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Sinopse

Rainer Wenger é um professor de colegial que, ministrando um curso sobre autocracia, realiza um experimento com os alunos, que não acreditam que uma nova ditadura possa surgir na Alemanha. Rainer propõe que os estudantes instituam um grupo entre si, para que ele possa mostrar na prática como funciona esse sistema, e como é possível manipular a população.

Crítica

O cinema alemão contemporâneo parece carregar certa preocupação já há considerável tempo, demonstrando a partir de filmes políticos reconhecer o que o país causou ao mundo, por meio de sua administração governamental, durante parte do século passado. Obras como Adeus, Lênin! (2003), Edukators (2003) e A Vida dos Outros (2006) justificam tal afirmação, assim como A Onda, filme que se une ao segmento supracitado que, além de agregar mérito à cinematografia alemã recente, serve como base para análises sociológicas muito pertinentes a questões nem sempre levantadas.

A Onda se inicia com uma informação que pode impressionar quem conhece previamente o tema do filme: é baseado em fatos. Nele, o professor Rainer Wenger deve trabalhar com seus alunos a autocracia, embora estivesse esperando a anarquia como temática para sua disciplina de curta duração. Em dúvida sobre como levantar tal assunto em aula, ainda mais quando seus alunos apresentam certo desinteresse, decide demonstrar na prática o significado da autocracia e dos mecanismos fascistas que hoje fazem parte do passado do governo alemão.

Na turma de Rainer, professor que já era admirado por seus alunos anteriormente, em parte por ser jovem e dono de estilo despojado - uma camiseta da banda Ramones é peça de seu vestuário no primeiro dia de aula, por exemplo -, o movimento começa por meio do sugerido poder pela disciplina, fazendo com que sua turma siga algumas regras a fim de se tornar obediente. Autoproclamado líder, Rainer segue alimentando o movimento com indicações, que passam cada vez mais a agradar os alunos: define um nome para o grupo (Die Welle, no original, traduzido como A Onda), um símbolo, um cumprimento e um uniforme. A partir de cada pequena imposição o professor vê suas intenções funcionando, mas não as consequências delas, já que a experiência sai da sala de aula e se torna ideologia dos jovens influenciados. O Die Welle então se torna um movimento coletivo, que termina com a individualidade e livre arbítrio dos membros em benefício à suposta ordem e união do grupo. A manifestação rapidamente se dissipa pela escola e cada vez mais alunos decidem fazer parte dela, enquanto discriminam qualquer um que não integre o movimento.

Ocorrido originalmente na Califórnia, em 1967, o experimento que deu origem ao filme foi batizado de A Terceira Onda e proposto por Ron Jones, professor de história que devia abordar o fascismo em aula. Jones optou pela experiência quando percebeu que seus alunos não compreendiam a declarada ignorância do povo alemão em relação ao extermínio de judeus, durante o regime nazista. O professor decidiu então simular em uma espécie de microcosmo social, composto por ele e seus alunos, o término da democracia para elevar o poder da unidade, enquanto seguia a máxima “força pela disciplina, força pela comunidade, força pela ação, força pelo orgulho”. A partir de uma perspectiva pessimista, A Onda funciona tanto como obra cinematográfica inteligente quanto como uma ferrenha crítica social, embora peque vez ou outra ao inserir resoluções que obviamente favorecem mais o drama que o realismo que pretende retratar. Enquanto acerta no tom com que demonstra as transformações vividas pelo personagem do professor, que fica cego pelo controle e não percebe as implicações prejudiciais de seu experimento, o filme apresenta a juventude por um viés pouco aprofundado, acrescentando personagens alguns inverossímeis que se enquadram em arquétipos recorrentemente utilizados no cinema com ambientação escolar: o esportista popular, a garota inteligente e alternativa, o jovem deslocado e incompreendido, dentre outros.

Com direção competente de Dennis Gansel, realizador que reconheceu a força da história que tinha em mãos e procurou a beneficiar com sua direção, e não se sobrepor a ela, A Onda ainda conta com um elenco que, diferentemente do Die Welle, funciona tão bem na unidade quando no coletivo. Uma boa surpresa é a performance de Jürgen Vogel, intérprete de Rainer, que não desequilibra a narrativa com excessos e apresenta desempenho bastante satisfatório. No roteiro de Peter Thorwarth e do próprio Gansel ainda se percebe a preocupação de ambos em destinarem o tempo correto de participação e destaque tanto ao núcleo adolescente quanto ao personagem do professor, o que serve para que o espectador se integre à realidade da obra em questão e sinta maior empatia e identificação para com seus personagens, assimilando as motivações de cada um para suas atitudes – mas nem sempre as compreendendo ou as aceitando.

A Onda revisita situações e levanta questionamentos que parecem distantes da realidade social de hoje para muitos, mas que são facilmente identificados, uma vez que se considere a homogeneização da população contemporânea, que segue massificada mesmo tendo a sua disposição incontáveis ferramentas que as poderia individualizar. O pensamento fabricado é realidade latente de nosso tempo e aparece no grupo de A Onda como crítica ao comportamento do jovem do novo século, facilmente influenciável, que busca a integração em grupos sociais e abnega sua liberdade individual para fazer parte de algo supostamente maior.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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