Crítica
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Sinopse
Frank Tassone trabalha como superintendente em uma escola, gozando de imenso prestígio junto aos professores, pais e alunos. Tudo começa a mudar quando uma aluna resolve investigar uma custosa empreitada prestes a acontecer, o projeto Skywalk, e acaba descobrindo uma série de fraudes na contabilidade do colégio.
Crítica
Há algo na própria gênese desse subgênero que possui forte apelo tanto junto ao público como também entre os realizadores e artistas. A relação entre narrar histórias que se dizem inspiradas em fatos e a fruição das mesmas parece elevar o produto final a uma outra instância de análise. No entanto, por mais que estejam baseados em episódios reais, é fundamental levar em consideração que, no frigir dos ovos, fala-se aqui de um longa ficcional, e, portanto, dotado de todas as liberdades criativas que seus diretores, atores e roteiristas julgaram ser necessárias. Este, aliás, é exatamente o caso de Má Educação, produção original da HBO que no ano passado foi exibida no prestigioso Festival de Toronto e em alguns outros eventos do gênero, como Londres e o Camerimage, na Polônia. Esse seria o caminho natural de um projeto que visa ser lembrado na temporada de premiações rumo ao Oscar. No entanto, tudo o que conseguiu foi estrear com exclusividade no canal, bem longe da tela grande. Destino justo? Nem tanto ao céu, mas também longe de merecer o inferno.
No filme dirigido por Cory Finley (Puro-Sangue, 2017), Hugh Jackman aparece como Frank Tassone, o superintendente de educação pública do distrito escolar de Roslyn, no estado de Nova Iorque. No começo do filme, o encontramos no banheiro, dando os últimos retoques no visual antes de ser chamado para subir ao palco e anunciar ao público presente no auditório do colégio o fato de terem ficado em quarto lugar como uma das regiões de maior índice de aprovação nas grandes universidades do país. É motivo de comemoração. No entanto, ele denota visível instabilidade emocional. Está nervoso. É o seu maior momento desde que deu início a esse trabalho. Atingiu um dos ápices da sua jornada. Toda a cidade está em êxtase, afinal, um resultado assim apresenta desdobramentos dos mais variáveis, como a valorização imobiliária até estimular possíveis carreiras políticas. Mas, nesse ponto em que o espectador se depara com ele pela primeira vez, o protagonista está se maquiando. Pode estar parado em frente a um espelho, mas, na verdade, o disfarce é para si mesmo.
Tudo o que será percebido a partir deste ponto será o caminho rumo ao fim. Do topo da montanha, afinal, a vista pode ser mais clara, mas para onde seguir senão para baixo? Quando Pam Gluckin (Allison Janney, muito mais complexa e eficiente aqui do que em Eu, Tonya, 2017, filme pelo qual ganhou o Oscar), aquela que é seu braço-direito, é pega usando um cartão de crédito corporativo para gastos de uma reforma na sua própria casa, os alertas começam a ser dados. Quanto ela gastou sem permissão? Mais ou menos US$ 250 mil? Ok, promete restituir esse valor e tudo será acertado. Afinal, trata-se de uma profissional competente, também responsável pelo sucesso alcançado junto aos esforços de todos, pessoa que conhecem bem, colega e amiga da maioria. Mas será apenas isso? Como ficará evidente, este é apenas o topo de um iceberg muito mais profundo – e capaz de danos irreparáveis.
É interessante a composição que Hugh Jackman oferece ao seu personagem. Indicado ao Oscar pelo icônico Jean Valjean de Os Miseráveis (2012), reconhecido mundialmente como o herói Wolverine da saga X-Men, o australiano talvez nunca tenha enfrentado uma figura tão multifacetada e dissimulada quanto Tassone. Sempre escondido por trás de um sorriso contagiante e uma postura amigável, pode ser verdadeiramente ameaçador, como na última conversa que tem com a jovem Rachel (Geraldine Viswanathan, de Não Vai Dar, 2018), a estudante que, encarregada de uma simples reportagem para o jornal escolar, se depara com uma série de revelações que causará um rebuliço de incríveis repercussões. Mas também se mostra frágil e assustadoramente infeliz, como nos encontros com o ex-aluno Kyle (Rafael Casal, de Ponto Cego, 2018), com quem acaba desenvolvendo uma relação amorosa secreta. Por ele, assim como pela excelência de todo o elenco, é que Má Educação acaba se colocando além da mediocridade na qual poderia facilmente se acomodar.
Mesmo assim, por maiores que sejam os desdobramentos aos quais a audiência é convidada a acompanhar – é como um castelo de cartas, cuja retirada de um único elemento causará um estrago sem volta – o roteiro de Mike Makowsky (I Think We’re Alone Now, 2018) não se exime em recorrer a soluções fáceis, como a confissão na arquibancada (“parecia algo tão pequeno no início”), que até pode ser verdadeira, mas está longe de ser crível, pois acaba soando, inevitavelmente, como uma desculpa esfarrapada, e outras potencialmente polêmicas, como a identidade homossexual do protagonista, um viés que acaba soando mais contra do que a favor de si. Seria ele somente vaidoso, e isso pelo fato de ser gay? Tal conclusão, além de simplista, é também perigosa. Por questões como essa, que são apenas tangenciadas, mas nunca desenvolvidas a contento, é que Má Educação revela ter material para se apresentar de forma ainda mais explosiva da qual hoje se encontra. Tivesse seguido o exemplo dos seus atores, certamente teria alcançado voos maiores. Mas contentou-se com trilhas mais seguras, e são estas as que levam diretamente para o rápido esquecimento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Daniel Oliveira | 7 |
Adriana Androvandi | 5 |
Francisco Carbone | 7 |
Lucas Salgado | 6 |
MÉDIA | 5 |
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