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Sinopse

Uma sucessão de histórias curtas na cidade do Recife. Um açougueiro casado com uma mulher evangélica mantém uma amante. Um necrófilo é fascinado pela dona de um bar. Um rapaz sonha em conquistar o açougueiro.

Crítica

Amarelo Manga não é um filme para todos os públicos. Isso é o primeiro sinal, o alerta inicial para qualquer um que se interesse em conferir essa que é uma das mais instigantes produções de 2002. Trata-se de um filme seco, duro, resultado de obstinação e trabalho duro, realizado sem concessões e exibido de acordo com os anseios de seu diretor, tal qual o imaginou. Muitos irão amá-lo, endeusá-lo, aplaudi-lo com satisfação. Outros tantos – e isso é certo – irão se deixar levar pelo ímpeto de abandonar a sala no meio da projeção, na melhor das hipóteses. Esses, no entanto, estarão abandonando uma aula de cinema feito com sangue, suor e muita, mas muita vontade.

Um trabalha num açougue, carneando o gado que chega. O outro cuida de um hotel de quinta categoria e está disposto a qualquer coisa para ter esse um na sua cama. Este, por sua vez, é casado com uma crente, além de ter como amante uma vagabunda de plantão. Tem ainda a dona do botequim, a imagem perfeita da desilusão. E também aquele que, entre suas taras, adora lamber cadáveres, para depois usá-los como alvo para tiro. Como se pode perceber através dessa descrição rápida, Amarelo Manga não é um filme de história, mas sim de personagens. Seres que vivem, respiram, suam, transam, têm suas virtudes e defeitos. E que, acima de tudo, seguem em frente, mesmo diante de toda a desgraça que os ronda.

O cenário de Amarelo Manga é uma Recife que não está nos circuitos de turistas. É o lado podre, sujo, fedido e ardente, latejante e colorido. É uma cidade que poderia estar em qualquer lugar do mundo, mas que foi retratada como só alguém que a conhece bem poderia idealizar. Recife vira personagem do filme, interferindo em suas ações e revelando caminhos novos, destinos possíveis. A tragédia é premente desde a fantástica sequência de abertura, que por si só é um excelente resumo de tudo que está por vir. O que é mostrado em cena é tão visível quanto a cor da fruta que mais se destaca na fruteira, mas que todos preferem ignorar como se não existisse. Mas há sempre a certeza, e aqui está a mensagem, de que ela está ali, no canto, presente e pertinente, impossível de se esquecer, ou ignorar.

O longa de estreia de Cláudio Assis conseguiu um feito raro: venceu, no Festival de Brasília, os prêmios de Melhor Filme segundo o júri oficial, júri popular e pela crítica. Ou seja, agradou a gregos e troianos. Mas isso está longe de ser um sinal de que estamos diante de uma unanimidade. Não, longe disso, porque essa é burra, e quem confere Amarelo Manga verá que burrice é um elemento estranho à obra. Este é um trabalho original, vivo e necessário à nossa cinematografia. Não é um produto para todos. Mas aqueles que souberem reconhecer seus valores serão presenteados com grande louvor.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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