 
            Crítica
Leitores
Sinopse
Em A Sogra Perfeita 2, independente e bem-sucedida, a cabeleireira e empresária Neide está feliz da vida, curtindo sua liberdade depois que os filhos saíram de casa. Sua paz acaba no dia em que é pedida em casamento por Oliveira, seu namorado português. Neide não aceita, mas, quando se dá conta, toda a vizinhança do bairro de Vila Cleide já está sabendo que vai ter casamento. Comédia.
Crítica
Um dos sinais de que o cinema nacional, enfim, está sendo visto como uma indústria, geradora de empregos e dividendos, preocupada, sim, com ambições artísticas, porém sem esquecer os custos envolvidos e a necessidade de retorno que estes investimentos demandam, é a existência de sequências e continuações. Tais produções praticamente inexistiam por aqui até a virada do século XXI. Títulos como Menino Maluquinho 2: A Aventura (1998), de Fernando Meirelles e Fabrizia Pinto, eram raridades. Porém, de uns tempos para cá, o bom retorno do público tem possibilitado esse tipo de projeto, combinando o desenvolvimento de histórias em eventuais desdobramentos com um agrado à audiência quando essa demonstra apreço por certos personagens e/ou tramas. Cacau Protásio, um dos atuais fenômenos de audiência nas bilheterias brasileiras, conta na sua filmografia com outros trabalhos que se encaixam nessa proposta – Vai Que Cola 2: O Começo (2019) e Os Farofeiros 2 (2024) – mas sempre como coadjuvante. A Sogra Perfeita 2, portanto, é sua primeira oportunidade como protagonista em dar uma sobrevida a um tipo pensado especialmente para ela. E assim o faz, com tudo de bom – e de mal – que isso possa representar.
Neide (Protásio, à vontade como essa mulher dona de si, que ao mesmo tempo em que cuida do próprio nariz, não esquece de sua feminilidade e do seu feminismo) é uma figura feita sob medida para o talento da atriz. Se em A Sogra Perfeita (2020) era ela a personagem-título em um enredo-coral, com diferentes núcleos narrativos, a mesma ideia se repete dessa vez, ainda que haja um leve desvio de foco. Sim, pois de mãe do noivo, agora é ela que tem sua mão pedida em casamento. Após sofrer da síndrome do ninho vazio, com os filhos já fora de casa e levando uma vida recém-descoberta como independente e sem amarras, ela tem demonstrado apreço pela não exigência de compromissos e obrigações. O namorado, o português Oliveira (Marcelo Laham), no entanto, pensa diferente. Ele quer se casar, morar junto, levar uma vida a dois. Só que ela não está pronta para mais uma mudança radical. E se o embate entre os dois já é forte o suficiente para abalar as estruturas do relacionamento, a situação fica ainda mais grave com a chegada daquela que assume o controle dos acontecimentos a partir de então: Dona Oliveira, a nova sogra em questão, papel que será levado adiante com gosto e dedicação por Fafy Siqueira, artista que já participou de clássicos como Romance da Empregada (1988), mas que desde sua personificação como a inesquecível Dercy Gonçalves na minissérie Dercy de Verdade (2012) não recebia uma oportunidade de explorar outros vieses do seu talento.

No retrato de uma legítima mãe portuguesa, protetora e ciumenta, Siqueira ganha reforço por ter ao seu lado um representante da terrinha: o português de nascença Ricardo Pereira, aqui como Segundinho, o filho caçula – e irmão de Oliveira – que vem visitá-lo na companhia da mãe, ambos na expectativa por uma festa de casamento. O imbróglio está posto, e se o dilema parece se resumir à protagonista aceitar ou não ao pedido que lhe foi feito sobre juntar os trapinhos com o namorado de anos, felizmente o roteiro escrito a quatro mãos por Flavia Guimarães e Bia Crespo (a mesma dupla do primeiro filme) guarda na manga outros conflitos. O principal é a disputa pela Tesoura de Ouro, o troféu dado ao melhor salão de beleza de São Paulo. Neide está na disputa, assim como sua discípula, Sheila (Evelyn Castro, um tom acima do resto do elenco, exagerando nas caras e nas caretas), e o arqui-inimigo de ambas, o esnobe Richard Lambert (Luis Miranda, em mais uma transformação que o deixa próximo daquilo que se acostumou entregar ao seu público cativo, abandonando qualquer esforço por uma eventual versatilidade).
Quem irá ganhar ou não a cobiçada premiação é de menos. Agentes duplos, espiãs infiltradas e fake news facilmente desvendadas compõem uma subtrama que serve apenas para manter o interesse naquelas no centro das atenções, uma vez que seu desfecho não chega a causar maiores impactos. O mesmo pode ser dito sobre o forçado suspense a respeito da resposta de Neide ao pedido de Oliveira – se o próprio título do filme já adianta o que irá acontecer, não chega, portanto, a se configurar um mistério a ser levado a sério. Mas A Sogra Perfeita 2 se mostra válido por outros motivos. E estes dizem respeito à solidez de Cacau Protásio como responsável pelo sucesso dessa empreitada, os nomes que agrega ao seu redor e à vontade que ela, ao lado das diretoras Cris D’Amato e Bianca Paranhos (essa estreando na função após ter trabalhado como assistente de Felipe Joffily e Roberto Santucci, entre outros), demonstram em elaborar um cinema feito por mulheres e levado adiante com elas à frente dos acontecimentos, mas que ao mesmo tempo não se resume a apenas essa parcela da audiência, confirmando genuína vontade de ampliar o discurso. Por isso, feito impresso em sua narrativa simples, mas não simplória, o conjunto ganha pontos suficientes para se validar, tanto como entretenimento ligeiro, como opção e estratégia de indústria.
PAPO DE CINEMA NO YOUTUBE
E que tal dar uma conferida no nosso canal? Assim, você não perde nenhuma discussão sobre novos filmes, clássicos, séries e festivais!
 
		 
		Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- Sonhos - 30 de outubro de 2025
- Springsteen: Salve-me do Desconhecido - 30 de outubro de 2025
- Terror em Shelby Oaks - 30 de outubro de 2025
Grade crítica
| Crítico | Nota | 
|---|---|
| Robledo Milani | 6 | 
| Alysson Oliveira | 2 | 
| Francisco Carbone | 3 | 
| MÉDIA | 3.7 | 
 
 
 
				
Deixe um comentário