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Sinopse

Um imigrante polonês, dono de um bar, contrata músicos de blues na Chicago dos anos 1940. O sucesso de dois deles, o guitarrista Muddy Waters e o gaitista Little Walter, faz o lugar ser frequentado por Etta James, Howlin' Wolf, Chuck Berry entre outros.

Crítica

No percurso evolutivo do rock’n’roll, as grandes estrelas do gênero ganham mais atenção do que músicos de apoio, produtores, gravadoras e mesmo artistas que estiveram em sua origem. Porém, Cadillac Records evita fechar o foco biográfico em determinada personalidade, abrindo o plano narrativo para observar as relações entre os astros que orbitaram a Chess Records, um dos mais importantes estúdios dedicados ao blues, ao rhythm’n’blues e aos precursores do rock entre as décadas de 1950 e 1960.

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Com o filme de Darnell Martin, acompanhamos a formação da música pop norte-americana, cujos principais gêneros gradativamente migram do Sul negro e rural em direção ao Norte branco e cosmopolita para, de lá, tomar o mundo. Narrado pelo músico, compositor e produtor Willie Dixon (interpretado por Cedric the Entertainer), o filme mostra como o judeu polonês Leonard Chess (Adrien Brody) se opôs ao segregacionismo dos Estados Unidos para gravar em Chicago alguns dos principais artistas negros oriundos do Delta do Mississippi, dos campos do Arkansas e dos bares da Louisiana. Ao dar espaço à rica música vinda do Sul, atribuindo a ela um valor até então impensável, Chess rapidamente solidificou seu negócio e estruturou (na medida do possível) as carreiras de nomes lendários como Muddy Waters (Jeffrey Wright), Little Walter (Columbus Short), Howlin' Wolf (Eamonn Walker), Etta James (Beyoncé Knowles) e Chuck Berry (Mos Def), entre outros.

Atento aos conflitos raciais sem se entregar a didatismos históricos, o longa de Martin observa os contextos sociais e culturais que permitiram transições estéticas responsáveis pela grande revolução musical e comportamental que estava por vir. Com elas, como o próprio som da guitarra tornado mais ágil em função da country music e mais metálico devido à eletrificação, o dolorido e transcendental blues se transforma em algo mais energético e sensual, mais moderno e urbano, algo bem traduzido pelos riffs de Chuck Berry e que o DJ Alan Freed viria a chamar de rock’n’roll – gíria negra que designava tanto um tipo de dança quanto o movimento sexual, e que no futuro se consolidaria como um dos pilares da contracultura ocidental.

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Mesmo sem ter obtido muito destaque em seu lançamento, Cadillac Records é interessante ao dramatizar um importante momento da música popular global a partir de roteiro adequado, bom elenco e produção caprichada assinada por equipe liderada por Beyoncé. Resgatando o legado de grandes artistas negros do blues e do rhythm’n’blues a partir dos anos 1940, propondo relações entre eles e articulando-os em ascensão e queda, o filme torna visual as canções e os percursos de criadores fundamentais da cultura contemporânea.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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