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Sinopse

Depois de perder a mãe, o garoto Fernandinho acaba se tornando solitário. Nada parece lhe tirar desse torpor, isso até que um livro lhe faz mergulhar nas aventuras do Capitão Tormenta.

Crítica

Inspirado no clássico escrito por Erico Verissimo (autor de O Tempo e o Vento, 2013), As Aventuras do Avião Vermelho completou uma jornada tão ou mais tortuosa para chegar às telas do que a que percorreu há quase um século para ganhar as livrarias. Nascido no interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente na cidade de Cruz Alta, em 1905, Erico era um escritor em formação quando escreveu essa pequena história a respeito de um garoto, filho de um pai ausente e viúvo, que usa o poder da imaginação para conhecer mundos possíveis de serem visitados somente através do pensamento. Lançado em 1936, durante muitos anos foi considerado um trabalho “menor” dentro da obra do autor. Agora, no entanto, essa visão poderá ser refeita, graças à bela realização dos diretores José Maia e Frederico Pinto.

Após mais de dez anos de trabalhos, As Aventuras do Avião Vermelho está finalizado e pronto para alçar voo rumo a um público ávido por uma produção de qualidade inquestionável. Vencedor do prêmio Santander Cultural/APTV/Prefeitura de Porto Alegre para desenvolvimento de roteiros de longa-metragem em 2003, exigiu mais de uma década de esforços e dedicação dos seus responsáveis para que ficasse pronto e se apresentasse tal qual chega agora às telas. Como resultado tem-se um produto raro dentro do cenário cinematográfico nacional, que dialoga com competência com seu público alvo ao mesmo tempo em que possui elementos suficientes para entreter e encantar os demais curiosos que se aventurarem por sua trama.

Fernandinho (voz do novato Pedro Ian, ele próprio uma criança) é um menino arteiro criado sem rédeas por um pai (Sérgio Lulkin) sempre ocupado com seus compromissos profissionais. Os dois ressentem-se da falta da mãe e esposa, falecida há alguns anos, e a empregada Josefina (Zezeh Barbosa) até se esforça para manter a casa em ordem, mas obviamente não consegue suprir todas as carências da dupla masculina. Pai e filho, aos poucos, vão se aproximando, e um ponto em comum que descobrem é a paixão pela literatura. É quando o adulto oferece ao pequeno o livro do Capitão Tormenta, e com ele um pequeno avião vermelho.

Fascinado pelas histórias que descobre nas páginas literárias, o menino parte para uma jornada única, acompanhado dos bonecos Chocolate (Lázaro Ramos) e Ursinho (Wandi Doratiotto) e à bordo do intrépido Avião Vermelho (Milton Gonçalves), agora dono de um personalidade própria. A missão? Resgatar o Capitão Tormenta, supostamente perdido na inóspita Kamchatka! A maneira como se desenvolve a lógica através das brincadeiras infantis (como, por exemplo, o uso invertido de uma lupa) é perfeitamente compreensível, e os destinos visitados – da Usina do Gasômetro, ponto turístico singular no cenário de Porto Alegre, para a Lua, passando pelas selvas africanas e o colorido irresistível da Índia – possuem um encantamento muito próprio! Tudo é motivo para um deslumbre visual fantástico, que impressiona pelos detalhes e dinamismo de sua narrativa.

Com uma história enxuta – o roteiro foi escrito a seis mãos, em parceria do co-diretor Frederico Pinto com a produtora Camila Gonzatto e o jornalista Emiliano Urbim – e sem sobras ou deslizes, As Aventuras do Avião Vermelho tem como maior mérito saber exatamente a quem se direciona – às crianças – e assumir essa opção sem ressalvas. Algumas piadas – poucas – até podem ter um duplo sentido, e a dublagem de alguns atores mais conhecidos oferecem um charme a mais ao conjunto, mas em sua essência o que importa é a fantasia e o prazer da descoberta – algo típico das melhores infâncias. Aos maiores, no entanto, resta a sorte de reconhecer o enredo envolvente e os personagens cativantes, fazendo deste “Toy Story à gaúcha” um conto de fadas universal pronto para, literalmente, viajar o mundo. E que assim seja!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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