Crítica

Desde o sucesso de Invocação do Mal (2013), filmes sobre espíritos malignos que tomam posse dos vivos voltaram a encher as telas dos cinemas como um ninho de formigas. É claro, quantidade não significa qualidade, e a maioria destas produções ou é de péssimo gosto ou cai no divertimento fácil e esquecível, fugindo muito da excelência do filme já citado. A Possessão do Mal não é um longa ruim e garante bons sustos, mas no fim das contas parece ser mais um exemplar do gênero, apesar de alguns aspectos interessantes.

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Na trama, Michael King (Shane Johnson) é um cético documentarista que não tem afeição por nenhuma religião ou qualquer doutrina. Devido à felicidade que está com sua esposa e filha, pretende realizar um filme sobre sua família. A ideia é interrompida com a morte da mulher em um acidente e, para lidar com a perda, seu novo projeto é documentar experiências com rituais e misticismos para provar que não existem forças sobrenaturais. É claro que algo dá errado no caminho.

Utilizando um recurso já um tanto desgastado nos últimos anos pelas produções de terror hollywoodianas, o filme mescla falso documentário, câmera na mão e found footage para contar este quase monólogo do protagonista que, ainda bem, segura bem as pontas em sua atuação, que vai do descrente e triste homem que perdeu a esposa até o desesperado possuído que quer se livrar das vozes em sua cabeça. E os recursos do roteiro até a chegada do tal "ser demoníaco" são interessantes. Michael entrevista a cartomante que teria dado esperanças falsas para sua mulher, um padre à beira da morte que fala alguns segredos sobre exorcimo e igreja católica, um casal de satanistas que realiza magia negra e até um agente funerário que faz rituais de necromancia no cemitério.

O roteiro tem uma boa sacada ao não querer explicar em qual destas experiências do protagonista ele acabou possuído, deixando para o espectador esta tarefa de adivinhação. Fica melhor ainda pois aposta mais no psicológico perturbado do personagem e menos nas aparições sobrenaturais. Não pense que você vai ver espíritos vagando pra lá e pra cá, a concentração toda fica nas vozes que o personagem principal ouve em sua cabeça. Consequentemente, nos atos que ele comete a partir disto.

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Com curta duração (cerca de 80 minutos), A Possessão do Mal garante cenas de terror interessantes e mortes chocantes, ainda que o final seja mais do que esperado. O filme ainda tenta, em alguns momentos, apelar para o lado emocional - afinal, o que uma perda familiar pode causar em alguém? -, mas não espera nada muito profundo a respeito disso. O longa é uma produção escapista e de entretenimento que não deve ser muito lembrada ao longo dos anos, apesar de cumprir o que promete. Ainda assim, ganha alguns pontos extras por aproveitar os clichês para brincar com a história.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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