Sinopse
Um macaco prego, criado em cativeiro, se vê perdido em plena Floresta Amazônica após um acidente de avião. A partir de então, o pequeno Castanha irá desbravar este novo mundo, conhecendo os animais típicos da região, as novidades da flora e até outros iguais a ele, descobrindo como sobreviver nesse novo habitat.
Crítica
Após ser exibido com sucesso na sessão de encerramento do Festival de Veneza 2013, quando fez sua estreia mundial e acabou premiado com o reconhecimento especial Ambiente WWF Award, Amazônia chega aos cinemas brasileiros ligeiramente modificado em relação ao seu conceito original. Isso se deve ao fato dos distribuidores brasileiros não acreditarem totalmente no potencial do longa e, principalmente, na inteligência do público nacional. Assim, ao invés de termos a oportunidade de conferir a mesma epopeia verde que encantou plateias dos festivais de Toronto, Zurique e de diversos países europeus – onde se encontra em cartaz desde o final do ano passado – o que vemos é uma ligeira aventura para crianças, curiosa em alguns momentos, divertida em outras, porém passageira e sem maiores repercussões.
E não que o filme tenha sido refeito ou sofrido cortes. A grande mudança entre as versões internacionais e a em exibição por aqui está em um acréscimo, um elemento desnecessário que foi adicionado após sua finalização inicial. A obra idealizada pelo diretor francês Thierry Ragobert e roteirizada por, entre outros, Luiz Bolognesi, acompanhava um macaco-prego domesticado que, após um acidente de avião, se vê perdido em uma grande floresta – a do Amazonas – onde estabelece contato pela primeira vez com animais exóticos dos mais diversos tipos, desde insetos minúsculos até onças e antas. Inclusive, é claro, com outros de sua própria espécie. Uma jornada similar àquela vivida pelos personagens da animação Rio 2 (2013), porém com um tom mais científico e comprometido com a realidade. Específico para plateias internacionais, portanto – ou ao menos é o que somos levados a acreditar.
O filme lançado no Brasil mantém tem esse mesmo arco narrativo. A mudança está no acréscimo de uma narração engraçadinha – cortesia de Lúcio Mauro Filho e Isabelle Drummond – que se propõe a oferecer personalidades humanas aos pequenos protagonistas. Não se trata mais de um animal próprio daquele habitat, porém estranho a ele devido a sua vida pregressa em cativeiro, que passa a se confrontar com outros seres tão ou mais selvagens que ele, ao mesmo tempo em que vai descobrindo como se adaptar àquele ambiente. O que temos no lugar é um bichinho apelidado de Castanha, que sente frio, fome e saudades da criança que o criou. Assim, presenciamos ser explicitado através de palavras tudo aquilo que seria possível descobrir da mesma forma que o macaquinho, porém sem a necessidade de se refletir a respeito – afinal, qualquer dúvida é eliminada antes mesmo de ser elaborada.
Os diálogos, providenciados pelo escritor José Roberto Torero, são pueris e ingênuos, indicados especificamente para um público infantil. O espectro de audiência que Amazônia poderia alcançar se reduz drasticamente com essa decisão. Se o objetivo de Ragobert era se comunicar com quem está acostumado com sua obra – como fantástico o documentário O Planeta Branco (2006), sobre a vida animal nos polos – a atitude dos produtores Caio e Fabiano Gullane elimina essa possibilidade. A ficção racional que surgiria através da montagem e do registro visual era, ao mesmo tempo, um caminho sábio e inteligente para a realização deste trabalho. Mas agora, com esta condução narrativa, um novo foco se impõe, facilitando o acesso das crianças, da mesma forma em que afasta o espectador mais qualificado.
Tenta-se despertar interesse também pelas belas imagens captadas, retratos fieis da vida selvagem nesse ambiente tão reservado. Porém, tirando o competente 3D de sua projeção, não se tem nada muito diferente daquilo constantemente exibido em programas como Globo Repórter ou do National Geographic Channel. Amazônia é um filme bonito e tecnicamente competente. Possui um valor evidente, mas não no que diz respeito as suas questões fílmicas, afinal está longe de ser deslumbrante ou original. E acredite, isso faz uma diferença enorme.
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