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Sinopse

Eles estudaram juntos, mas nunca foram verdadeiramente amigos. Jenko e Schmidt se reencontram na academia de polícia e formam uma dupla envolvida adiante numa confusão durante a prisão de um traficante. Por conta de seu desempenho vergonhoso, eles são remanejados para trabalhar infiltrados numa escola com alunos do ensino médio.

Crítica

Qual é o lado bom da versão cinematográfica do seriado oitentista Anjos da Lei? É não se levar à sério em nenhum momento. E sabe qual é o lado ruim deste mesmo filme? Não se levar à sério em momento algum. Sim, é isso mesmo, o fato de ser uma comédia debochada é o bom e o ruim do filme. Primeiro porque descobrimos um potencial como humorista do galã Channing Tatum, o indeciso Jonah Hill volta ao seu habitat natural com competência e o longa apresenta vez que outra algumas boas piadas – a sequência em que os protagonistas estão sob o efeito de drogas é particularmente hilária. Mas também é só isso, e nada mais. E é neste ponto também onde começam as comparações – afinal, o título e o espírito tenta nos remeter a uma série que vez muito sucesso em sua época, inclusive lançando o astro Johnny Depp. E é aí que esta o problema: se na televisão tínhamos um programa policial de muita ação e adrenalina, porque isso tudo foi substituído na tela grande por um besteirol sem pé nem cabeça?

Pra quem não lembra – ou não conheceu a versão original – Anjos da Lei era sobre um grupo de policiais novatos, todos com cara de adolescentes, que fazem parte de uma unidade especial localizada na Rua Jump, número 21 (o título original, 21 Jump Street). A missão deles é fingir serem mais jovens do que são de verdade e se infiltrarem em escolas e universidades, vivendo como tais, para desvendarem crimes que a “polícia comum” não possui alcance, como drogas, violência familiar e até casos de corrupção. O seriado teve um total de 5 temporadas, de 1987 até 1991, e por isso é completamente compreensível que a gama de casos investigados tenha sido alargada ao máximo, beirando o absurdo. Mas nada como o que vemos neste longa-metragem. Buscou-se criar um histórico para a dupla central – o nerd e o campeão do time de futebol, inimigos na escola, colegas na academia e agora parceiros contra o crime. Inseparáveis, os dois se revelam grandes incompetentes nas patrulhas tradicionais, e por isso são direcionados para essa nova divisão. E o que já era ruim, piora de vez. Nos dois lados da tela.

Schmidt (Hill) é o gordo tímido e gênio nos estudos, mas sem o menor jeito com as garotas. Jenko (Tatum), por sua vez, é o oposto: bonito e atraente, conquista a todos com sua aparência e uma lábia esperta, porém se dá mal nos exames. Os dois se complementam, portanto. Mas como tudo é tão forçado, o espaço para qualquer tipo de sutileza se evapora em instantes, e o que acontece é uma obviedade atrás da outra. Na nova “escola”, os policiais precisam se enturmar para descobrir a origem de uma droga poderosa surgida há pouco e que já levou alguns estudantes à morte por overdose. Para mostrar que os tempos mudaram, os papéis se invertem: se dez anos atrás o bacana era ser forte e atlético, agora as atenções estão nos ecologicamente responsáveis e o bullying é algo impensável. Tem até um momento em que um deles diz: “a culpa disso tudo é do Glee”, referindo-se ao show musical estrelado por fracassados. Mas ao virar o centro das atenções, Schmidt logo esquece sua tarefa inicial, inebriado pela popularidade e pela falsa realidade que está vivendo. E daí surge a chance de Jenko, sempre tão desacreditado, mostrar seu verdadeiro valor e não só resgatar o amigo da ilusão como também desvendar o caso.

Anjos da Lei é, acima de tudo, bobo. Muito pouco possui em comum com a série original, e nem a benção de Johnny Depp, Peter DeLuise e Richard Grieco (todos do elenco televisivo), efetivada numa participação especial espirituosa, consegue estimular um apreço maior. Channing Tatum aproveita bem o espaço oferecido para explorar outros potenciais, e se sai bem, indo além da figura bonitinha para mostrar uma versatilidade até então insuspeita. Pior se sai Jonah Hill, que após ter conseguido uma inexplicável indicação ao Oscar neste ano por O Homem que Mudou o Jogo (2011), volta ao mesmo papel que o lançou em Superbad: É Hoje! (2007), o do freak sem noção que quase põe tudo a perder. Alguns até podem considerá-lo carismático, mas no meu entender é um ator de apenas uma nota, e aqui ela se manifesta no modo mais irritante possível. E a direção da dupla Phil Lord e Chris Miller, cujo único destaque anterior é a irregular animação Tá Chovendo Hambúrguer (2009), não colabora com criatividade no resultado final, limitando-se a abrir espaço para os showzinhos particulares dos protagonistas. E assim temos duas ou três piadas de fato divertidas, uma trama tola e inverossímil, com a qual ninguém se importa, e uma história que antes mesmo do fim dos créditos já terá sido esquecida.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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