Crítica


5

Leitores


1 voto 4

Onde Assistir

Sinopse

Hamburgo, Alemanha. Elena Houghlin trabalha em um experimento pioneiro que pode comercializar em massa uma nova fonte de energia limpa e sustentável, mas está preocupada com a possibilidade do aparelho ser usado como uma arma mortal. Após seu chefe imediato ignorar o alerta, ela decide procurar a agência Townsend para denunciar o ocorrido. Tal situação a torna alvo prioritário, o que faz com que seja protegida pelas espiãs Sabina Wilson e Jane Kano, que integram o grupo Charlie's Angels.

Crítica

A cena de abertura deste novo As Panteras de imediato escancara qual é a proposta do novo longa dirigido por Elizabeth Banks. Em pleno Rio de Janeiro, ao som da nova canção de Anitta, Kristen Stewart ouve de um homem que as mulheres podem fazer de tudo, o que não significa que devam. O close no rosto da atriz ressalta uma boa dose de espanto, por mais que haja o esforço em manter o disfarce sedutor de sua persona de momento. Logo a seguir, nova fala aponta que se uma mulher é bonita, ela nada mais precisa fazer; se não for, é invisível. Simples assim.

Denunciar o machismo entranhado na sociedade é uma das metas do roteiro também escrito por Banks, além do até mesmo previsível empoderamento feminino. Entretanto, chama a atenção como este novo As Panteras se diferencia de sua versão anterior para o cinema, dentro da mesma proposta de dar espaço a elas em uma aventura tipicamente hollywoodiana. Se o filme dirigido por McG investia firme no ritmo surtado de videoclipe, com um visual multicolorido que defendia com unhas e dentes o entretenimento descerebrado, Banks deseja ir por outra vertente. As Panteras (2000) de Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu tinha um forte lado pin up, influência clara da era de Playboy e demais revistas que exploravam a beleza feminina, enquanto o trio encampado por Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska busca um tom mais naturalista - dentro dos exageros típicos das personas que cada uma assume, é claro.

Dito isso, cabe a Kristen Stewart mais uma vez encorpar seu lado sensual, como já feito tanto em Na Estrada (2012) quanto em Seberg (2019), mesclando com uma pitada de rebeldia, refletida tanto em sua postura nas ações táticas do grupo quanto em relação ao seu próprio passado - nada muito aprofundado pelo roteiro, é bom ressaltar. Ainda assim, é com ela que o filme insinua certos "riscos" para os padrões hollywoodianos, como a insinuação de que teria interesse em uma mulher - uma vez mais, a questão da bissexualidade surge camuflada nos blockbusters. Já Ella Ballinska é quase seu antônimo: decidida e perfeccionista, é o modelo de dedicação que todo grupo sonharia em ter, com o bônus dos atributos ganhos em sua época de agente do MI6. Concluindo o trio, Naomi Scott é a especialista em tecnologia que subitamente se vê em meio a um jogo de espionagem, precisando encontrar algum jeito de lidar com tantas novidades súbitas - o que, é claro, rende uma boa dose de trapalhadas.

Como trio, as novas Panteras até funcionam. Ballinska demonstra desenvoltura no posto de protagonista, Scott dosa bem a empolgação com o espanto e Stewart entrega segurança a um perfil com o qual está se habituando cada vez mais, em parte também devido ao seu histórico pessoal. O grande problema é o entorno delas, mais exatamente a história que as rodeia: previsível e com sérios problemas de ritmo, além de coadjuvantes mal desenvolvidos - que o digam Noah Centineo e Sam Claflin. O resultado é uma aventura bastante arrastada, que gira em torno das muitas idas e vindas que, no fim das contas, soam desnecessárias.

Diante deste cenário, é curioso observar as semelhanças estruturais que este novo As Panteras tem com outro reboot camuflado de sequência lançado pela Sony em 2019: Homens de Preto Internacional (2019). Lá como cá, há o objetivo de recuperar símbolos da franquia original - neste caso, o glamour das roupas e acessórios usados pelas angels e a própria estrutura organizacional, envolvendo Bosley e Charlie - ao mesmo tempo em que se amplia o enfoque geral, agora internacional, assim como a valorização feminina. A diferença é que, se o novo MIB investiu em um humor infantilizado, este As Panteras prefere se ater ao choque de gerações, seja ao contrastar presente e passado através do personagem de Patrick Stewart ou mesmo com o bobo diálogo envolvendo Birdman e as várias faces do Batman - seria esta uma brincadeira implícita com o antigo romance entre Stewart e Robert Pattinson? Talvez, mas ainda assim gratuito.

Com sua dose previsível de tiroteios e explosões, sem grande brilho, As Panteras é mais uma reinvenção promovida por Hollywood de olho em eternizar marcas conhecidas, sem muita inspiração para tanto. Se Banks até oferece algo diferente com esta nova formação e a maior abrangência da agência Townsend, também entrega uma narrativa bastante burocrática, que pouco envolve o espectador. Apenas regular.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deFrancisco Russo (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *