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Crítica


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Sinopse

Um suspense sobre uma jovem estudante que deixa seu país, casa e namorado para estudar arte em uma cidade francesa. Ela mora sozinha em um belo, porém sombrio e antigo apartamento, onde os quadros a encaram e as portas parecem ter vida própria. Ela está solitária, e lentamente perde-se em nostalgia e medo, fundindo sonhos, fantasia e realidade.

Crítica

O cenário: um apartamento antigo, cheio de belos quadros e silêncio. A moradora? Uma jovem estudante de arte, que se mudou do Brasil para uma pequena cidade na França, deixando família e namorado para trás. A solidão e os pequenos barulhos de um local isolado mexem com a cabeça da jovem Pérola. Ou será que existe mais do que os nossos olhos podem ver naquele ambiente? Isto é A Misteriosa Morte de Pérola, um ótimo tour de force de Guto Parente e Ticiana Augusto Lima, que assinaram a direção, o roteiro, a produção, a direção de fotografia e ainda defendem os dois únicos papéis da trama.

Este amontado de créditos não se deve a um possível totalitarismo do casal em cima de seu filme. Na verdade, os dois resolveram realizá-lo enquanto moravam na França e, por isso, a dupla precisou se envolver com todos os processos da produção. O que se vê na tela é um trabalho esmerado, cheio de boas ideias e com alguns bons sustos. A obra é curta, tem 62 minutos de duração, o que evita qualquer tipo de barriga na trama. Tudo o que vemos ali é importante para a história contada.

A Misteriosa Morte de Pérola é dividido em duas partes. A primeira tem como protagonista a personagem título, estudante de artes que começa a se assustar com algumas estranhas aparições que observa estando sozinha naquele apartamento. Existe algo de saudade do passado, um receio do porvir. Na segunda parte, encontramos um sujeito com uma câmera que vai habitar aquele mesmo apartamento. Ele grava cenas nos diferentes cômodos à procura de algo. E quando encontra o que procura, o resultado termina por ser surpreendente.

Tanto Guto quanto Ticiana não se consideram atores, mas defendem bem seus papéis. Ele aposta numa caracterização um tanto caricatural, com bigode farto e gola rolê. A câmera que seu personagem porta por todo o filme é antiga, VHS, o que agrega ainda mais estranheza àquele homem. Ticiana, por outro lado, encarna o personagem de forma mais clássica, deixando sempre à mostra o pescoço como forma de dar uma ideia de vulnerabilidade à Pérola.

Uma escolha muito feliz do casal realizador foi utilizar o som – e a falta dele – para construir a atmosfera de terror. Seja o barulho do relógio, o despertador, os rangidos da casa. Tudo isso agrega ao resultado final. E ainda que o som seja extremamente importante, o filme é ainda mais visual. Os personagens, por exemplo, quase não falam. Guto só abre a boca para rir. Ticiana fala um pouco ao telefone e solta uma interjeição ao se cortar enquanto preparava comida. E só. O resto é tudo construído com linguagem corporal, com olhares e gestos.

Existe um clima soturno bastante presente no filme e o apartamento, por mais clichê que soe, é realmente um personagem importante da produção. Uma história de amor que desafia as dimensões ou a própria morte, A Misteriosa Morte de Pérola é um belo filme de gênero, que envolve e entretém, ao mesmo tempo que busca apresentar algo de novo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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