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Sinopse

Camille e Sullivan se separam quando o rapaz decide passar um ano viajando pela América do Sul. Ela, com apenas 15 anos, sobrevive das cartas que recebe, até que essas não chegam mais. Quatro anos depois, se tornou uma estudante de arquitetura dedicada não só aos estudos, mas também a seu novo amor, o famoso arquiteto Lorenz. Quando o ex-namorado cruza seu caminho de novo, a jovem fica com o coração dividido entre os dois homens que ama.

Crítica

De uns anos para a cá a produção cinematográfica francesa tem ganho cada vez mais destaque nos cinemas brasileiros. Se antes chegava-se a esperar anos para conferir somente os títulos mais badalados na França, agora em questões de poucos meses eles já se encontram em exibição por aqui, e em muito maior número. Isso, obviamente, tem o lado bom e o ruim. Essa proliferação é importante porque temos a oportunidade de conferir mais de perto o que de novo está surgindo, sem maiores atrasos. Mas é importante diferenciar o joio do trigo e identificar o que é excelente e o que não mereceria tanta atenção. Como esse Adeus, Primeiro Amor, uma obra interessante, mas nada em demasia. É o tipo de filme que nos esforçamos para apreciar do início ao fim, em busca de algum ponto forte para se fixar. Mas estes inexistem em quantidade suficiente, e no término tudo o que nos resta é um grande alívio.

Escrito e dirigido pela jovem Mia Hansen-Love, que apesar dos 30 anos já está em seu terceiro longa-metragem, Adeus, Primeiro Amor é um retrato típico de uma paixão adolescente, porém visto por um viés europeu e intencionalmente intelectual. Aqui tudo adquire proporções mais densas, eternas, carregadas. Os protagonistas possuem apenas 15 e 17 anos, mas a impressão que temos é que seus destinos estão sendo decididos a cada conversa. O que, obviamente, não é o caso.

Camille (Lola Créton) é uma garota vivendo com uma entrega absoluta sua primeira paixão. Ela acorda pensando em Sullivan (Sebastian Urzendowsky, ator alemão visto no oscarizado Os Falsários, 2007) e é com ele em mente que pega no sono diariamente. Escola, família, amigos: nada disso parece importar se ele não estiver por perto. O garoto, por outro lado, obviamente não aguenta tamanha pressão e decide dar um tempo, partindo com amigos numa viagem de um ano pela América do Sul. O que passa neste momento? Após dias, semanas, meses e até anos achando que tudo estaria perdido e desejando morrer, o inevitável prevalece: a vida simplesmente continua. E a menina vira mulher, arruma uma profissão e, é claro, um novo amor. Neste ponto, porém, acontece a previsível reviravolta: a antiga paixão reaparece. E agora, o que ela irá fazer? Todo aquele tempo fará alguma diferença ou a jovem ingênua e exagerada de anos atrás ainda existirá dentro dela?

A despeito dos bons desempenhos dos protagonistas e dos lindos cenários a que somos apresentados, tanto em Paris – uma capital urbana e apaixonante – como no interior do país – vivo, colorido, vibrante – Adeus, Primeiro Amor possui mais defeitos do que qualidades. A edição arrastada e a extensa duração talvez sejam os maiores deslizes. Perde-se muito tempo para se dizer tão pouco. Claro que o foco da realizadora não está apenas nos eventos em si e que seu objetivo é provocar o mesmo estado de apatia da personagem no espectador, mas extrapola-se esta intenção anestesiando a plateia de forma irreversível. A partir daí é impossível reconquistar a audiência. E tudo se perde num discurso repetitivo e sem novidades.

Assim como nos Estados Unidos ou no Brasil, na França também se produz muito. E como bem sabemos, quantidade não é sinônimo de qualidade. Tendo isso em mente, toda generalização será mais facilmente evitada, e um tropeço como este pouco significará diante um contexto muito maior. Adeus, Primeiro Amor é recomendado somente aos francófilos mais devotos. E mesmo estes pensarão duas vezes antes de partir para a defesa desta obra com maior fervor. É um filme curioso, com um olhar diferenciado. E nada além disso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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