
Crítica
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Sinopse
Em A Mensagem de Jequi, um menino quilombola do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, vive em comunhão com a natureza e sua comunidade. Ao perceber os riscos que a mineração predatória e outras ameaças do chamado “progresso” trazem à sua região, ele decide agir. Infantil.
Crítica
Diferente do que o material de divulgação pode sugerir, lembrando Pi perdido no mar ao lado do tigre, A Mensagem de Jequi não se apresenta como grande aventura, pelo menos não daquelas que tiram o fôlego. Pelo contrário, exige sensibilidade aguçada, pois a narrativa está mais nas entrelinhas e nos silêncios do que no que é dito. A obra convida o espectador a desacelerar, a mergulhar nos detalhes e na cadência do cotidiano de Jequi, valorizando cada gesto e cada som do vale que o cerca. No encanto da natureza, há muito a observar e interpretar, mas um pouco mais de abrangência nos diálogos também ajudaria a tornar a história ainda mais envolvente.
No enredo, seguimos o pequeno Jequitinhonha, apelidado de Jequi, encarnado por Kaique Santos Silva, menino que se aventura pelas águas do vale que lhe dá nome. Entre corridas, mergulhos e brincadeiras diversas, ele se apresenta quase como extensão da água que o rodeia. Jequi ama profundamente seu lugar e demonstra, mesmo sem palavras, que está pronto para protegê-lo, se necessário. A relação com a natureza não é apenas visual, mas sensorial, envolvendo cheiros, texturas e sons que transformam o ambiente em protagonista silencioso da história, reforçando a ligação íntima entre garoto e território.
Não há como negar que, para quem se dispõe a entrar no mundo de Jequi, a fotografia de Breno Conde se revela deslumbrante, com planos que mostram a grandeza e importância da natureza ali presente. A infância ainda analógica é um ponto alto, mostrando uma criança que vive sob a lei do que pode tocar, explorar e transformar, longe da lógica passiva de pequenos cada vez mais imersos em aparelhos eletrônicos. Tudo é positivo e agradável, mas pouco flerta com o risco de não mais ser como é, o que talvez aponte uma fragilidade.
A trama sugere a presença de um personagem que poderia colocar em perigo todo o ecossistema, mas tal ameaça nunca se concretiza. É um eco de perigo dentro de uma possibilidade, mantendo o longa em um campo excessivamente otimista. E se a obra mergulhasse um pouco mais no mal que ronda silencioso? E se houvesse profundidade à tensão que permanece apenas sugerida? Esse equilíbrio entre leveza e risco desperta questionamentos sobre preservação e responsabilidade, deixando a reflexão sobre os limites da inocência infantil e o cuidado com o ambiente sempre presente.
A Mensagem de Jequi possui essência silenciosa e contemplativa, não há como fugir disso. Contudo, dessa forma, não deixa marcas profundas, tampouco mensagem que poderia emergir com força, tal qual projetos de alma semelhante, como os da saga Tainá. A beleza acaba se diluindo entre gestos e silêncios. Resta, portanto, uma experiência agradável e delicada, mas de impacto limitado, que mais observa do que provoca, deixando a sensação de que algo poderia ter sido mais contundente sem perder o charme que percorre o vale.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 5 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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