Crítica
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Sinopse
Em A Senhora Da Van, a senhora Shepherd estacionou sua van “temporariamente” em frente à garagem de Alan, em Londres, na Inglaterra, e lá morou por aproximadamente 15 anos.
Crítica
Miss Shepherd é uma dama de idade já bem avançada, que há um bom tempo deveria ter desistido de dirigir – ou, ao menos, ido renovar sua licença de habilitação e se adaptado a sua condição etária, como com o uso de óculos mais apropriados, por exemplo. Mas seu orgulho lhe impede de se submeter a tal tipo de teste. Tanto que, quando comete um acidente de trânsito, prefere fugir e mudar radicalmente seu estilo de ser do que se colocar a dispor do braço forte da lei – ou do que ela imagina serem as responsabilidades às quais deveria se submeter. A incrível história que passou a viver a partir deste momento e o quanto suas decisões um tanto desequilibradas acabaram afetando a vida do pacato Alan Bennett, um recluso e solitário escritor de peças de teatro, compõem o centro da trama de A Senhora da Van.
A primeira coisa que chama atenção neste projeto é o nome de Maggie Smith à frente do elenco. A lendária dama da Realeza Britânica, vencedora de dois Oscars, há um bom tempo havia se contentado com papéis de destaque na televisão (a série Downton Abbey, 2010-2016, por exemplo, lhe rendeu um Globo de Ouro, dois Emmys e um prêmio do Screen Actors Guild) ou com participações de luxo em projetos milionários (como a saga Harry Potter). Por isso, é um imenso prazer vê-la no domínio absoluto dessa personagem tão rica em possibilidades de leitura, dona de peculiaridades bastante sintomáticas de sua condição e do limitado universo que a envolve – a van do título, tudo que consegue agrupar ao seu redor dentro do automóvel e o pouco que lhe oferecem por onde passa. Tem-se aqui uma pessoa literalmente parada no tempo, cuja única ponte com o universo exterior, seja ele figurado ou não, estará na mão amiga que lhe será estendida pelo único disposto a lhe dar algum tipo de abrigo.
Acostumada a tipos repletos de fleuma e glamour, Maggie Smith – em performance indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta – despe-se desses adereços para compor uma protagonista que é o exato oposto disso, sem nunca, no entanto, abrir mão de sua aristocracia inerente. Miss Shepherd é uma procurada pela polícia – ou assim ela acredita ser – que decide passar o resto dos seus dias dentro do carro que conduzia, morando nas ruas e escondendo-se de qualquer estranho que dela se aproximar. Naturalmente, e para isso conta muito o fato de estarmos diante de um filme britânico, os elementos depreciativos dessa condição não são ignorados: ou seja, ela fede, tem mau hálito e sua presença, à princípio encarada com curiosidade, logo se transforma em incômodo para a vizinhança. Quando Bennett (interpretado por Alex Jennings, de A Rainha, 2006, com tanta propriedade que, por muito pouco, não imaginamos ser o próprio autor em cena) decide permitir que ela se hospede na entrada de sua garagem, o que era para ser algo passageiro se torna uma constância por anos. Uma relação, portanto, que tinha tudo para ser passageira, mas irá alterar a vida de ambos para sempre.
É curioso observar o carinho que o diretor Nicholas Hytner (As Bruxas de Salém, 1996) tem por seus personagens. Miss Shepherd nunca é tratada com escárnio, e nem Bennett é visto como se fosse um coitado – para isso, é claro, conta muito o fato do roteiro ter sido escrito por Alan Bennett em pessoa, uma vez que esse episódio de fato aconteceu em sua vida real. Porém, muito pouco aqui é romanceado. Seus conflitos internos – muito bem representados em tela – e os dramas que vivia com a mãe ou com amantes eventuais ganham tratamento respeitoso, assim como sua companheira de endereço é vista mais como uma figura excêntrica do que uma mera maluca que foi chegando de mansinho e tomando conta de sua vida – ainda que, de uma forma ou de outra, tenha sido exatamente isso que ela acabou fazendo. Afinal, em última instância, tem-se um conto sobre duas pessoas que aprendem a lidar uma com a outra diante as condições mais inesperadas. Algo muito simples que, felizmente, nunca é tratado de modo simplista.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Chico Fireman | 5 |
Alex Gonçalves | 4 |
MÉDIA | 3 |
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