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Crítica

Max (Anton Yelchin) é apaixonado por filmes de terror, tanto que trabalha numa loja de artigos ligados ao mundo dos vampiros, lobisomens, zumbis e outras criaturas que povoam o imaginário cinéfilo. Ele namora Evelyn (Ashley Greene), mulher com um papo de sustentabilidade ambiental tão constante e onipresente que chega a ser chato. Mas, enfim, eles se dão bem, apesar de ela não sacar nada de monstros e de ele aderir ao discurso verde só para agradá-la. Contudo, após a decisão de morar juntos, as diferenças aumentam, tornando quase insustentável o relacionamento que prometeram curtir para sempre. O problema é este: juraram amor eterno diante da estátua do diabo, e terão de arcar com as consequências desse desejo mesmo depois que ela morrer.

Enterrando Minha Ex é o mais novo filme de Joe Dante, cineasta famoso nos anos 1970 e 1980 por filmes como Piranha (1978) e Gremlins (1984), entre outros. Mantém a conhecida mescla de terror e humor que conferiu ao seu criador um lugar cativo entre os cultuados do gênero. A volta de Evelyn do túmulo para reclamar o pagamento da promessa de ambos, para a qual o diabo disse “amém”, cria um tumulto desgraçado na vida desse cara que já estava de saco cheio da namorada enquanto ela estava viva, o que dirá ela agora morta, em estado de putrefação, e ainda louca para transar. A situação se complica ainda mais, pois Max tem de conciliar a volta da morta-viva com Olivia (Alexandra Daddario), bonita e igualmente nerd de filmes de terror, seu novo interesse amoroso.

Instaurada, a confusão ganha contornos cada vez mais nonsense. Enterrando Minha Ex é muito divertido, justamente porque consegue atrelar humor de verdade a toda a bizarrice, não apenas do enredo, mas também da maneira como ele é encenado. A estranheza diante das situações dura apenas o tempo necessário para os personagens a assimilarem. A namorada voltou do túmulo? Estranho, sem dúvida, mas que não se perca tempo, pois agora é preciso saber como se livrar dela. Como não poderia deixar de ser, não faltam vômitos à lá O Exorcista (1973), pedaços de tecido que se descolam pouco a pouco da namorada zumbi, beijos de rastro gosmento, e por aí vai. Mas tudo acaba tendo um efeito mais cômico que dramático, fazendo jus à principal característica do cinema de Dante.

O que fazer para dar cabo da namorada que, além de grudenta, quer te matar para colocar em prática o “felizes para sempre” macabro? Como lidar com esse problema que definha literalmente cada vez mais em casa, enquanto se cultiva uma nova paixão? Enterrando Minha Ex não é um filme para ser levado a sério, com grandes questões filosófico-existencialistas que preencherão nossa cabeça até mesmo depois da sessão. É exemplar de uma boa e velha escola, até certo ponto fadada a sobreviver em virtude dos veteranos ainda em atividade, que trata o objetivo de entreter não como desculpa para chafurdar em clichês e outras facilidades, mas como oportunidade para construir algo realmente empenhado em nos divertir. E se acompanhamos com interesse e um sorriso no rosto as peripécias dos personagens para sair dessa sinuca de bico sobrenatural, é porque Joe Dante sabe como levar as coisas com seriedade sem ser sisudo, e com graça sem ser bobo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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