Crítica
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Sinopse
A Interpol emite o seu famoso "alerta vermelho", pedido global de captura de criminosos que representam um perigo global. É a hora do melhor investigador do FBI entrar em cena. E ele vai se unir a um golpista para pegar uma famosa ladra de obras de arte.
Crítica
Apontada como a mais cara produção da história da Netflix, Alerta Vermelho contou com um orçamento de quase US$ 200 milhões. Tudo o que arriscou em números, no entanto, se mostra contido no que diz respeito ao elenco e à trama. Afinal, os produtores Beau Flynn, Dany e Hiram Garcia, Rawson Marshall Thurber e Dwayne Johnson – que estiveram juntos em muitos sucessos do astro, como Arranha-Céu: Coragem Sem Limites (2018) – se garantiram ao escolher como protagonistas três figuras emblemáticas enquanto ícones, mais importantes do que eventuais tipos que se veem obrigados a defender, como também se seguraram em os colocar em meio a uma história absolutamente genérica, que mais se assemelha a uma mal engendrada colcha de retalhos feita de recortes aleatórios presentes em qualquer cartilha do gênero. É tudo tão superlativo e exagerado que somente aqueles mais mal-humorados não se deixarão levar por tamanha bobagem. O segredo, portanto, é fazer como os que estão em frente (e atrás) das câmeras, e não se levar a sério. Enfim, procurar rir e se divertir tanto quanto eles.
Ao invés de Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot, que uma coisa fique clara ao espectador: em Alerta Vermelho, a ação é conduzida por Hobbs, Deadpool e Mulher-Maravilha. John Hartley, Nolan Booth e O Bispo são apenas nomes genéricos que lhes são atribuídos, desprovidos de consistência ou lógica – assim como o enredo no qual se veem envolvidos. Afinal, o primeiro nada mais é do que uma muralha ambulante (chega a ser chamado assim por um colega), um policial obrigado a atuar no outro lado da lei temporariamente, tal qual visto em sua participação na saga Velozes e Furiosos. O segundo, por outro lado, conquistou um espaço cativo em Hollywood como o herói de boca rápida e gestos mirabolantes, mais preocupado com a quantidade de piadas capaz de disparar a cada minuto do que com o resultado de suas atitudes, assim como o desbocado mutante da Marvel. E ela, por fim, imprime a cada aparição a mesma imponência e segurança percebidos em abundância na heroína da DC. Ou seja, não há preocupação alguma em criar algo. Seguem por trilhas seguras, já muito exploradas, aqui recicladas sem muita inspiração ou vontade.
O fiapo de história que os une é explicado logo no prólogo, antes mesmo de qualquer movimento: Marco Antônio teria presenteado Cleópatra, no Egito antigo, com três preciosos ovos de ouro. Com a morte dos dois, essas relíquias se extraviaram, e atualmente sabe-se apenas o paradeiro de duas delas. Booth e o misterioso O Bispo são dois dos maiores ladrões de arte do mundo, e ambos querem colocar as mãos no trio – para isso, precisam não apenas roubar os dois muito bem resguardados, como também descobrir onde está o terceiro. E mais: terão no encalço Hartley, um agente do FBI obstinado em colocar ambos atrás das grades. O problema é que os machos-alfa se veem vítimas de uma armadilha da fêmea fatal, e não apenas acabam trancafiados em uma prisão russa de segurança máxima, como o policial tem sua identidade posta sob suspeita e, consequentemente, suas credenciais são suspensas. Uma vez o cenário armado, cada um terá um objetivo a ser cumprido. Uma missão que nem sempre será explícita do início ao fim, afinal, reviravoltas, quanto mais inesperadas melhor, também fazem parte do cardápio.
Marshall Thurber começou como cineasta conduzindo comédias tolas, como Com a Bola Toda (2004) – com Ben Stiller e Vince Vaughn, sobre um campeonato de... queimada! – e Família do Bagulho (2013) – com Jason Sudeikis e Jennifer Aniston numa espécie de Férias Frustradas com maconha. Sua trajetória começou a mudar ao cruzar pelo caminho de The Rock em Um Espião e Meio (2016), e desde então não mais se desgrudaram. Alerta Vermelho é o filho mais planejado desse casamento, fruto de uma engenharia genética bastante precisa, cujos cálculos foram vistos e revistos até os mínimos detalhes. Contas essas que levaram mais em conta como agradar ao maior número possível de membros da audiência, atendendo aos mais diversos espectros de linguagem, conexão e sintonia, e deixando de lado qualquer preocupação artística ou cultural. É entretenimento puro, sem almejar nada além do momento pontual no qual se desenrola. Enquanto dura, até se ocupa em envolver as atenções com explosões, tiroteios, viagens a lugares paradisíacos e uma dinâmica inquieta, pronta a redirecionar seu foco a cada instante. Porém, assim que os créditos finais se anunciam, tão rápido quanto se instaurou também se dissipa, deixando para trás uma sensação fugidia de passatempo irrelevante, ainda que um tanto ingênuo. Pois, com intenções tão declaradas, difícil é acusar o resultado de não ser, ao menos, honesto.
Esse imbróglio de ladrões espertos e golpes confusos consegue, ao menos, aquilo a que se propõe, por mais momentânea que seja a sensação alcançada. Se Johnson e Reynolds recebem maior destaque, é pela forte química que revelam entre si, num bem orquestrado caso de bromance que tem tudo para ser melhor explorado em oportunidades futuras – dentro e fora dessa nova franquia. Sim, pois Alerta Vermelho deixa clara sua condição de porta de entrada a um universo no qual esses três ainda terão muito o que desvendar – e compartilhar – juntos. Assim, fazem bem em deixar Gadot numa posição idealizada, tanto sua figura dramática como a presença da atriz, que não a exige além do seu limite, e também potencializa cada entrada sua em cena. De Indiana Jones a James Bond, estão para o que der vier, dançando conforme a música, sem se importar com o tom farsesco ao qual se veem submetidos. Quando finalmente próximos do tesouro tão cobiçado, no meio de tantas possibilidades, um deles pergunta: “como encontrar o que estamos procurando?”. Como resposta, ouve do outro: “é só procurar pela caixa com a etiqueta que diz MacGuffin”. Para quem não sabe, qualquer manual de roteiro explica que “MacGuffin é um dispositivo de enredo, ou seja, um objeto ou objetivo que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa”. Ou seja, algo inserido não pela sua relevância, mas pela condição que assume para que a história se desenvolva. Um fim que justifique os meios. Tal qual o que tão bem se percebe por aqui.
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