Crítica
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Sinopse
Depois de um evento traumático, Bea começa a enxergar os amigos imaginários de todas as pessoas que estão ao seu redor.
Crítica
Mundialmente famoso após interpretar Jim no seriado The Office (2005-2013), John Krasinski migrou à direção cinematográfica sempre colocando em evidência questões familiares. Desde a sua estreia no comando de longas-metragens, com Família Hollar (2016), até os tensos e elogiados Um Lugar Silencioso (2018) e Um Lugar Silencioso: Parte II (2020), ele tem se focado nos problemas que ameaçam destruir as unidades familiares. Isso não é diferente em Amigos Imaginários, seu primeiro trabalho direcionado ao público infantil. Do debute como realizador em 2016, Krasinski retoma a ideia da doença como a força avassaladora que coloca um grupo familiar em risco. Aos 12 anos de idade, a protagonista Bea (Cailey Fleming) teve de lidar com a morte precoce da mãe e está na expectativa pela cirurgia de alto risco que visa curar o problema grave de saúde do pai (Krasinski). Vivendo nas fronteiras entre a infância e a adolescência, a garota é cuidada pela avó na cidade de Nova Iorque enquanto aguarda sem muito poder fazer além de torcer. É quando Bea começa a ver seres fantásticos, os MIGs, amigos imaginários tão comuns como companheiros das crianças. Eles estão sofrendo para encontrar “trabalho”, uma vez que seus pequenos parceiros cresceram e os esqueceram. Orientada pelo vizinho Cal (Ryan Reynolds), Bea assume a missão de encontrar lares para cada um dos MIGS carentes de atenção.
O cinema já mostrou diversas vezes crianças vivendo uma aventura espetacular em meio à qual elaboram em segundo plano algo traumático. Um dos principais paradigmas desse tipo de história no cinema norte-americano é E.T: O Extraterrestre (1982), no qual o protagonista embarca numa jornada agitada para salvar o novo amigo vindo do espaço enquanto lida com os efeitos da separação dos pais. Ao ajudar o outro – geralmente alguém ainda mais vulnerável –, aprende-se a força da solidariedade e se pode desfocar dos próprios problemas, crescendo emocionalmente. É exatamente o que acontece com Bea em Amigos Imaginários, mas sem a mesma profundidade emocional atingida por Steven Spielberg. Na primeira incursão de Krasinski pelo cinema infantil, o caminho de amadurecimento de Bea é mais inocente, sobretudo porque o cineasta deixa frouxos os laços simbólicos entre humanos e MIGs. Aliás, os amigos imaginários têm pouca personalidade, sendo estritamente figuras carismáticas com características peculiares – traços originários da imaginação das crianças que os criaram para conseguir enfrentar a realidade, principalmente em momentos ásperos. John Krasinski mergulha nessa ideia de fazer um filme voltado aos pequenos, uma espécie de decalque de Monstros S.A. (2001) ora animado, ora em live-action, ainda mais fofinho e com um ensinamento importante no encerramento feliz.
Em Amigos Imaginários¸ John Krasinski constrói um conto moral leve e divertido, no qual as soluções para problemas difíceis estão na palma da mão, bastando acreditar para as encontrar. No entanto, tendo em vista a predileção do cineasta/ator por histórias com ameaças graves que podem desmantelar famílias, o filme torna dispersas (quase frias) as relações de codependência entre a tarefa de socorrer os amigos imaginários ansiosos para voltar à ativa e a ameaça silenciosa de que, com a possível morte do pai, os referenciais de Bea se reduzam à avó carinhosa interpretada por Fiona Shaw. O roteiro assinado por Krasinski prioriza as interações da menina com Cal e as de ambos com os MIGs, mas em poucas ocasiões indica como essa tarefa desafiadora de devolver o propósito às criaturas influencia a protagonista que precisa crescer antes do tempo para lidar com os contratempos da vida. Desse modo, não sentimos que o êxito na recondução dos MIGs à sua razão de ser determinará o amadurecimento de Bea. Por sua vez, Cal é uma figura enigmática, o sujeito que parece cansado de interagir com os MIGs e de tentar o que parece impossível: fazer com que todos voltem a sorrir. Guardando algumas boas cartas na manga para surpreender próximo do clímax, o realizador derrapa ao não enfatizar o quão a missão será importante, em alguma medida, à manutenção dessa unidade familiar desfalcada.
A produção conta com as vozes originais de diversos astros e estrelas hollywoodianos, mas ficaremos devendo uma análise sobre esse aspecto porque a distribuidora brasileira decidiu apresentá-lo em versão dublada à imprensa. Nela, o gigante carismático Blue tem a voz de Murilo Benício (a original é de Steve Carell) e a graciosa Blosssom ganhou a voz de Giovanna Antonelli (a original é de Phoebe Waller-Bridge). Voltando ao discurso do filme, Bea é a heroína imbuída da força que ela mesma não sabia possuir. Porém, isso é somente sugerido nas entrelinhas, nunca ressaltado como item essencial para tudo dar certo no fim das contas. Então, o problema do filme é certo relaxamento na hora de juntar os pontos, de colocar os pingos nos is, de mostrar que as atitudes são motivadas por sentimentos/expectativas/reações/medos nem sempre visíveis. O reconhecido carisma de Ryan Reynolds dessa vez é colocado à disposição de um personagem clássico, o palhaço triste. Ainda que seja um dos pilares da produção, Cal apresenta mudanças abruptas de humor e comportamento, guinadas convenientes por serem atalhos e evitar que a melancolia ameace tanto a esperança. Amigos Imaginários toma o lúdico como estrada relativamente segura em direção à positividade, não deixando que os contratempos comprometam a certeza do “felizes para sempre”, se sustentando bem como aventura inocente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Alysson Oliveira | 3 |
Francisco Carbone | 7 |
MÉDIA | 3.3 |
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