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Sinopse
Em Amores Materialistas, Lucy, uma jovem e ambiciosa casamenteira de Nova York, EUA, se vê dividida. Ela está entre o par perfeito, Harry, e seu ex-imperfeito, John. Um triângulo amoroso pra lá de complexo está formado e ela terá de superas as adversidades que criou para si mesma. Comédia/Romance.
Crítica
Antes de mais nada, é importante esclarecer o quão equivocada foi a campanha de marketing desse filme. A Sony, responsável pela distribuição, tratou Amores Materialistas como se fosse mais uma comédia romântica genérica. Entre as peças publicitárias, havia até uma “batalha de amores”, para que os espectadores interessados escolhessem entre o #TimePedro ou o #TimeChris – ou seja, nem se tratava dos personagens, era mais focado nos atores Pedro Pascal e Chris Evans, na verdade. Mas o segundo longa da diretora Celine Song não poderia ser menos relacionado a esse tipo de divulgação. O que ela entrega agora é uma drama bastante pessoal, focado na jornada da sua protagonista – não em um dos galãs, e, sim, a até então pouco exigida Dakota Johnson, em uma das suas melhores performances – passando por um ou outro pretendente, mas mais do que isso, questionando-se o que deseja para si e para sua vida. O conforto de uma existência estável e até certo ponto confortável, ou a excitação de um relacionamento guiado mais pelo momento, e menos por motivações racionais? Quem nunca se fez esse tipo de pergunta, que atire a primeira pedra.
Após o delicado e incisivo Vidas Passadas (2023) – que estreou direto na mostra competitiva principal do Festival de Berlim e terminou sua jornada com duas indicações ao Oscar, nada menos do que nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original – Song se aventura nesse segundo projeto como realizadora ousando pouco, mas investindo pesado no seu estilo próprio de contar histórias. A estrutura de ambos os filmes é similar: focado numa personagem feminina, cujos sentimentos em diferentes momentos são traspassados por dois homens distintos entre si, mas igualmente dedicados a sua figura. No entanto, as ambições dessa mulher não se restringem a um desenlace romântico: isso é apenas parte do que ela é, sente e aspira. Se antes Nora se via em um casamento sólido com Arthur quando uma paixão da adolescência reaparece por um dia em sua vida, levando-a a se perguntar sobre os rumos percorridos até aquele momento, agora é a vez de Lucy (Johnson) lidar com a mesma problemática, porém em um estágio ainda anterior: antes de se ligar a um ou outro pretendente, precisa definir o que busca para si mesma.
Por mais que tenha ficado marcada por seu envolvimento em projetos comerciais como a trilogia Cinquenta Tons de Cinza ou a frustrante aventura Madame Teia (2024), da Marvel, Dakota Johnson tem desenvolvido uma carreira curiosa, que não desvia de riscos e ousa ir além de ser reconhecida apenas como a filha de astros dos anos 1980. Títulos como Um Mergulho no Passado (2015), de Luca Guadagnino, e A Filha Perdida (2021), de Maggie Gyllenhaal, comprovam essa disposição em se afastar de zonas ditas seguras. Sua Lucy é uma profissional competente que trabalha como casamenteira, ao mesmo tempo em que não acredita mais no amor. Para ela, tudo se trata de uma questão matemática: o quão alto (ou baixo) a pessoa é, seu salário anual, hobbies e atividades de lazer, o que cada um busca para o futuro. São essas questões que, segundo ela, determinam o sucesso ou não de um casal. A ela, portanto, falta encontrar as respostas que servem para si. Primeiro, imagina estar diante do homem ideal quando passa a ser cortejada por um solteirão milionário, Harry (Pedro Pascal, carismático, mas deslocado por não estar no centro das atenções). Mas há a lembrança de um amor maior, vindo do passado e mal resolvido: o aspirante a ator e garçom John (Chris Evans, esforçado e distante da pose heróica com a qual se acostumou, o que lhe faz bem).
A dúvida, portanto, nunca esteve em se Lucy deve ficar com o rico Harry ou com o pobre John. Amores Materialistas não é sobre isso. Até porque em nenhum momento chega a se formar esse suposto triângulo amoroso. Ela esteve envolvida com um antes, se separou, conheceu outro, e está descobrindo se os dois funcionarão juntos ou não. Mas, ainda antes disso, é o seu processo pessoal de identificação do que lhe é de fato prioridade o cerne do debate. Em um dos primeiros trailers do filme, a trilha era de um cover de “Material Girl”, agora interpretada por Phlotilla. Nessa música, um dos versos afirma que “o rapaz com o bolso cheio é sempre a escolha certa”. Porém, no trailer original, Madonna aparecia fantasiada de Marilyn Monroe entre jovens com diamantes e muitos dólares, mas terminava apaixonada por um carroceiro de chapéu de palha (que estava fingindo para conquistá-la, pois na verdade era o dono do estúdio, mas isso é outra história). Enfim, o título era uma ironia. Eis o espírito almejado por Celine Song. Fala-se em seu filme – e há muitos diálogos e discussões, em sequências quase teatrais, mas que acondicionam-se ao que o enredo pretende e, portanto, funcionam – sobre lógica, quando o amor é puro instinto e emoção. Entender isso, portanto, é o maior mistério. Mais do que qualquer bobagem sobre cirurgias nas pernas ou paixões pré-históricas, que até adicionam um toque inesperado e divertido ao conjunto, mas mais distraem do que de fato colaboram com a discussão.
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