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Sinopse

Liderados pelo rei Leônidas, 300 espartanos deverão lutar até a morte com o numeroso exército do rei Xerxes.

Crítica

Um dos filmes mais aguardados desse início de temporada, 300 é um espetáculo visual. Apesar de ter sido concebido para ser apreciado através dos olhos, o cérebro não deve ser deixado de lado durante as duas horas de projeção. O segundo longa do diretor Zack Snyder (Madrugada dos Mortos, 2004) é esteticamente perfeito, um deslumbre visual, com a vantagem de ter massa cerebral anexada. Sim, porque apesar de ser baseado numa história em quadrinhos, essa por sua vez é inspirada num fato histórico, a Batalha de Termópilas, narrada pelo grego Herótodo e que teria acontecido por volta de 480 a.C. Ou seja, 300 combina a aparência quadrinhesca de Sin City com a cuidado de Tróia e o apuro técnico de Gladiador, mas sem aquele veracidade aborrecida de um Cartas de Iwo Jima, por exemplo. Tá bom, ou quer mais?

Claro que não é o melhor filme do ano, ainda mais chegando aos cinemas logo após termos sido bombardeados pelos concorrentes ao Oscar - uma época particularmente disputada. Mas, talvez por isso mesmo, funcione tão perfeitamente. É divertido, vertiginoso, com tomadas alucinantes e muita ação. Além disso, é lógico, compreensível, e todo o qualquer absurdo apresentado - e preparem-se, há muitos deles - fazem sentido dentro do contexto proposto. Snyder não poupou esforços para fazer do seu filme uma versão visual da hq Os 300 de Esparta, de Lynn Varley e Frank Miller (este, por sua vez, o mesmo de Sin City e do clássico O Cavaleiro das Trevas). Cada enquadramento, figurino e diálogo parece ter saído direto das páginas escritas e desenhadas pela dupla de quadrinhistas, resultando numa obra extremamente fiel, porém cinematograficamente emocionante, indicada tanto para fãs quanto para meros curiosos.

Primeiro grande lançamento de 2007, 300 abriu com impacto um ano que promete muitos blockbusters: foram mais de US$ 70 milhões só no seu primeiro final de semana em cartaz nos Estados Unidos (enquanto que o mais entusiasmado dos analistas de mercado esperava, no máximo, um valor em torno de US$ 40 milhões). Se levarmos em conta que o orçamento total do projeto foi de US$ 60 milhões, e que em menos de um mês em cartaz o filme arrecadou por lá mais de US$ 160 milhões nas bilheterias, o efeito é ainda mais positivo. Por outro lado, a crítica, geralmente receosa diante produções do gênero, foi bastante generosa, elogiando os esforços da adaptação, o bom desempenho do elenco e a competência em geral dos realizadores em entregarem ao público um assumido cine-pipoca, mas que não menospreza a inteligência do espectador, superando as melhores expectativa.

A escolha dos atores foi outra aposta acertada. Sem nenhum grande astro para atrapalhar com problemas de ego, o diretor pôde fazer o que bem quis com seus atores. Assim, os colocou para malhar incessantemente, com o propósito de ficarem iguais aos musculosos heróis do universo dos gibis. Com pouquíssimos panos - apenas uma tanga de couro e uma larga capa vermelha - eles desfilam como guerreiros imbatíveis. Gerard Butler (O Fantasma da Ópera) é o Rei Leônidas, de Esparta, na Grécia, que decide não se curvar ao superior poderio do Deus-Rei Xerxes, da Pérsia, e para se defender reúne seus trezentos melhores homens. Juntos, partem numa missão suicida, com um único objetivo: mostrar que, quando está em jogo a liberdade de um povo, nenhum preço é alto demais a ser pago.

Butler está excelente como o comandante que nunca esmorece. Ao seu lado estão exímios lutadores no combate corpo-a-corpo, e o nome de maior destaque é o de David Wenham (O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei). Curioso é perceber o brasileiro Rodrigo Santoro, que depois de pequenas participações em As Panteras Detonando e Simplesmente Amor, ganha finalmente um papel de destaque numa superprodução hollywoodiana. Ele é Xerxes, o vilão conquistador, uma figura mítica e quase sobre-humana. Para ressaltar estas características sobrenaturais, trucagens deixaram-no com três metros de altura e com uma voz gutural irreconhecível. Como leva mais de uma hora para entrar em cena, e depois de um momento de enfrentamento entre os dois combatentes possui só mais uma ou duas aparições, muitos seguirão minimizando as conquistas e os feitos dele. Porém, o pouco que mostra aqui já é mais do que qualquer ator ou atriz nacional realizou além das nossas fronteiras. Santoro ainda não é, lá fora, tão importante e popular como é aqui, mas tenha certeza: ele está no caminho certo, e 300 só vem a confirmar esta percepção.

Diferente do que se lê nos quadrinhos há apenas uma trama menor, desenvolvida para aumentar a participação feminina no filme. A rainha Gorgo, interpretada por Lena Headey (Os Irmãos Grimm), ganha mais destaque, mostrando seus esforços em Esparta, quando os homens se ausentam para a luta, em convencer o Senado a apoiar a empreitada do Rei e enviar auxílio ao combate. Contra ela está um conspirador, Theron (Dominic West, de O Sorriso da Mona Lisa), este um personagem criado especialmente para o filme. As participações deles, se no gibis corriam o risco de soar estranhas, cinematograficamente causam um bom efeito, alternando a sangreira do campo de batalha por uma outra luta obstinada, mas feita de artimanhas e estratégia. Casam-se, na tela, em perfeita harmonia, colaborando para o bom resultado da empreitada.

300 é cinema feito para as massas, e disso não há a menor dúvida. Porém é um produto acabado, com muito esmero e cuidado, evidentemente superior à mediocridade instaurada em Hollywood. Quase um filme de autor, só não totalmente devido às proporções milionárias que assumiu. Mesmo assim, funciona tanto para aqueles atrás de diversão despreocupada quanto para os em busca de algo mais trabalhado e intelectualmente intrigante. Não vai mudar a vida de ninguém nem o modo de se ver ou fazer cinema, mas certamente serve como um bom entretenimento para quem estiver neste processo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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