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Sinopse

Paula é a única na família Bélier que não é surda-muda, e, por isso, é quem praticamente comanda toda a organização da fazenda da família. Contudo, um conflito surge quando ela decide participar de um concurso de música.

Crítica

Ainda que se trate de uma história original, A Família Bélier tem muitos dos elementos necessários para emocionar aqueles particularmente interessados por tramas inspiradas em fatos reais. Afinal, aliado a uma sensibilidade europeia bastante característica, este filme procura recriar através de elementos ficcionais uma jornada que muito bem poderia ser a de sua protagonista, a jovem Louane Emera. A garota, que vive aqui uma personagem inusitada dona de um dom único, encontrou na atuação um modo de se aproximar de uma parcela mais ampla do público, indo além de uma mera revelação temporal. E o ato não só se revelou acertado como também muito além do esperado.

Louane Emera se tornou um nome primeiro conhecido na França ao participar de uma versão local do programa televisivo The Voice, um reality show em busca de novos talentos musicais. Pois é mais ou menos o que acontece com Paula Bélier, o papel que defende em A Família Bélier. Porém o foco se estende no filme, como o título já deixa claro. Não se trata apenas de mais uma garota que sabe cantar em busca de fama e reconhecimento. Para ela, tudo diz respeito de suas origens. Dessa vez, o diferencial serão seus pais e irmão – ou seja, as pessoas que a fizeram ser quem é. Isso é maior do que um específico talento em particular. Cantar, para Paula, é mais do que uma expressão natural. É quase um milagre. Que o diga os demais integrantes de sua família, todos surdos-mudos.

Rodolphe (François Damiens) e Gigi (Karin Viard), os pais de Paula, são, assim como o irmão, Quentin (Luca Gelberg), dependentes da menina em um grau ou outro. E ela que traduz o que está sendo dito na televisão, que serve de intérprete na venda de queijos familiar ou que faz os negócios por telefone. Porém, quando um professor frustrado de música (Eric Elmosnino, de Gainsbourg: O Homem que Amava as Mulheres, 2010) identifica seu potencial nas aulas de canto, não cansará até convencê-la a ir participar de um teste em Paris. E uma mudança como essa pode ser muito maior do que apenas algumas horas de carro do interior até a capital do país.

Se Damiens e Viard estão impressionantes como os pais – ainda mais sabendo de antemão que nenhum dos dois possui qualquer tipo de deficiência – está nos ombros da protagonista o maior prazer de se assistir ao filme A Família Bélier. É ela, com suas reações ora maduras, noutras infantis, que o espectador depositará suas esperanças por um final feliz. A paixonite que surge pelo novo colega de turma, a chance de explorar um habilidade até então desconhecida e o confronto que surge ao revelar a novidade com os demais familiares são elementos trabalhados com cuidado e bastante segurança, sem atropelo nem angústia. Tudo tem seu tempo, e acompanhá-la superando cada obstáculo é uma emoção à parte.

Paula Bélier – assim como Louane Emera – é uma jovem com um caminho e tanto pela frente. E a certeza que existe é a de que cada passo será dado como reflexo de uma personalidade em construção a partir de alicerces fortes e duradouros. Os diálogos que a menina tem com os pais – principalmente aqueles em separado, quando tanto pai quanto a mãe revelam seus medos, alguns momentaneamente maiores que o suporte incondicional que inevitavelmente cederão – mostram que o caminho pode, por vezes, ser mais valoroso que o resultado final. Chegar é bom, mas estar pronta para seguir adiante pode ser ainda mais importante. Tanto na ficção quanto na vida real.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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