Crítica


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Sinopse

Um retrato de um artista singular mergulhado na beleza e na contundência das palavras e das melodias.

Crítica

Há estrelas que simplesmente não se encaixam em padrões de mercado e não sobrevivem artisticamente nos mesmos a longo prazo. Antônio Carlos Belchior, definitivamente, foi uma dessas figuras. Reavivado nos últimos anos com quase a mesma força em que surgiu nos anos 1970, o músico representou o sentimento de sua época nos anos de chumbo. Hoje, em um momento em que passamos por mais mazelas, que se intensificam a cada dia com a alta taxa de desemprego, um governo que trabalha com o desprezo aos pobres e chancela casos de racismo e homofobia, a voz do cantor ressurge em releituras de suas obras e produções de todo o tipo. Belchior: Apenas um Coração Selvagem é mais uma destas. Aqui, é quase como se o "rapaz latino-americano" estivesse conversando com o espectador, praticamente não se notando a mão dos diretores estreantes Camilo Cavalcanti e Natália Dias. Entretanto, é preciso um pré-entendimento da obra do musicista para compreensão plena.

No seu todo, o projeto é composto por imagens de arquivo. Entrevistas, com especialistas ou fãs, são excluídas da tela. A opção de Camilo e Natália é clara: o artista se autodefinirá. Ao longo da apresentação contínua de recortes de jornal, conversas restauradas e áudios do compositor de "Alucinação" e "Sujeito de Sorte", Silvero Pereira surge em uma participação especial. O ator do premiado Bacurau (2019) dá vida a versos escritos pelo artista em quatro ou cinco oportunidades. A presença do intérprete é harmoniosa e compatível com o já comentado reaquecimento das canções setentistas nos dias de hoje pela Geração Y (Millennials).

Mas há lacunas. Para além de um conhecimento adicional que o longa demanda para o observador, as cenas são emocionantes, claro. Todavia, não novas. Aliás, nem apresentadas de forma fresca. Um dos pontos de virada da carreira de Belchior, por exemplo, foi a gravação de sua faixa "Como Nossos Pais", na voz de Elis Regina. A adaptação catapultou o operário musical ao estrelato. Nesse momento, em específico, a famosa performance da cantora no programa Fantástico, em 1976, é apresentada quase na íntegra. Mas a circunstância a ser lembrada é que o popular clipe está disposto no YouTube.

Filme visto no 17 º CineOP - Mostra de Cinema de Ourto Preto, em junho de 2022.

Belchior: Apenas um Coração Selvagem é uma jornada atraente, entrecortada por hinos que reformularam a compreensão de temas sociais e políticos do país em uma espécie de ressaca do movimento Tropicália. Quanto a isso, não há como ser indiferente. Em contrapartida, sem algumas investigações e somente ancorado na seara das performances artísticas, este ainda não é o filme definitivo do bigodudo artesão da MPB.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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