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Sinopse

Um ex-presidiário e uma policial se casam, mas descobrem que não podem ter filhos. Sem conseguir adotar, eles resolvem roubar o bebê de um magnata. Logo eles descobrem que ter um filho é uma tarefa árdua.

Crítica

Hoje, com toda uma carreira que pode ser analisada, não são mais novidades as divertidas peculiaridades nos filmes dos irmãos Joel e Ethan Coen, elas que se manifestam como humor negro ou nonsense, quando não combinando ambos. Arizona Nunca Mais, segunda realização da dupla, não só denuncia este viés, como também estabelece de forma marcante seu estilo.

Esses são aqueles balões com formas engraçadas? / Se você acha redondo engraçado. Este é o tipo de diálogo que os personagens têm naturalmente no filme. Não soa estranho, graças a toda uma condução pensada para aconchegar o espectador naquele universo absurdo habitado por H.I. (Nicolas Cage) e Ed (Holly Hunter). Depois de se casar com a policial responsável por tirar suas fotos no check in da prisão, H.I. descobre que ela é estéril e que devido ao seu histórico criminoso ele não pode adotar filhos, o que logo põe a atenção dos dois nos quíntuplos recém-nascidos de um casal abastado. Como consequência, acabam sequestrando um dos bebês para criar.

Os verdadeiros pais, porém, anunciam uma recompensa tentadora pela devolução do menino, o que coloca no encalço de H.I. e Ed os dois criminosos fugitivos Gale e Evelle (John Goodman e William Forsythe, respectivamente), além de um caçador de recompensas chamado Leonard (Randall ‘Tex’ Cobb) que tem um jeito próprio e indelicado de lidar com as coisas: explodindo-as. “Meus amigos me chamam de Leny, mas eu não tenho amigos”, é a fala que melhor resume esse motoqueiro, figura plausível dentro de uma trama que nos é pintada através de enquadramentos perfeitamente distribuídos e angulosos. Essa dimensão visual ajuda a constituir a aura “anormal” e propositalmente estranha que permeia todo o filme, quase como uma caricatura da vida real, engraçada justamente por ser caricatural. O diretor Joel usa travellings ousados, como aquele que passa do farol traseiro de um carro em movimento ao rosto em pânico de H.I., acostumando assim o espectador, através de sua linguagem cinematográfica, ao inusitado roteiro escrito junto com Ethan.

Entre repetições de pequenas tiradas, que ganham mais força conforme trazidas novamente para o enredo, e as observações bem humoradas apontadas acima, o texto confere um ritmo inerente à narrativa. Gale e Evelle parecem sempre terminar suas frases com o nome de H.I.; de outra forma, é engraçado notar a facilidade com que o protagonista é liberado da prisão após um diálogo de três linhas: Você não mentiria para nós, não é, H.I.? / Não senhora. / Ok, então.

Cage, aliás, encarnando mais um personagem que poderia ser chamado de “fora do comum”, sai-se admirável equilibrando calma estupidificada e energia insuspeita, arrancando uma sonora gargalhada quando numa espécie de “ataque de tesão” não consegue evitar de folhear rapidamente uma revista pornográfica antes de escondê-la. Enquanto isso, jamais cria uma química com sua parceira de cena, o que curiosamente é benéfico para o projeto que, então, tira proveito humorístico desse estranhamento do casal. Hunter faz rir quando repentinamente explode em emoção por ter conseguido um bebê: “Eu amo tanto ele!”, berra ela aos prantos, com um forçado sotaque texano. Todo o resto do elenco parece ter sua própria maneira de interpretar os tipos excêntricos escritos pelos Coen: Goodman aposta em uma dissimulação pouco sutil; Sam McMurray em uma afetação irritante; Cobb na sutileza contrastante com sua brutalidade.

São figuras que não soam deslocadas, justamente por estarem dentro de um filme assumidamente deslocado. Arizona Nunca Mais não termina, porém, sem deixar ao menos uma sequência memorável para trás, a perseguição envolvendo H.I., um pacote de fraldas e diversos outros elementos que começam a se somar num crescente caos – com a ótima música tema composta por Carter Burwell de fundo - que parece resumir o próprio projeto. O absurdo de sequestrar uma criança colocando uma escada do lado de fora da janela de seu quarto começa a parecer até mesmo factível quando chegamos no clímax composto por esse embate entre H.I. e Leonard. Divertido e ritmado, o longa-metragem é despretensioso e engraçado em sua simplicidade e peculiaridade, elementos que já anteviam as obras-primas que os irmãos Coen seriam capazes de realizar, algumas delas retomando as parcerias com Frances McDormand e o próprio John Goodman.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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