Crítica


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Sinopse

Três irmãs têm dificuldades enormes para encontrar a felicidade depois de passar por crises traumatizantes.

Crítica

Todd Solondz. Para quem conhece o diretor norte-americano, a dualidade do “ame ou odeie” se aciona e causa impacto apenas com a leitura do nome do diretor. Solondz faz cinema crítico disfarçado de imparcial, carregado de simbolismos e argumentos dos mais válidos e ácidos quando se aponta o dedo para a sociedade contemporânea – não apenas a dos Estados Unidos, já que seus filmes poderiam ser passados em muitos outros países, inclusive no Brasil.

Em A Vida Durante a Guerra o diretor retoma o enredo de Felicidade (1998), filme que apresentava um núcleo familiar disfuncional e uma série de outros personagens que se relacionam com cada um de seus integrantes. Com um elenco inteiramente diferente, esse longa posterior coloca uma lupa na realidade de cada uma dessas pessoas dez anos depois – e o resultado não é dos mais animadores ou otimistas, como já se espera do cinema de Solondz. Sempre econômico nos recursos estéticos e técnicos, o realizador busca com sua composição visual a representação de uma sociedade imaculada e limpa, que beira à perfeição. Quando se aproxima de cada residência de fachada impecável, no entanto, é justamente o oposto que se enxerga. Em grande parte da trama, Solondz salienta sua economia inserindo apenas dois personagens em cena com um longo diálogo, daqueles cheios de referências e menções que somente ouvidos atentos notarão.

Mais uma vez temos Joy como protagonista, que mesmo afundada em desgraças acredita em um futuro no mínimo aceitável para sua vida – ainda que Andy e Allen contribuam justamente para que o oposto aconteça. Com mesmo destaque no filme está sua irmã, Trish, que ignora completamente o passado traumático causado pelo seu ex-marido pedófilo e segue procurando por uma normalidade irreal ao lado de seus filhos – dos quais se destaca Timmy, com a importância que Billy, seu irmão mais velho, teve em Felicidade. Sem Philip Seymour Hoffman, Jon Lovitz, Jane Adams ou Dylan Baker, Solondz poderia ter um problema grande com seu elenco em A Vida Durante a Guerra, o que não acontece pelas ótimas performances entregues por atores como Shirley Henderson, Allison Janney e Ciarán Hinds. A troca de elenco funciona também para distanciar ainda mais o filme de Felicidade, tornando este um longa independente da obra dos anos 1990. Todas as relações com o trabalho anterior são óbvias e, sim, se trata de uma sequência, mas não existem impedimentos para que esta produção seja assistida sem que se conheça a obra que lhe deu origem.

Com o humor bastante particular de seu cinema, Todd Solondz coloca o dedo na ferida de uma sociedade que só procura a normalidade vendida pelos veículos de massa e que se reproduz abraçada a um conformismo quase absurdo. Assim como em todos os seus outros filmes, o diretor apresenta argumentos que podem causar tudo aos seus espectadores, menos a indiferença.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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