Al-Shafaq: Quando o Céu se Divide
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Esen Isik
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Al-Shafaq - When heaven divides
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2019
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Suíça / Turquia
Crítica
Leitores
Sinopse
Um pai que perdeu o filho. Um garoto que perdeu o irmão mais velho. Os dois estão perdidos, mas ansiosos por se encontrarem.
Crítica
São tantos os paralelismo artificialmente forçados em Al-Shafaq: Quando o Céu se Divide que, ao término da projeção, restará apenas dois caminhos ao espectador: ou ceder à manipulação de uma narrativa comprometida, ou se manter atento a essas manobras e rejeitar um discurso que, em outras mãos, até poderia render um debate interessante. No entanto, o diretor e roteirista Esen Isik – em seu segundo longa-metragem, o primeiro após Köpek (2015), de temática mais relevante e resultados mais interessantes – dá claros indícios de vislumbrar apenas um tipo de retorno, sem se ater às demais possibilidades que a narrativa apresentada poderia alcançar.
Um homem sem o filho caçula, um garoto sem o irmão mais velho. Os dois se juntam na dor que sentem e, unidos pelo destino, encontram um no outro a força suficiente para seguirem adiante. A premissa, curiosa pela similaridade invertida destes trajetos, vai aos poucos se esvaindo através de uma trama carregada, conduzida sem muitas sutilezas por um cineasta mais interessado na acusar e expor do que na troca de opiniões. Assim como em O Jovem Ahmed (2019), dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, Al-Shafaq também insere o elemento religioso como perigoso e doentio, ainda mais quando imposto à força em mentes mais frágeis. Também em comum, os dois filmes fazem do islamismo a causa de todos os males desse mundo, sem se preocupar em oferecer um outro lado à questão.
Burak (Ismail Can Metin), não mais do que um adolescente, é apresentado como responsável por todas as preocupações do casal Abdullah (Kida Khodr Ramadan, de Desconhecido, 2011) e Emine (Beren Tuna, parceira habitual do diretor). E isso porque não passa seus dias rezando como o pai ou o irmão mais velho. Veja bem, não que seja rebelde contra a religião. Frequenta os encontros ao lado dos familiares, cumpre suas rezas e procura se ater às diretrizes do Alcorão quando em público. Mas, assim como qualquer outro jovem da sua idade, também gosta de flertar com as garotas, sair com os amigos e frequentar festas. Motivos mais do que suficientes para ser constantemente tratado com desrespeito pelo pai – que não consegue conversar com o garoto, apenas grita e reclama. Tudo muda, no entanto, quando o patriarca entrega o menino a uma figura eminente na comunidade, que promete oferecer emprego e ocupação ao rapaz.
Malik (Ahmed Kour Abdo), por sua vez, mesmo com muito a se preocupar, consegue usufruir da juventude que lhe abate e, por isso, demonstra mais atenção ao imediato do que ao que está por vir. Na pequena aldeia onde mora com a família, é levado pelo irmão quando milícias atacam o lugar e os dois conseguem escapar com vida. Conseguem abrigo em um acampamento, mas lá um bombardeio termina por selar o destino do único parente que ainda tinha vivo. Agora, sozinho, parece desejar trocar de lugar com o canário que, dentro da gaiola, não pode mais voar, mas também está seguro e sem maiores complicações. No mesmo hospital onde é levado, encontra Abdullah. Este, após tanto fechar os olhos, termina por perder o filho para uma célula terrorista.
“Religião é muito mais do que cumprir os horários das rezas e atender ao que dizem as escrituras”, um deles chega a dizer. Mas não se refere a fazer o bem, e sim, em partir para ações violentas, como se fosse chegado o momento de não mais esperar, e começar a agir. Em Al-Shafaq: Quando o Céu se Divide, essa separação não se dá pelo que de bom a fé pode agregar ao homem, mas por tudo de ruim que essa mesma crença pode conter quando não trabalhada com cuidado e discernimento. Um pai em busca de um filho, um filho em busca de um pai. É tudo tão esquemático, que nem a suposta emoção de um encontro ao acaso consegue surtir efeito. “No nosso país ninguém fica desamparado”, afirma o motorista de táxi, em uma rua repleta de miseráveis. É essa mesma cegueira que permeia o filme de Esen Isik, ciente da importância da denúncia que tem em mãos, mas incapaz de torná-la atraente aos olhos mais críticos.
Filme visto como parte da cobertura da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2020
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Chico Fireman | 4 |
MÉDIA | 4 |
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