Crítica


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Sinopse

Seis amigas argentinas têm o sonho de passar férias no Caribe. Todavia, a realidade econômica delas não permite ir além do terraço onde se encontram semanalmente para tomar sol.

Crítica

Gustavo Taretto mostrou-se um talento a ser acompanhado depois de ter lançado o belo e cativante Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011). Depois de uma longa espera, seu segundo longa-metragem Las Insoladas (2014) comprova o talento do diretor e roteirista em capturar a realidade de uma época e de criar bons personagens, em uma narrativa comandada basicamente pelos diálogos.

Na trama, ambientada na década de 1990, conhecemos seis amigas que, em meio à selva de pedra de Buenos Aires, passam o dia no terraço do seu prédio, tomando sol, desejando o bronzeado perfeito para uma apresentação de dança que terão logo à noite. Acompanhamos o dia daquele grupo, entramos em contato com sonhos e desilusões de cada uma, e observamos uma pequena transformação de comportamento quando o desejo de mudar de ares atinge àquelas seis mulheres. Elas decidem que no próximo ano estarão em uma situação diferente, em um lugar paradisíaco em Cuba, vivendo as férias inesquecíveis. Outro sonho ou uma vontade forte o suficiente para se tornar realidade?

Nos primeiros minutos de Las Insoladas, Taretto parecia muito próximo de se repetir. A trilha utilizada é bastante parecida com Medianeras e os prédios de Buenos Aires aparecendo em destaque lembram o passeio arquitetônico que propunha o filme anterior. Mas logo estas semelhanças vão se esvaindo e percebemos que aquelas cenas iniciais serviam quase como uma transição de uma produção para a outra. Como se o diretor dissesse: “Isso foi o que eu fiz antes, agora vejam o que posso fazer agora”. É quando a canção “Here Comes the Sun”, dos Beatles, surge, em uma versão instrumental cheia de ritmos latinos, e vamos percebendo o quanto o bater do sol nos prédios vai construindo aquela realidade que Taretto nos quer apresentar. A música (surpresa!) estava saindo de um rádio portátil em fita K7, o que nos dá a dica de quando esta história está se desenrolando.

Se em Medianeras, o diretor argentino quis fazer uma polaroide da situação atual dos relacionamentos em grandes cidades, mostrando que as metrópoles da mesma forma que nos unem, nos separam, em Las Insoladas o recorte que Taretto procura é de um passado não muito distante. Uma época em que celulares eram raridade, a internet era algo praticamente irreal e que a procura pelo bronzeado perfeito era de vital importância. Vemos aquelas seis mulheres torrando durante o dia todo, algo que no século em que vivemos sabemos o quão prejudicial pode ser à saúde.

Fosse um filme de Pedro Almodóvar, teríamos seis mulheres cheias de personalidade, coloridas, extravagantes. Taretto busca algo nestas linhas, mas é muito mais sutil no que tange suas personagens. É mais fácil acreditar que elas são pessoas reais, um tanto perdidas, com sonhos e desejos por vezes inalcançáveis. O sexteto formado por Luisana Lopilato, Carla Peterson, Violeta Urtizberea, Mariana Bellatti, Elisa Carricajo, Maricel Álvarez se mostra bastante coeso, sendo muito fácil acreditar que existe uma forte amizade entre elas. Isso, claro, não impede as fofocas, os disse-me-disse, e os desentendimentos.

Gravado praticamente todo em uma locação, o terraço de um prédio em Buenos Aires, e mantendo o filme apenas com diálogos, Gustavo Taretto constrói um filme divertido, com algumas boas sacadas e com elenco bem dirigido. Poderia ser mais curto. Se algumas passagens fossem cortadas não gerariam muitos problemas ao produto final, deixando-o mais enxuto e com gosto de quero mais, não menos. Quem espera pela sensibilidade de Medianeras pode ficar um pouco decepcionado, mas este novo trabalho de Taretto tem todos estes outros predicados já citados que o fazem ser interessante.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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Grade crítica

CríticoNota
Rodrigo de Oliveira
7
Robledo Milani
6
MÉDIA
6.5

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