Crítica

Se há dois temas aos quais Hollywood gosta de retornar eles são o do homem-contra-o-mundo e a Segunda Guerra Mundial. Não surpreende, portanto, que Simon Curtis, o mesmo diretor que apostou anteriormente em outra fixação americana - a iconoclastia -, com Marilyn Monroe (em Sete Dias com Marilyn, 2011), tenha tentado combinar ambos os temas em um único projeto.

A Dama Dourada trata da história verídica de Maria Altmann, uma austríaca que, anos depois de refugiar-se do Holocausto em Los Angeles, processa o antigo país para recuperar as obras de arte da família, confiscadas à força pelo Reich de Hitler. Roteiro de estreia de Alexi Campbell, tendo por base a temática do famoso documentário The Rape of Europe (2006), o filme apresenta uma estrutura simples, por vezes frágil e, em alguns aspectos, previsível, mas que não deixa de ser funcional e entregar corretamente a história prometida.

Assim como todos que sofrem um perda física, irreversível, Altmann procura se recuperar de uma forma simbólica. No caso de Maria, o reencontro com o passado está em preservar a memória da própria família. Fadada ao fracasso, a luta jurídica tem início quando a altivez austríaca, interpretada com força e sisudez por Helen Mirren, encontra Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), um advogado de personalidade fraca, com dificuldades de se impor na companhia para a qual trabalha. Se, por um lado, a trajetória comum, expressa em seus sobrenomes, os une, por outro, a situação acende a possibilidade de Schoenberg provar para todos, em especial para si próprio, que merece desafios maiores do que os recebidos diariamente.

A partir desse momento, a trama de Campbell leva o filme para outro caminho do gosto norte-americano - o dos tribunais. As estratégias e disputas enveredam para os réus, mas o que poderia aprofundar o enredo, no fundo acaba por demonstrar a sua fragilidade. Os trâmites e pesquisas de Schoenberg prendem a atenção do espectador de maneira apenas parcial, e a saída está em recuperar nos flashbacks a infância de Altmann em Viena.

O recurso preenche o conteúdo, mas não se sustenta em termos de dramaticidade. O desenrolar que procura demonstrar a relação entre o título do filme e à obra Gustav Klimt, Adele Bosch-Bauer, então tia de Maria, agrega cores emocionais pouco envolventes. Neste ponto, A Dama Dourada segue amparado pela qualidade técnica - da fotografia de Ross Emery e da ótima direção de arte de Jim Clay - e pelo encaixe entre Mirren e Reynolds.

O final previsível e as dificuldades de imprimir um ritmo poderiam ter conduzido o filme para um destino irrecuperável - destino de tantos outros, diga-se. Mas, A Dama Dourada prova que, entre todas as escolhas, a de uma boa história é sempre a mais acertada e segura.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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