nova Iorque, mas ela deseja voltar ao Brasil. Um fotógrafo reside em Londres, mas igualmente pensa em retornar à sua pátria-mãe.
Crítica
Após muitos anos afastados da pátria-mãe, é hora de voltar. O fotógrafo André Câmara demonstra que a vida em Londres não mais o satisfaz. Pesa, principalmente, a saudade da família, dos pais e irmãos que moram no Rio de Janeiro. Maria do Socorro igualmente prepara seu regresso ao Brasil, depois de morar 24 anos em Nova York, cidade à qual ela se diz totalmente adaptada, mesmo não dominando a língua local. Duas pessoas em busca de reconectar-se com as raízes, passando por expectativas e dificuldades distintas. André tem quatro filhos, três do casamento anterior e um do atual. Assim, mudar-se significa trocar os atores e a geografia da ausência. Já Maria prepara a partida com o sentimento de missão cumprida. Chegada aos Estados Unidos para fazer companhia ao filho, ela pode retornar tranquila, porque Fernando conseguiu finalmente a cidadania norte-americana e uma esposa.
Em Caminho de Volta, os diretores José Joffily e Pedro Rossi ressaltam os conflitos decorrentes da decisão desses dois brasileiros. Se por um lado, ambos anseiam estar junto dos parentes na terra-natal, falar novamente a própria língua e reaproximar-se da cultura original, por outro, há uma dose de melancolia, pois, de alguma forma, as nações que os acolheram também passaram a ser um pouco suas. André é o personagem mais forte, até mesmo porque suas intenções de retorno se revestem de maior complexidade. Seja ao telefone resolvendo contendas financeiras, discutindo, tentando arquitetar um plano que diminua a dor de ficar longe dos filhos, ou mesmo nas interações domésticas com a esposa inglesa disposta a segui-lo, ele deixa transparecer angústia e ansiedade. Maria, por sua vez, é vista somente em contato com o filho, sofrendo pela iminente quebra da relação umbilical. Há um desiquilíbrio, portanto, que prejudica o andamento do documentário em determinados momentos.
A câmera de Joffily e Rossi quer-se invisível, justamente para poder captar de maneira mais natural os problemas de André e de Maria. Disso resultam os essenciais flagrantes de intimidade. A conversa de André com o pai pelo Skype, a diálogo com a esposa que o puxa à realidade, a solidão de Maria aplacada pelas novelas latinas exibidas na televisão, são instantes em que nos sentimos genuinamente partícipes da rotina alheia, próximos o suficiente das pessoas para compreendermos melhor o turbilhão de sensações resultante do deslocamento territorial ao qual se propõem. Essa imperceptibilidade da câmera é quebrada, pontualmente, pela insatisfação de um dos filhos de André, tímido e irritado com a intromissão do dispositivo, e, mais tarde, quando seu caçula interfere ligeiramente no enquadramento ao balançar o equipamento, para o riso dos pais que leem tranquilamente deitados na cama.
Há um despojamento muito eficiente em Caminho de Volta. A linguagem visual não busca chamar atenção para si, mas evidenciar a importância das histórias que ganham dramaticidade quanto mais perto fica a hora de partir. Também por isso, em virtude de não aspirar geralmente à exuberância plástica, certas imagens-exceção sejam tão bonitas e significativas, como a do pai carregando seu menino no colo enquanto um avião cruza o céu, espécie de súmula dos sentimentos heterogêneos que esse homem experimenta ao querer voltar. Já a reprodução de New York, New York, música que fala justamente de alguém de mudança à Big Apple a fim de vencer na vida, em meio aos ritos de despedida de Maria e do filho, soa demasiado coincidente, artifício cujo potencial de indução ameaça a espontaneidade do momento, ressalva neste documentário em que a irregularidade é compensada pelo olhar perspicaz e, sobretudo, sensível.
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