Crítica

jesse-eisenberg-kristen-stewart-e1432936191727

É notório que a maior vontade dos realizadores da campanha de marketing de American Ultra: Armados e Alucinados é fazer com que o espectador acredite que encontrará outro Segurando as Pontas (2008), divertida comédia aventuresca protagonizada por Seth Rogen e James Franco. O trailer prometia isso, visto que não são poucas as referências à maconha e ao fato de o protagonista, vivido por Jesse Eisenberg, se meter em uma enrascada sem saber direito o que está acontecendo. Este filme dirigido por Nima Nourizadeh (de Projeto X: Uma Festa Fora de Controle, 2012) nunca chega perto daquela diversão anunciada, ficando mais próximo de um sub O Procurado (2008) ou um Kingsman: Serviço Secreto (2014) de segunda linha.

Na trama, assinada por Max Landis (de Poder sem Limites, 2012), observamos pela primeira vez Mike Howell (Eisenberg) em uma delegacia, com o rosto cheio de hematomas e pronto para dar seu depoimento ao policial encarregado. Voltamos um pouco no tempo para saber que o rapaz, fã de canabis sativa, tem uma vida tranquila ao lado da namorada, Phoebe (Kristen Stewart). Ele atende num mercadinho, ela trabalha com fianças. Não existem muitos objetivos. Qualquer plano para o futuro é barrado pelos ataques de pânico de Mike, que só de pensar em deixar sua cidade já surta. Sua vida muda quando uma mulher misteriosa (Connie Britton) aparece no mercado e profere algumas palavras sem muito sentido. Ele não entende, mas ela estava ativando a sua memória. Na verdade, Mike faz parte de um projeto secreto da CIA, uma espécie de superagente adormecido. Neste momento, seu destino está selado pelo arrogante agente Yates (Topher Grace), que pretende eliminar qualquer traço deste programa. Agora, Mike terá de se virar para salvar sua pele e a de sua namorada em um cenário cheio de espiões treinados e perigosos.

150820_MOV_EisenbergAmericanUltra.jpg.CROP.promo-xlarge2

American Ultra se mostra uma mistura pouco coesa de comédia e ação. No segundo quesito, existem algumas cenas que conseguem salvar a produção – boas coreografias de luta e violência nada dosada podem alegrar os fãs do gênero. Por exemplo, o comportamento de Mike, de início, não é muito diferente do que o desmemoriado Jason Bourne teve em A Identidade Bourne (2002) e o filme, por vezes, parece querer passear pela seara das produções mais sérias de ação. O problema principal é a parte cômica, que nunca consegue entregar os risos. Não basta Jesse Eisenberg aparecer com uma expressão um tanto vazia para que o público ache graça. Eram necessários melhores diálogos e algum resquício de timing cômico que desse conta das pretensões do filme. Se não bastasse isso, o fato do protagonista fumar maconha nunca faz diferença alguma na história. De novo, parece uma forma de colocar o filme em uma luz que seja reconhecida pelo público que curtiu outras comédias “alucinadas”.

O elenco de apoio é incrivelmente mal utilizado. John Leguizamo era um dos poucos que parecia ciente da necessidade de divertir o espectador e é defenestrado rapidamente da história. Topher Grace também tenta, mas exagera demais. E Connie Britton e Bill Pullman mal tem algum espaço para mostrar alguma coisa. Só Kristen Stewart e Jesse Eisenberg – que já haviam contracenado juntos no divertido Férias Frustradas de Verão (2009) – ganham tempo para desenvolver os personagens e não se saem mal. A história que os envolve é que não tem muito sentido ou força.

03

De qualquer forma, algumas boas cenas de ação e uma edição caprichada, cheia de cortes rápidos e algumas firulas, faz com o que programa nunca seja tedioso. American Ultra pode não ser uma produção cinco estrelas, mas tem capacidade de entreter um público menos exigente à procura de um passatempo rápido e rasteiro. Mas nada além disso, infelizmente.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
avatar

Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *