Crítica
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Sinopse
Karin deixa exposta sua fragilidade quando tem frequentes crises nervosas que a fazem entrar em conflito com sua família durante as férias numa ilha remota.
Crítica
O cinema de Ingmar Bergman se desenvolve, geralmente, em dois ou mais níveis de interpretação. Numa primeira linha, temos a situação visível, de superfície, que pode ter uma aparência calma, tranquila, até mesmo feliz. Pois é assim que começa Através de um Espelho, longa escrito e dirigido pelo diretor em 1961, época em que já estava consagrado após os lançamentos de clássicos como O Sétimo Selo (1957), vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes, e Morangos Silvestres (1957), premiado com o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim. Porém, assim que a trama começa a se desenvolver, vamos percebendo aos poucos os dramas e dilemas de cada personagem, revelando outras camadas de leitura tão densas e complexas que se tornam muito mais relevantes do que aquilo possível de perceber num primeiro olhar.
Geralmente econômico em seus discursos e formas adotadas, Bergman conta com apenas quatro atores no elenco de Através de um Espelho, cada um dono de um universo bastante particular. Logo na primeira cena os confrontamos por completo: lá estão David (Gunnar Gjörnstrand), o pai; Minus (Lars Passgard), o filho adolescente; Karin (Harriet Andersson), a filha adulta; e Martin (Max von Sydow), o marido dela. Todos felizes, alegres, comemorando um dia de férias na praia, saindo após um banho de mar. Como esperado, no entanto, esse clima de celebração não demorará para desaparecer.
Assim que voltam para casa e se separam – os irmãos saem para buscar leite, o sogro e genro partem num bote para uma pesca improvisada – segredos e incômodos começam a se manifestar. Há assuntos entre os homens que é preferível que os jovens se mantenham afastados. Há um peso enorme nos ombros do garoto, que tenta entender a irmã ao mesmo tempo em que busca recuperar o afeto paterno aparentemente perdido. E há, acima de tudo, uma luta interna nessa mulher que servirá de catalisador dos sentimentos de todos aqueles que estão ao seu redor.
O cenário não demora a revelar suas verdadeiras cores – ainda que registradas pela belíssima fotografia em preto e branco de Sven Nykvist: Karin está ficando louca, e se acessos anteriores já a levaram a uma temporada num sanatório, a esperança por uma cura completa é cada vez mais nula. O pai, um escritor viúvo de grande sucesso que viu a esposa se ir sofrendo do mesmo mal da família, parece se refugiar na atividade literária para não ter que lidar diretamente com os problemas dos filhos. Martin, dono de um amor enorme, porém impossível de ser partilhado pela esposa na mesma medida, anda sobre cacos de vidro, se equilibrando desajeitadamente entre diagnósticos nada favoráveis e a tentativa de lhe provocar algum tipo de conforto, ainda que passageiro. E ao jovem, quase uma criança, que busca se mostrar com algum valor em meio ao temporal enfrentado pelos entes queridos, resta apenas a periferia dessas emoções, quando qualquer migalha pode fazer toda a diferença – como deixa bem clara a cena final.
Após ganhar seu primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1961 por A Fonte da Donzela (1960), Ingmar Bergman bisou a vitória no ano seguinte com Através de um Espelho, derrotando concorrentes da Dinamarca, Espanha, México e Japão. Com meros e enxutos 90 minutos de duração, este impressionante estudo sobre a demência, as relações familiares e o ímpeto artístico como fuga da realidade é importante dentro da obra do cineasta também por ser o primeiro capítulo daquela que ficou conhecida como "Trilogia do Silêncio", composta ainda pelos extraordinários Luz de Inverno (1963) e O Silêncio (1963), filmes que ficaram marcados pelo intenso olhar proporcionado sobre a crise de fé do homem moderno. Um capítulo arrebatador não apenas da cinematografia sueca, mas também na própria história cultural da humanidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 9 |
Chico Fireman | 10 |
Marcio Sallem | 10 |
MÉDIA | 9.7 |
Mais um filme insuportável do pretensioso diretor que todo mundo finge cultuar para não ser chamado de ignorante. Prefiro distância desse cinema arrogante que exige estudo avançado de filosofia, teologia, psicologia, psicanálise e mais um monte de coisas – tudo, menos cinema, já que continuidade, lógica, acting, texto coloquial, nada existe. Mas, alto lá, eu sou genial: então eu tenho que dizer que adoro Bergman, Goddard e outras coisas pedantes e canhestras do cinema (novo?, nouvelle vague?? Não: só chato pra caraca mesmo). Recomendo aos inimigos. Para os inimigos proponho Tarantino, Scorcese, Chaplin, Keaton, Welles, Kubrick, Truffaut enfim, cinema mesmo.