Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Um casal de viajantes que compartilha suas experiências mundo afora na internet chega a um novo local e é recepcionado por uma nova anfitriã que pode lhe render visualizações. Mas ela não é quem aparenta ser.

Crítica

Há propostas atrativas em A Anfitriã. As mais destacadas se encontram na raridade do protagonismo feminino da trama slasher (subgênero de filmes com assassinos psicopatas) e, principalmente, numa espécie de exame pós-moderno dos trabalhadores das redes sociais, que aqui é capaz de inverter percepções ao longo da trama. Entretanto, embora haja magnetismo na construção da angústia no enredo, o efeito talvez fosse melhor com uma antagonista mais preparada para a amedrontadora missão.

Na história, o espectador é apresentado ao casal de influenciadores digitais Claire (Sara Canning) e Teddy (Osric Chau). Sua “influência” habita no universo das viagens documentadas. Ambos constroem relações de amizade com os hosts (donos das casas de aluguel) e avaliam os locais após as estadias. É fácil familiarizar-se, considerando que qualquer pessoa que possua rede social é apresentada diariamente a este tipo de profissional. Essa conexão é habilmente assentada pela direção de arte e figurino, que constroem o design desses criadores de conteúdo (?) surgidos no início da década de 2010. O trabalho  de Teddy como “escada” para a “apresentadora” Claire, o chapéu folk de “aventureira chique” dela e as técnicas de edição para o melhor ângulo possível são alguns dos exemplos de ilustração.

Em curva descendente de visualizações e curtidas, a dupla se hospeda numa elegante casa de campo que, em suas visões, será o suficiente para reconquistar fãs e bom ranqueamento nas plataformas de vídeos. A luxuosa residência é propriedade de Rebecca (Gracie Gillam), que deixa clara suas inabilidades sociais - e tendências violentas - logo nos primeiros minutos de tela. Nesse contexto, o diretor, Brandon Christensen (Amizade Maldita, 2019), logra com a composição de antipatias, portanto, respeitando razões e proporções, não há “mocinhos”. Sendo assim, no combate entre o detestável e o aborrecível, que vença o pior.

Infelizmente, mesmo com a progressividade bem preparada até o terceiro ato, a constituição dos enfrentamentos desaponta, muito por exageros investidos pelo realizador na loucura de Rebecca, como se somente sua insanidade fosse absoluta para carregar o clima de pavor durante todo o longa. Mas a despeito destes excessos, é atraente observar como aquelas populares obviedades que as vítimas dos filmes de terror nunca percebem - o espectador sempre! - são dribladas pela excitação de Claire em “bombar” na web.

Sob o prisma do cinema de horror, a roda não é reinventada. Mas, ao menos, A Anfitriã serve como um bom objeto de estudo da era dos influencers a partir de uma perspectiva sinistra e envolvente, nos confrontando com questionamentos sobre limites éticos e consequências das escolhas motivadas pela busca da notoriedade virtual. Como resultado, temos a reimaginação da fábula grega O Jovem Pastor e o Lobo, de Esopo, adicionando camadas de tensão e suspense.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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