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Sinopse

Durante a Segunda Guerra Mundial, uma jovem garota chamada Liesel Meminger sobrevive fora de Munique através dos livros que ela rouba. Ajudada por seu pai adotivo, ela aprende a ler e partilhar livros com seus vizinhos, incluindo um homem judeu que vive na clandestinidade.

Crítica

Inspirado no livro homônimo de Markus Zusak, A Menina que Roubava Livros é o tipo de drama infantil arquitetado para provocar lágrimas. Relata os feitos quase heroicos, quase poéticos, de uma menina que sobrevive aos escombros de uma Alemanha nazista em guerra com a Europa. No entanto, algo não funciona no filme de Brian Percival. A produção caprichada, a direção de arte cuidadosa, a fotografia calibrada e a escolha de bons atores não garantem a voltagem necessária para transformar imagens em emoção.

Com foco na tragédia familiar vivida pela garota Liesel (Sophie Nélisse), órfã de uma família comunista sob o Terceiro Reich, Percival propõe um resgate da memória histórica da classe média baixa alemã e suas dificuldades em transitar entre uma sociedade que começa a se dividir entre o apoio incondicional a Hitler e a crescente suspeita de que o novo regime paranoico do führer pode voltar-se contra os próprios cidadãos a qualquer momento, por qualquer motivo. Na trama que se desenrola balizada por um narrador onisciente, cuja identidade fica clara já na sua primeira intervenção, apesar de ser revelada apenas nos momentos finais do filme, Liesel perde mãe, pai e irmão, sendo entregue a outro casal, formado por Hans (Geoffrey Rush), um desempregado de alma leve e coração amplo, e Rosa (Emily Watson), dona de casa embrutecida que sustenta a família passando roupas.

Analfabeta, mas amante dos livros, Liesel aprende a ler com ajuda do pai adotivo ao mesmo tempo em que passa a entender as perigosas nuances do regime nazista castrador, responsável pela lavagem cerebral realizada tanto pela propaganda institucionalizada quanto pelo aliciamento comunitário direto, realizado em pequenos comícios celebrados com a ritual queima de livros proibidos – prática que assombra a garota. A difícil relação de Liesel com os novos pais, especialmente com a mãe, melhora com a chegada de Max, um jovem judeu com saúde debilitada a quem a família decide ajudar, escondendo-o no porão. A menina passa a cuidar do novo morador, lendo histórias de obras retiradas sem permissão da biblioteca do prefeito, a qual tem acesso devido à amizade com a primeira-dama.

Se no livro de Zusak a pequena Liesel surrupiava livros em diversas oportunidades, no filme o roubo ocorre uma única vez. Na verdade, ela deixa claro que apenas os pega emprestados, gerando um descompasso com o título do longa. O filme tem outras fraquezas, como o perfil pueril e mal elaborado de Max, fragilizando a problemática do judeu perseguido, e a falta de tensão nas sequências envolvendo militares, marcadas por certa inverossimilhança.

Com quase todos os elementos cinematográficos em seu devido lugar, desempenhando suas funções dentro do filme, mas ainda assim sem atingir seu objetivo de emocionar, A Menina que Roubava Livros levanta pelo menos duas questões: fórmulas perfeitas de técnica e narrativa perderam o sentido no cinema? Ou simplesmente estamos fartos de filmes sobre a Segunda Guerra?

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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