Crítica
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Sinopse
Steve Zissou é um oceanógrafo que jura vingança contra o tubarão que devorou um dos integrantes de sua tripulação. Nessa aventura acompanhado de duas figuras peculiares, ele descobre várias pistas contidas no passado.
Crítica
O diretor Wes Anderson faz parte de uma geração de cineastas norte-americanos que despontaram no cinema independente com obras criativas e originais e, aos poucos, foram cooptados para o esquema hollywoodiano. Nomes como Paul Thomas Anderson, Alexander Payne e Spike Jonze são alguns dos profissionais que surgiram nesta mesma onda. Mas, se comparados a Anderson, estes citados tiveram mais sorte – ou maior aptidão – tanto junto ao público quanto com a crítica em suas opções. P.T. Anderson foi premiado em Berlim com Magnólia (1999), Payne já ganhou dois Oscars e Jonze acabou de conquistar sua estatueta dourada com o poético Ela (2013). Já Wes vinha num crescente em sua carreira, desde Pura Adrenalina (1996), passando pelo simpático Três é Demais (1998) até chegar ao irrepreensível – e extremamente interessante – Os Excêntricos Tenenbaums (2001). Diante essa jornada, é quase impossível esconder a frustração ao se assistir ao seu trabalho seguinte, A Vida Marinha com Steve Zissou, um filme que promete muito e entrega pouco.
Inspirado na vida do pesquisador Jacques Costeau (1910-1997), de quem o cineasta era admirador, este longa não é um documentário, como muitos chegaram a pensar na época do seu lançamento. Trata-se, na verdade, de uma história de ficção que conta a obsessão de um cineasta estudioso do mundo marinho (Bill Murray, com a expressão de tédio que já virou sua marca característica) em capturar o famoso “tubarão-jaguar”, um espécime raro que foi responsável pela morte do seu antigo companheiro – e melhor amigo. Este também promete ser seu último filme, um épico cinematográfico realizado com a intenção de recuperar sua autoestima e revitalizar seu crédito financeiro, em baixa desde seu mais recente fracasso nas telas. As complicações começam a surgir quando três eventos acontecem simultaneamente: um filho ilegítimo (Owen Wilson, parceiro habitual do diretor) aparece, uma jornalista (Cate Blanchett, a melhor em cena, grávida e com uma voz irreconhecível) resolve ir junto na expedição para realizar uma reportagem, e a esposa (Anjelica Huston, sempre uma presença forte e vibrante) e financiadora dos seus projetos decide abandoná-lo por não suportar mais suas loucuras.
Como se pode perceber, o centro da discussão aqui são as contradições de um gênio incompreendido. Tanto Steve Zissou quanto Wes Anderson parecem não saber ao certo o que querem, seja por insegurança, excesso de genialidade ou falta de um rumo seguro. O humor é complicado, por demais non sense, possibilitando que somente poucos iniciados consigam decifrar as relações por trás de cada sentença. Percebe-se que há algo pulsante velado por trás das ações, mas isso nunca chega a ser questionado com uma maior clareza, permanecendo obscuro até para os mais curiosos. Sem comunicabilidade, A Vida Marinha com Steve Zissou é um filme que não atinge seu objetivo de transcender a película e se firmar como entretenimento e arte, restringindo-se a um círculo limitado como uma piada privada.
Se a participação do brasileiro Seu Jorge significou uma curiosidade a mais para o público nacional, o que se vê em cena é uma presença insignificante – um desperdício para quem conhece suas atuações no cinema nacional. Ele, no entanto, consegue um maior destaque na composição da trilha sonora, ao interpretar clássicos de David Bowie em português. No demais, o estilo arrastado do roteiro, os efeitos especiais deslocados e uma fotografia monocromática impedem uma identificação mais profunda com eventuais méritos que a obra possa conter. A Vida Marinha com Steve Zissou é um projeto autoral que merece respeito, mas sua realização ficou muito aquém de qualquer expectativa que o projeto possa ter suscitado. Seja pelos talentos envolvidos, seja pelo potencial apresentado por sua premissa.
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