Crítica
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Sinopse
Depois de testemunhar a morte de um ente querido, o ex-agente de um programa secreto do governo dos Estados Unidos resolve voltar momentaneamente à ativa e fazer justiça com as próprias mãos, doa a quem doer.
Crítica
Em virtude da reutilização exagerada/preguiçosa de temas e tropos narrativos no atual cinema norte-americano, é comum a sensação de dèja vu, de “já vi este filme e não faz muito tempo”. Pense aí, quantos longas-metragens recentes tem como protagonista um sujeito aposentado depois de levar uma vida sanguinolenta como agente secreto e que, provocado por algo, volta momentaneamente à ativa para cumprir uma missão impossível? Beekeeper: Rede de Vingança vai por esse caminho ao ter como personagem principal Adam Clay (Jason Statham), inquilino pacato da idosa que mora numa propriedade afastada das metrópoles. Depois de ser vítima de um crime cibernético que simplesmente limpou as suas contas bancárias, a gentil mulher comete suicídio e engatilha a reação hiperviolenta do brutamontes locatário do galpão que lhe serve de base para a criação de abelhas. A tragédia faz com que o sujeito (ex-agente de um programa ultrassecreto do governo dos Estados Unidos) deixe a aposentadoria de lado e comece um verdadeiro banho de sangue, cujo objetivo é exterminar o mandatário do tal esquema fraudulento. Com um pouco de autoconsciência, o cineasta David Ayer poderia ter feito uma releitura maneirista ou em certa medida subversiva desses modelos repetidos. No entanto, em busca dos efeitos ligeiros da ação superficial, ele soterra qualquer ambição estética e narrativa.
Beekeeper: Rede de Vingança é um daqueles filmes que causam desconforto pela desfaçatez com a qual reciclam elementos desgastados, sem traços de invenção ou homenagem. Para começo de conversa, o alvo de Adam lembra (e muito) o perseguido por John Wick em John Wick: De Volta ao Jogo (2014), primeira aparição cinematográfica do personagem de Keanu Reeves. Do mesmo jeito, o objetivo é matar um moleque mimado que brinca de ser gângster, torra o dinheiro quase ilimitado da família, levianamente exercendo uma onipotência enganosa. Também do mesmo jeito que acontece na produção inaugural da saga John Wick, há um sujeito casca grossa (aqui vivido por Jeremy Irons) que sabe o tamanho da encrenca na qual esse pirralho se meteu ao mexer com quem não deveria. Porém, enquanto John Wick é um personagem em cujas pegadas identificamos rapidamente uma tradição, afinal de contas ele é conceitualmente derivado de personagens semelhantes, Adam é uma mera reprodução despersonalizada. Pouca coisa se sustenta do ponto de vista dramático nos longuíssimos 100 minutos dessa aventura sonolenta e burocrática. Um exemplo disso é a falta de credibilidade emocional da agente Verona (Emmy Raver-Lampman), que praticamente não demonstra sentir a morte da mãe e sequer tem míseros resquícios desse luto recente em meio a um dilema moral tão mal enjambrado quanto resolvido.
Adam Clay poderia ser uma espécie de fantasma ressuscitado pela fúria, um homem que retorna ao inferno da violência quando as leis não alcançam os culpados. Mas, para isso David Ayer precisaria se interessar pelas complexidades humanas do personagem, talvez expandindo a observação da personalidade de Adam para além da superficialidade imposta pelo roteiro de Kurt Wimmer. As reiteradas vezes em que Jason Statham justifica a sua resposta vingativa contra os subalternos do antagonista (vivido por Josh Hutcherson) não são suficientes para tornar crível a motivação pessoal dessa coleção de assassinatos e frases de efeito. Aliás, falando nelas, é exaustiva a utilização frequente de paralelos entre a realidade das abelhas e a dos indivíduos envolvidos numa conspiração que nunca convence o suficiente para nos mobilizar. Adam menciona inúmeras vezes que está tratando de manter "segura a colmeia”, que atuará com o rigor da moralidade assim que as “vespas” se aproximarem da colônia e agirá como alguém disposto a ser um regicida que assassina a rainha geradora de uma prole insatisfatória. A pobreza dos diálogos cria instantes de comédia involuntária, alguns até mesmo constrangedores pela obviedade dos paralelos e, também, em virtude da natureza rasa dos seus significados. Como é triste vez um astro como Jeremy Irons restrito a dizer frases prontas e bobagens sem relevância.
Ao supostamente criar um universo labiríntico, no qual CIA e FBI são engambelados facilmente por apenas um agente dos tais “beekeepers”, David Ayer vai retirando os vestígios restantes de interesse nos personagens. Por exemplo, ele faz de Verona uma figura praticamente descartável, senão como aquela que torna explícitas as dúvidas morais a respeito dos atos de Adam, as compartilhando conosco numa via de mão única sem espaço para gerar reflexões ou inserir contradições. O próprio Adam aparece esporadicamente – o que poderia ser bom, isso caso o realizador o tratasse como uma espécie de mito que aterroriza seus algozes antes mesmo de chegar, pairando sobre os demais núcleos como a sombra ameaçadora. Grande nome do cinema de ação hollywoodiano do momento, Jason Statham não tem material para injetar nuances no personagem, sequer conseguindo sustentar as sacadas que em outras produções funcionam como contrapesos (e diversificam os contornos) da aura destrutiva da maioria de seus papeis. O resultado é um filme aparentemente contente com a reprodução de fórmulas anteriormente aprovadas pelo público, mas sem oferecer muita coisa em troca para obter a nossa satisfação. Assim, além de desperdiçar grosseiramente o ótimo elenco que tem em mãos, David Ayer (o mesmo de Esquadrão Suicida (2016) parece um piloto automático sem conexão com os satélites.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Alysson Oliveira | 3 |
Francisco Carbone | 6 |
Ailton Monteiro | 5 |
MÉDIA | 3.5 |
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