Crítica
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Sinopse
Anos após dividirem a autoria de um livro sobre a existência de fantasmas, Erin Gilbert e Abby Yates tem sua obra descoberta, fazendo com que a primeira, uma respeitada professora da Universidade de Columbia, perca seu emprego. Patty Tolan, por sua vez, presencia estranhos acontecimentos no metrô de Nova York, onde trabalha. As três, ainda junto a Jillian Holtzmann, formam um time que promete salvar a cidade e o mundo de uma estranha ameaça paranormal.
Crítica
Se há algo estranho na vizinhança, quem você deve chamar? Por mais de duas décadas o mundo ficou sem saber como responder a essa pergunta. E agora, quando menos esperava, tal retorno veio da forma mais inesperada – e, por que não, mais condizente com os novos tempos – possível. Estamos falando de Caça-Fantasmas, a ‘reimaginação’ – não se trata de uma sequência, e também não de uma refilmagem – dos dois longas originais lançados nos anos 1980: Os Caça-Fantasmas (1984) e Os Caça-Fantasmas 2 (1989). E os responsáveis por essa audaciosa e respeitosa releitura são o diretor e roteirista Paul Feig e a dupla Melissa McCarthy e Kristen Wiig, o mesmo time por trás do inesperado sucesso Missão Madrinha de Casamento (2011). E se dizem que um raio não cai duas – ou três, ou quatro, ou cinco – vezes num mesmo lugar, pois bem, aqui está a prova do quão errado pode estar este velho ditado.
Fazer um novo Caça-Fantasmas não era tarefa fácil. Tanto que, por mais que os dois primeiros filmes tenham dado certo – em diferentes níveis de expectativa, é importante que fique claro – a produção de um terceiro capítulo nunca chegou perto de se tornar realidade, ainda que por vezes tenha se acendido uma luz ou outra de esperança neste sentido. Bill Murray sempre foi o mais reticente em retomar o papel do Dr. Peter Venkman, e ainda que Dan Aykroyd (Dr. Raymond Stantz) e Ernie Hudson (Winston Zeddmore) parecessem mais dispostos, com a morte de Harold Ramis (Dr. Egon Spengler) em 2014 a ideia parecia enterrada por completo. E se fazer mais do mesmo não parecia ser viável, que tal inverter a ordem das coisas e seguir por um caminho completamente inesperado? Pois foi o que Feig e sua co-roteirista Katie Dippold (os dois já haviam trabalhado juntos em As Bem-Armadas, 2013) decidiram: começar do zero, porém ao invés de se repetir no mais básico, alterar um fator essencial: dessa vez, o elenco de protagonistas seria basicamente feminino!
Ou seja: não são as mesmas personagens, mas, sim, um outro grupo de cientistas que se depara com situações familiares aos fãs das tramas anteriores, porém distintas em seus propósitos e ambições. Erin Gilbert (Wiig, contida, porém se destacando nos detalhes) é a cientista que quer ser levada à sério ao tentar uma vida profissional na Academia. Porém, quando descobre que um livro escrito tempos atrás a quatro mãos com a ex-colega Abby Yates (McCarthy, cada vez mais no domínio da cena) sobre fenômenos paranormais está de volta ao mercado, só lhe resta procurar a antiga amiga para impedir que o mesmo continue sendo vendido. Só que ao invés de convencê-la de sua necessidade, é o contrário que acontece. E quando menos espera, está reunida com a velha conhecida, dessa vez contando também com as parcerias da cientista Jillian Holtzmann (a revelação Kate McKinnon) e da atendente do metrô Patty Tolan (Leslie Jones, também desconhecida do grande público, mas mostrando a que veio), que deixa seu emprego para se juntar às garotas em sua missão contra seres do além ao se deparar com um tipo bem assustador.
Não há muito tempo a perder neste Caça-Fantasmas. Assim como Rick Moranis foi possuído pelas forças do mal trinta anos atrás, desta vez é Neil Casey (do televisivo Saturday Night Live) que representa o perigo. Cansado de ser invisível e ignorado por praticamente todo mundo, o zelador de um imponente hotel arma um esquema que irá ressuscitar forças do mal e lhe dará poderes incalculáveis. Ou seja, é a velha ambição do fraco que deseja se vingar de toda a humilhação que já sofreu. Só que no seu caminho estarão estas quatro profissionais bastante determinadas, além de um ou outro elemento que acabarão tendo sua serventia.
Neste caso, além da presença do prefeito Bradley (Andy Garcia, discreto) – que, apesar de ciente do perigo que ameaça a cidade, prefere escondê-lo da população para evitar pânico e, portanto, passa a desacreditar publicamente as atividades das Caça-Fantasmas – e de participações simpáticas de Zach Woods (do seriado Silicon Valley, 2014-) e Matt Walsh (do seriado Veep, 2012-), temos ainda as presenças reverenciais da equipe original: Bill Murray (com um tipo bem condizente com sua persona), Dan Aykroyd (subaproveitado), Ernie Hudson (esse, literalmente, passando o bastão) e a ótima Sigourney Weaver (não perca as cenas durante os créditos finais – e até aquela após o término destes). Por fim, a graça não seria a mesma se toda a situação inversa não fosse aproveitada: Chris Hemsworth – o Thor em pessoa – surge como o eye candy das meninas, o ‘loiro burro’ que é contratado como secretário apenas por sua beleza. Mas se ele poderia ser reduzido a uma única piada – como lhe aconteceu no frustrante Férias Frustradas (2015) – é com surpresa que percebemos seu personagem indo além e adquirindo um novo potencial. Por fim, apenas a cena de dança coletiva que lidera já vale mais do que Magic Mike XXL (2015) inteiro!
Porém, além de uma trama que não perde tempo com atividades paralelas e vai direto ao ponto e um elenco entrosado, todos no domínio de uma narrativa que funciona nos momentos certos de humor e de ação, a versão Caça-Fantasmas de 2016 é também um exemplo concreto do empoderamento feminino que vem ganhando cada vez mais força nos últimos tempos – e que com o sucesso de Mad Max: Estrada da Fúria (2015) ganhou ainda mais impacto. Muitos reclamaram da mudança e outros tanto deixaram que esse novo posicionamento revelasse um incômodo machismo e um inapropriado e ultrapassado senso conformista, que ao invés de ser tratado, apenas possibilitou que viesse à tona em cores mais fortes. Esse sinal dos tempos resulta em um filme eficiente como libelo e como entretenimento, divertido do início ao fim e feliz justamente por não ambicionar ser mais do que é: uma grande aventura, em que todo o resto é mera distração – ou não.
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