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Sinopse

Ao se distanciar de seu pai, um jovem se aproxima de seu avô. Logo o rapaz se apaixona por uma garota misteriosa, mas o relacionamento deles não dá certo. As tentativas de se reaproximar do pai acontecem no cabaré Eldorado.

Crítica

Vinte e quatro anos separam Eu sei que vou te Amar (1986) de A Suprema Felicidade (2010) e a certeza de que Arnaldo Jabor poderia ter feito melhor. Diretor constantemente presente na cinematografia brasileira desde meados dos anos 60, Jabor escolheu não voltar sozinho. Trouxe consigo às telas a beleza e a nostalgia de uma Rio de Janeiro pós-guerra, distante e inimaginável, praticamente mítica. A cidade que foi por muito tempo sinônimo da cultura do país merece o lugar privilegiado que ocupa, não deslocada como mero pano de fundo para acompanharmos o crescimento do menino Paulinho, mas dividindo com este o protagonismo da história. Se como homenagem A Suprema Felicidade consegue ser tocante e sair-se bem em passagens isoladas, enquanto conjunto, as memórias do diretor não parecem suficientes para preencher a trama a ponto de dar a coesão necessária e o ritmo merecido.

O fio-condutor de toda a história é Paulinho, o qual seguimos dos 8 aos 19 anos e serve de ilustração para explicar o significado de ser adolescente naquele início de século. É um ótimo contraste, diga-se de passagem, para com o mundo adolescente de filmes como Antes que o Mundo Acabe (2009), As Melhores Coisas do Mundo (2009) e Os Famosos e os Duendes da Morte (2009).

Filho único, neto de avô músico, pai aviador e mãe dona-de-casa, Paulinho aprende pouco a pouco o significado da vida. Na primeira cena, seus pais fazem amor – amor que o protagonista perseguirá insistentemente durante toda a projeção – e, assustado, encobre a cabeça com o travesseiro. Mais tarde, sua mãe irrompe em seu quarto avisando-lhe que a guerra havia terminado. O medo do sexo, a comemoração da vida – representada de forma muito competente e vibrante pelo personagem de Marco Nanini – o peso de uma educação eminentemente religiosa e  a falência do casamento dos pais são reflexos que marcam intensamente a aprendizagem. O diretor acerta em preferir abordar com humor a julgar severamente as atitudes e escolhas que a época exigia. Não é o falso moralismo que impera em A Suprema Felicidade, mas a livre “dissertação” sobre uma conjuntura.

Mesmo com qualidades, o filme de Jabor evolui com muita dificuldade. Temos a repetida sensação de que não se consegue escolher entre o que é essencial e o que é acessório para a representação. A chegada do Carnaval e a morte de uma prostituta, por exemplo, servem melhor como efeito estético – uma teatralização ingênua que pretende dizer "ah, como éramos felizes!" – que como informação ou incremento psicológico às angústias do protagonista. Some-se a isso a narrativa não-linear e mal encadeada, por vezes vislumbrada consigo própria, e a falta de foco em A Suprema Felicidade está anunciada. Não é impossível que a montagem tenha sofrido com o excesso de material capturado e isso tenha levado, na busca de unidade e de não estender a duração do filme, a uma pulverização de breves momentos em detrimento de sequência dramáticas mais consistentes. O que é, no mínimo, uma lástima, visto que atores como Dan Stulbach e Marco Nanini – que estão muito bem – poderiam estar ainda melhor. O ar de vazio que fica ao final da projeção poderia ter sido um bom sinal, caso não correspondesse mais ao desapontamento pelo filme que vimos perder-se por aí que pela Rio de Janeiro imaculada que despede-se nos suaves passos de um samba.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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