Crítica
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Sinopse
No Vale Encantado, personagens de contos de fada vivem uma vida normal, sendo convocados para viver suas aventuras dentro dos sonhos das crianças. O único que conhece o mundo humano é Papai Noel, que o visita durante o Natal para entregar presentes, ao mesmo tempo em que impede que os outros habitantes deixem o lugar. Porém, nem todos estão felizes com o modo como as coisas funcionam e uma grande confusão acontece quando personagens reivindicam visitar o mundo humano.
Crítica
Em 1994, o cantor Oswaldo Montenegro talvez nem pensasse em ser cineasta – foi lançar seu primeiro filme como diretor, Léo e Bia, somente em 2010 – mas já flertava com outras possibilidades de explorar seu talento. Tanto que decidiu se aventurar como escritor, publicando o romance infantil O Vale Encantado. Como já era de se esperar, sua relação com a música não seria negada, e em seguida pegou o mesmo argumento e o transformou na trilha sonora que acabou sendo aproveitada para a versão teatral. Pois agora, mais de vinte anos depois, o livro chega enfim às telas em A Chave do Vale Encantado, um produto bonito, mas inegavelmente ordinário. A impressão é que, mesmo tendo se passado mais de duas décadas entre o original e sua adaptação cinematográfica, a proposta que o impulsiona segue sendo exatamente a mesma, tendo permanecido imobilizada no tempo. O resultado, portanto, é não só ingênuo, mas também ultrapassado.
O Vale Encantado é um lugar especial. Seus habitantes estão habituados e frequentar os sonhos de crianças de todo o Brasil. No entanto, pelo que se pode entender, eles são tanto os personagens dos contos de fadas, como, também, os atores que os interpretam. É mais ou menos assim: há um Príncipe Encantado, e ele pode ser chamado para a história da Branca de Neve e também para a da Rapunzel. Numa fará um papel, na outra desempenhará uma função diferente. Ainda que, nem num caso ou noutro, deixe de ser, em sua essência, o tal galã que surge no último instante para salvar as mocinhas indefesas. Assim, é possível que atuem exatamente como lhes é esperado quando convocados, ao mesmo tempo em que podem levar suas vidas individuais – como a Branca sendo apaixonada pelo Dunga, por exemplo.
Montenegro, no entanto, demonstra durante o passar dos minutos de A Chave do Vale Encantado um apreço maior pelo seu lado compositor do que como contador de histórias. Pra começar, são em torno de duas dezenas de personagens, e a forma que escolhe para introduzi-los é através de canções dedicadas a cada um deles – o excesso, como logo fica evidente, não o favorece, e além de nenhuma dessas melodias ser particularmente marcante, elas pouco tempo possuem para se tornarem memoráveis, pois rapidamente são substituídas pela seguinte. E se tal ideia poderia levar a um longa musical, aqui também se percorre apenas metade do caminho neste sentido – afinal, nenhum dos atores chega a cantar em cena, uma vez que as canções são defendidas pelo próprio autor. É para fãs, e principalmente recomendado aos mais radicais defensores do artista, que deixarão o senso crítico de lado apenas para se deixar levar por essa overdose ‘oswaldomontenegriana’.
Após dois terços do filme serem ocupados com essas tais apresentações, chega-se, enfim, ao mote da ação. Muitas dessas figuras mágicas estão insatisfeitas com a vida no Vale Encantado, e desejam conhecer o Mundo Real. Para tanto, é preciso acesso à chave que permite irem até lá, mas o dono dela é o Papai Noel, o único com permissão para transitar entre os dois espaços – e que proíbe terminantemente a ida dos demais ao outro lado. Após um embate que acaba dividindo a população do Vale, os rebeldes, liderados pelo Príncipe e a Bruxa Má, roubam o artefato e fazem a sonhada travessia. Os clichês seguem se acumulando quando se deparam com as ruas de uma grande cidade em que todos os velhos são indigentes e abandonados à própria sorte, as crianças são obedientes (?) e desprovidas de alegria e os adultos estão sempre ocupados e deprimidos. Diante de um cenário como esse, o choque é tanto que não precisarão pensar duas vezes para retornarem de onde vieram. Seria essa a mensagem, que se refugiar num universo de fantasia é mais saudável do que enfrentar a vida real em busca de uma felicidade concreta, e não apenas imaginada?
Se os cenários são bonitos e o uso das cores realmente chama a atenção, o amadorismo quase total do elenco – muitos tem pouca ou quase nenhuma experiência no cinema – há tantos outros problemas em A Chave do Vale Encantado que chega a ser complicado saber por onde começar. Mas talvez o pior seja essa visão domesticada desse mundo fantástico, com tipos como Robin Hood (uma lenda inglesa) ou Pinóquio (do italiano Carlo Collodi), enquanto que absolutamente nenhum personagem seja baseado no folclore brasileiro. Montenegro afirmou em entrevistas ter se inspirado em Monteiro Lobato, mas tudo o que consegue é uma versão pasteurizada e insípida das próprias releituras dos Estúdios Disney, porém sem a competência ou a excelência técnica comuns a estes trabalhos. Tudo é por demais gratuito, nenhum dos envolvidos oferece algo de novo se comparado às suas leituras anteriores e, no final, mesmo suas intenções parecem ser dignas de dúvidas ou inseguranças, em uma tentativa de evocar uma mensagem que não encontra respaldo no que se passa na tela. Em resumo, atira-se para todos lados, e quase nada acerta qualquer tipo de alvo.
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Li sua crítica ao filme A Chave do vale encantado, com muita atenção e tentando me inventar do fato de que sou fã desse artista plural. De fato não alguns clichês são repetidos ou simplesmente reposicionados, mas ao meu ver a obra ganha em fotografia, trilha sonora, e sim, acho genial esses personagens icônicos convivendo num vale e na perspectiva dos sonhos infantis. Aquela cena dos personagens encontrando com velhos e crianças na vida real, não aponta para o fato de que todas vivem daquele jeito, mas para a gigantesca quantidade das que vivem. Porém, penso que poderia sim haver outro desfecho, onde a única saída para os "rebeldes" fugitivos não fosse voltar pro Vale.