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Sinopse

Anita Garibaldi foi uma heroína sul-brasileira, aqui retratada na sua simplicidade de cidadã comum e muito pobre. Com o passar dos anos, torna-se guerreira indômita e libertária, quebrando paradigmas da época em que vivia.

Crítica

A heroína sulista Anita Garibaldi já foi retratada incontáveis vezes nos palcos e nas telas, tanto em seriados como A Casa das Sete Mulheres quanto em filmes como Anita e Garibaldi (2012). Ainda assim, a jornada da mulher que precede sua condição de mito sempre foi pouco explorada ou dissociada da figura do revolucionário Giuseppe Garibaldi, algo que o longa-metragem catarinense Anita tenta corrigir. Talvez houvesse motivos para não apresentar a juventude de tão icônica figura da história brasileira, afinal. Ao subir dos créditos finais da produção, percebe-se que não havia nada de muito interessante ou relevante para contar.

Ana Maria de Jesus Ribeiro nasceu no interior de Santa Catarina, na região de Laguna, em 1821. Filha de um pobre casal que sobrevivia da lida campeira, a terceira de 10 filhos teve de assumir grandes responsabilidades ainda no início da adolescência, principalmente após o falecimento de seu pai e o casamento de sua irmã mais velha. De personalidade arredia e autêntica, a garota sofreu as muitas agruras tão comuns entre pobres famílias durante o império brasileiro. Anita apresenta uma fatia da vida dessa personagem, do seu nascimento ao primeiro casamento, com Manuel Duarte de Aguiar.

Considerada uma superprodução sem precedentes em solo catarinense, Anita sofre por conta das ambições de seus realizadores, o roteirista Rolando Christian Coelho e o diretor Olindo Estevam, que insistem em atribuir tons épicos e grandiloquentes para uma narrativa majoritariamente prosaica. Há alguns momentos importantes nos primeiros anos da biografia da revolucionária, como a morte do pai e o abuso sexual. O restante da trama é pautado em dramas introspectivos de Ana e pequenos conflitos familiares, que pouco sustentam os 105 minutos de duração do filme. O roteiro, episódico, parece preparar o espectador para o que há porvir na construção da grande Anita Garibaldi – o que é um desserviço, porque este filme jamais a irá apresentar.

A direção de arte e figurinos em Anita não sustentam as pretensões do drama, assim como outros valores de produção, que ficam abaixo das expectativas. Ainda que algumas indumentárias gauchescas sejam fidedignas, são nas vestes mais ordinárias que o filme decepciona, algo que também ocorre com os cenários pouco críveis, construídos exclusivamente para o longa – como o centro comercial da pequena Laguna. Quando se transfere para as belas paisagens naturais dos Campos de Cima da Serra, a fotografia se perde entre o retrato dos personagens e locações; as transições que mostram a sôfrega viagem de Anita e seu pai entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, são tão artificiais quanto deslocadas.

Lize Souza, que já deu vida à Anita nos palcos em montagem homônima, tem a incumbência de caracterizar a personagem em sua adolescência, algo que só vai funcionar se o espectador ignorar ou desconhecer a informação de que a jovem ali retratada tem 14 anos de idade. Ainda que tenha presença de tela e controle dramático louváveis, falta direção em sua composição, que caminha entre o melodrama e nuances mais sutis ao desenvolver de cada sequência. Atores mais renomados, como Neusa Borges, Rosi Campos, Walter Breda e Jackson Antunes, têm participações tão velozes que mal justificam seus nomes nos créditos. Em determinado momento de Anita, uma cigana prevê o futuro de sangue e batalhas da personagem e isso é retratado rapidamente num instigante foreshadowing, que, no entanto, nunca se concretiza em tela. Ao fim, é essa sensação mais permanente que o filme propicia: de que ele poderia ser e oferecer muito mais, mas isso nunca chega, de fato, a acontecer.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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