Crítica
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Sinopse
Ao acordar, um agente infiltrado descobre que está preso num obscuro submarino norte-americano de uso e propriedade da CIA.
Crítica
Há um inegável elemento nostálgico, principalmente para o espectador com mais de 40 anos, presente em Black Water: Perigo no Oceano, a mais nova parceria de Jean-Claude Van Damme e Dolph Lundgren. Isso porque não é a primeira vez que esses brutamontes, dois dos maiores ídolos do cinema de ação dos anos 1980, se unem na tela grande. A primeira parceria deles foi em Soldado Universal (1992) – há quase trinta anos! – para depois voltarem a se unir em Soldado Universal 3: Regeneração (2009), Soldado Universal 4: Juízo Final (2012) e em Os Mercenários 2 (2012). E se o encontro inicial foi recebido com entusiasmo, e a sequência de Os Mercenários (2012) também marcou não apenas por eles, mas por todos os demais astros reunidos, não precisa ser nenhum gênio para imaginar que as duas sequências de Soldado Universal: O Retorno (1999) – que não contava com Lundgren no elenco – são os pontos baixos dessa dupla. Quer dizer, até a estreia desse longa dirigido pelo estreante Pasha Patriki, que provavelmente estava tão perdido em cena quanto os espectadores diante de tamanha bagunça.
Pra começo de conversa, Van Damme e Lundgren aparecem juntos, se tanto, por uns dez minutos – e leva mais de uma hora para que dividam a mesma tela. Ou seja, esse é um filme de Van Damme, e o segundo foi chamado na camaradagem, quase como uma participação especial. O belga é Wheeler, homem que, ao acordar, se dá conta que está em uma prisão de segurança máxima – com um detalhe muito especial: ela é um submarino em movimento no fundo do mar. Quem o coloca a par dessa situação – servindo também para explicar todos os pormenores do lugar para a audiência – é o colega da cela vizinha: Lundgren, é claro. Disso, tem início um longo flashback, que explica como o protagonista, um agente especial, foi pego em meio a uma operação e acusado de traição contra o governo. Na verdade, ele está de posse de um microchip repleto de informações disputadas por mais de uma força, e não tardará para que esses movimentos contrários entrem em colisão.
Voltando para o tal submarino, Wheeler é retirado do cárcere e levado para um interrogatório. Lá, as coisas não sairão conforme o esperado, investigadores mudarão de lado e oficiais da lei mostrarão que atendem a outros tipos de chamados. Não resta dúvida, portanto, que caberá ao único homem honesto por ali – Van Damme, é claro – fazer justiça com as próprias mãos. E ele não estará sozinho, obviamente. Com ele, acaba ficando uma novata em busca de uma oportunidade para provar seu valor (Courtney Blythe Turk, de O Príncipe, 2014). A garota, inexplicavelmente, mesmo em meio a tiroteios desordenados e contragolpes inesperados, em nenhum momeno chega a descuidar do cabelo ou da maquiagem, sempre pronta para chamar a devida atenção. Isso só não seria mais ridículo se não houvessem outros absurdos em cena, como os dois ou três infelizes que, mesmo feridos à bala, seguem lutando como se nada lhes tivesse acontecido. Um exército de imortais, pelo jeito.
Mas há mais motivos de riso – ou seria de constrangimento? – em Black Water. Um momento em especial merece ser citado: quando a mocinha é alvejada à queima roupa, sua queda não apenas é exibida em câmera lenta, com toda a dramaticidade exigida para a situação, para que, logo em seguida, assim que o herói se desvencilha de mais um inimigo, acabe estendendo o braço para ela e proferindo a seguinte frase: “ainda bem que essa bala não era de verdade”. Oi? Teria sido aquele o único bandido a não carregar consigo uma arma de fogo? E como ele sabia disso de antemão? Mistérios que apenas o roteirista Chad Law – que já escreveu uma dezena de outros títulos genéricos como esse, invariavelmente estrelados por nomes como Cuba Gooding Jr, John Cusack e Steven Seagal, entre outros – pode explicar.
Apesar da ambientação tentar emular um aspecto elevado, Black Water: Perigo no Oceano é nada mais do que um jogo de gato e rato, com Van Damme e sua amada (que teria idade para ser sua filha) tentando provar a inocência dele, ao mesmo tempo em que vão eliminando, um a um, aqueles que surgem pelo caminho. E, com sorte, contando com a ajuda de um velho amigo por um instante ou dois. O mais engraçado é imaginar que os envolvidos realmente creem estarem diante de um projeto diferenciado, a ponto de encerrarem a trama com um aceno para uma possível continuação – seria o início de uma nova saga para a dupla? Não seria nenhum espanto, afinal, o que mais querem figuras como essas, que já foram tão celebradas no passado, mas que hoje mal conseguem disfarçar o ar de cansaço, é seguir em movimento. Até porque, se pararem por um segundo a mais do que o mínimo exigido, é capaz de nunca mais voltarem à ação. Por tudo de ruim, e também de bom, que isso possa significar.
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A parceria dos 2 brutamontes não tem mais nada a oferecer.